sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 8: CURANDO AS FERIDAS



Sitio na atual Bocaiuva, antiga Queimadas...ainda hoje com pequenas propriedades e matas "sujas" com araucarias misturadas as outras espécies. Era uma paisagem semelhante a essa que os escoteiros encontraram em dezembro de 1941. 
(Estamos no mês de dezembro de 1941. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão desde 16 de dezembro de 1941 numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 20 de dezembro de 1941, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) estão andando pelas perigosas serranias do Ribeira.)

Depois do trecho mais perigoso de Serra, os rapazes caminhavam agora pelos morros do Planalto Curitibano. Os morros mais altos já estavam cobertos por um denso nevoeiro. Era uma cena magnifica. Após a trilha de incertezas, que, segundo Lydio, foi a subida da Serra, o animo já era outro, de alegria pela vitória conquistada. 

Ao descer do Morro, os rapazes acharam a água que eles estavam precisando. Aquele riozinho, muito apropriadamente, era chamado de Rio Paraíso. Segundo Lydio, foi uma alegria total. Logo, estavam os cinco completamente pelados, tomando banho no pequeno riacho de agua fria. Neste local, Milton tirou uma foto do grupo (não se sabe se vestidos ou pelados). Infelizmente, a foto queimou ao ser revelada...

Logo depois, eles atravessavam o rio Paraiso e cruzaram um extenso trecho a facão, poia a mata ainda era muito densa. Logo depois, chegaram a uma estrada. Estavam próximos ao Rio Ribeirão Grande. 

Lídio espantou-se ao ver casas cobertas com telhas de tabuinhas. Para ele pareceu uma aldeia africana. Seguindo pela estrada alcançaram uma venda e quatro quilômetros adiante acamparam numa roça de milho. 

Uma vez armada a barraca, os rapazes se dividiram para procurar lenha e água. Outros procuraram pedras para fazer de fogão. Afinal, acenderam a lenha, e Manduca e Canário ficaram ocupados em cozinhar o milho. 

No relógio de Lydio marcava 19:30 hortas quando eles finalmente comeram o milho e tomaram uma revigorante xícara de café. Estavam tão assustados, animados e felizes que cada um fez uma prece para Deus e para Nossa Senhora do Pilar por terem vencido mais esta etapa. 

No entanto, a coisa não andou tão bem assim. As 4 horas da manhã um forte temporal com vento forte derrubou a barraca, e deixou os rapazes em apuros. Completamente ensopados, os rapazes não tiveram jeito senão levantar acampamento e seguir adianta, procurar um abrigo. 

Já estava amanhecendo quando eles alcançaram a vendo do Senhor Alderico Bandeira, onde eles, encharcados até os ossos, como anotou Lydio, acabaram por pedir guarida. 

O senhor Alderico era um prospero comerciante da região. Compadecido, mandou os rapazes entrar e trocar as roupas num como do da sua casa. No salão, ao lado do armazém, havia uma grande acumulação de sacos vazios, apetrechos de couro e mais cestos e balaios para carregar cereais. Tudo na maior desordem, segundo Lydio. Eram materiais para carregar cereais, principalmente milho. Aqui nesta zona agrícola a tração animal ainda era muito importante para o transporte de excedentes. 

Ali havia uma criação de suínos que deixou os rapazes de queixo caído. Eram porcos da raça Duroc, faixa branca e polanchin. Segundo Lydio, alguns daqueles porcos chegavam a pesar mais de 10 arrobas, ou 140 quilos! 

A chuva continuava; o senhor Alderico os convidou para tomar café com pão feito em casa. Também tinha marmelada, o que deixou os rapazes mais satisfeitos. Eles estavam no povoado de Capivari. Segundo o diário de Lydio, esta povoação não existe mais – está sob a represa do Capivari, construída na década de 60-70. 

Na venda, continuava a chover. Abrigando-se da chuva como eles, estava um senhor meio idoso, que, quando andava, coxeava de uma perna. Estava com um ferimento muito feio e antigo. Só tinha um paninho fedido enrolado na perna. Os rapazes não perderam tempo, e trocaram a bandagem do ferimento do senhor, com cuidado, removeram o pano grosseiro, e fizeram uma lavagem com água oxigenada. Depois, drenaram todo o pus e aplicaram pomada Minâncora sobre a ferida. A ferida foi envolvida com atadura de gaze e esparadrapo. O senhor ficou muito aliviado e agradeceu muito a boa vontade dos escoteiros. 

As 11:30, seu Alderico ofereceu para eles um baita almoço. Tinha feijão com arroz, galinha assada recheada, polenta frita, batatinha. Um verdadeiro banquete. O Chefe Beto fez menção de pagar pelo almoço, mas seu Alderico se recusou a receber: “Para vocês é de graça”. A chuva já estava amainando e eles tinham que seguir viagem.

2 comentários: