O sacerdote antoninense Francisco da Costa Pinto (1865 - 1900) |
Foi no dia 19 de abril de 1900 na cidade da Lapa. Lá pelas
nove horas da noite daquele dia, o vigário da cidade, o padre Francisco da Costa
Pinto, saiu da farmácia do Sr. Olympio Westphalen em direção a sua casa. Era escuro, fazia certo frio, mas a noite era agradável. Ao atravessar a Rua da Boa Vista na diagonal, o
Padre Pinto ouviu alguém chamando: “Seu Padre, faça o favor”. Ao se voltar na
direção da voz e se dirigir em direção ao homem, Padre Pinto ouviu um forte
barulho e imediatamente sentiu um calor no peito. O homem que havia
descarregado a arma contra ele era agora um vulto correndo para a escuridão do beco. Atraídos pelo
barulho e pelo grito que o Padre soltou, os homens que ainda estavam dentro da farmácia
saíram correndo e encontraram-no banhado em sangue, mas ainda vivo e em pé. “O
que aconteceu?”, perguntou um.“Quem
foi?”, perguntou outro a sua frente. O padre mal teve tempo de dizer que não
sabia ao certo: era um mulato baixo e encorpado, vestindo um pala.
Na confusão que se segue, o padre é levado para sua casa, e
são chamados às pressas os doutores Mendes Ribeiro e João José de Carvalho. Padre Pinto, no meio de toda confusão, ainda
teve momentos de lucidez. Sem perder os sentidos, ainda disse perdoar seus
inimigos, além de pediu perdão para si mesmo, pelo mal que houvesse cometido a alguém.
O ferimento havia sido muito grande, além de grande a decorrente perda de sangue.
Logo perdeu os sentidos e veio ser dado como morto, em laudo do Dr Evangelista,
na madrugada do dia 20 de abril. Tinha 35 anos de idade.
A morte do Padre Pinto foi motivo de grande alvoroço. Sua forte
atuação na Lapa, onde fez cerrada campanha contra a Maçonaria, foi motivo de
grande polemica nos jornais da época. Politicamente, o padre estava contra o
Coronel Joaquim Lacerda, um dos baluartes do partido Republicano Federal na Lapa
e no Paraná. O Cel. Lacerda foi, junto com o General Carneiro, um dos chefes do
contingente florianista que se bateu contra os maragatos de Gumercindo Saraiva na
tomada da Lapa, na revolução federalista de 1893-94. A Lapa ainda vivia,
naqueles tempos, o sabor amargo de uma cidade dividida numa guerra Civil.
Contra tantos inimigos poderosos, não é de se estranhar a violência de sua
morte.
Nascido em Antonina em 1865, o Padre Pinto foi desde cedo um
brilhante aluno no Seminário Diocesano de São Paulo. O Seminário Diocesano, na
segunda metade do século XIX, era um ativo centro de formação de quadros para o
clero brasileiro. Poeta inspirado, bom escritor,
Padre Pinto era um espirito que adorava a discussão das idéias e a luta política.
Escreveu muito para o jornal católico A Estrella, no qual combateu com vigor a Maçonaria.
Orador vibrante, suas missas eram famosas em Curitiba, onde permaneceu logo após
ter vindo do seminário, e na Lapa, onde foi nomeado vigário em 1898. Participou
de algumas festas religiosas em Antonina e foi um dos oradores na inauguração
do mercado municipal de Antonina, ao lado de Ermelino de Leão.
O assassinato do Padre Pinto nunca foi esclarecido. Seria muito
esperar no Paraná daquela época a condenação dos assassinos de um inimigo político
das forças situacionistas. No Paraná, a cicatrização das feridas da Revolução
Federalista foi vital para a formação da classe politica até hoje dominante. A vida do Padre Pinto, suas lutas e sua morte, por
outro lado, abrem uma interessante janela para se compreender aspectos
interessantes da vida politica no Paraná e no Brasil daquele início de século.