à esquerda, o escoteiro Caio Martins (1923-1938); a esquerda, a estatua em sua homenagem, erigida em setembro de 1941, e visitada pelos escoteiros antoninenses em 1942 |
(Estamos no mês de fevereiro de 1942. Enquanto o mundo está em
Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de
Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, percorreram 1250 quilômetros numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro
para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 28 de fevereiro de 1942, Beto, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca), Milton e Lydio, em meio às despedidas da Cidade Maravilhosa, vão a Niteroi conhecer a estatua de Caio Martins. Quem foi ele?)
Amanheceu com muito calor no Rio
de Janeiro, naquele 28 de fevereiro de 1942. A temporada dos escoteiros
antoninenses na cidade Maravilhosa, depois de 45 dias andando a pé 1200 quilômetros
pra chegar lá, estava terminando. As passagens de navio para a volta já estavam
compradas.
Era o tempo de se despedir. Era o
tempo de fazer um balanço de toda aquela aventura. Como fora possível viver
tudo aquilo? Como eles avaliavam tudo por que haviam passado até aquele
momento? E todo aquele Rio que passou nas vidas deles? A cabeça dos rapazes estava fervendo mais que
o calor da cidade.
Lydio nos conta em seu diário que
este foi um fevereiro que valeu por todos os fevereiros de sua vida: “mês de
calor, mar e carnaval, mês de alegria, saúde e muitas amizades”. Quem poderia
pedir mais?
Era um Rio que tinha passado
pelas vidas deles todos...
Mas, faltava pouco tempo, e a
cidade estava ali, para ser explorada. os rapazes queriam mais. Eles pegaram as
barcas e foram finalmente conhecer a bela Niterói, então capital do Estado do
Rio de Janeiro.
Lá, eles queriam conhecer o
estádio Caio Martins, mas não conseguiram, estava fechado. Uma pena. Lydio nos
conta que queria conhecer o estádio e ver a estatua de Caio Martins. Mas quem
era Caio Martins? Por quê os escoteiros pegariam as barcas para ver sua estátua?
Caio Vianna Martins (1923-1938) havia sido um
escoteiro que sofre um grave desastre ferroviário. No meio das ferragens
retorcidas, em meio aos gritos dos feridos, o jovem Caio sentiu que havia ferido
gravemente as pernas. A confusão, a poeira e os gritos deixavam todos ao redor
em choque ou em pânico.
Mas este não foi o caso do jovem
Caio. Quando os socorros chegaram, ele os recusou em nome dos feridos mais
urgentes. Muito embora estivesse sofrendo dores terríveis, ele disse aos
atendentes: “um escoteiro caminha pelas próprias pernas”. Enquanto os
atendentes foram atrás dos outros feridos, Caio Martins, com grande esforço, seguiu andando com os colegas. Ele chegou a ir para o HOtel de Barbacena, onde estavam os escoteiros.
No entanto, Caio havia perdido muito sangue.
Apesar de seu esforço ter contribuído para que outros se salvassem, ele não
teve melhor sorte, e acabou por falecer de hemoragia interna na Santa Casa de Barbacena. Um exemplo escoteiro de
desprendimento e solidariedade.
A estatua em sua homenagem, no bairro de Icaraí, em Niterói, havia sido inaugurada havia apenas seis meses, em setembro de 1941. Não foi à toa que os cinco rapazes, que haviam feito tanto esforço pessoal para chegar até ali em nome de sua cidade, se identificassem com o heroísmo do jovem Caio Martins.
A estatua em sua homenagem, no bairro de Icaraí, em Niterói, havia sido inaugurada havia apenas seis meses, em setembro de 1941. Não foi à toa que os cinco rapazes, que haviam feito tanto esforço pessoal para chegar até ali em nome de sua cidade, se identificassem com o heroísmo do jovem Caio Martins.
Eles caminharam pelas praças
centrais de Niterói e passearam pelas ruas de comercio.
Depois, Lydio, Manduca e Milton
regressaram ao Cais Pharoux, na praça XV, onde desembarcaram. Ainda deram uma
passeada pelas praças Marechal, Âncora, Tiradentes e Paris.
Neste dia, eles tiraram muitas
fotos automáticas, em cenários variados e feitas em cinco minutos. Lydio tirou
três foto e se Milton uma meia dúzia, uma diferente da outra. Momentos felizes e divertidos de uma aventura que terminava bem.
Depois, os rapazes regressaram ao Colégio
Militar. Lá, apresentaram as despedidas ao Comandante, Oscar de Araújo Fonseca.
Depois do almoço, foram para Quintino, onde se despediram da família do chefe
Francisco Pires. Canário ganhou do chefe Pires uma mochila de lona, novinha em
folha.
Ainda foram na UEB, onde
apresentaram as despedidas ao pessoal da união dos escoteiros, que os haviam
recebido tão bem.
E por último, foram a residência
do general Heitor Borges. Lá agradeceram a tudo o que ele tinha feito pelos
rapazes em sua estadia na Capital. Na hora da despedida, o general, galhofeiro,
pediu para que não voltassem pra casa a pé, mas sim de outra maneira. Os
rapazes riram e abraçaram o general. De lá, voltaram para o Colégio Militar,
para arrumar a bagagem.