O tuite de Macron: ontem, como hoje, a Amazonia está em chamas: qual a diferença? |
Vivemos mesmo numa época muito estranha.
Esta semana, que começou com as nuvens negras escurecendo o céu
do sudeste do Brasil, assustando a todos com as queimadas na Amazônia, terminou
com o governo Bolsonaro acuado e desdizendo-se frente a ameaça internacional.
A tragédia continua se desenrolando, agora em tom de drama,
com pinceladas de farsa. Com a reação internacional se avolumando, Bolsonaro
faz mais do mesmo. Como o moleque de 12 anos que continua sendo, não levou
desaforo pra casa. Se o xingam, ele devolve: “é a tua!”. Assim, protagonizou nestas
últimas semanas diversos bate-bocas sobre temas ambientais com representantes
de diversos países, sobretudo europeus.
O filhinho, candidato a ser diplomata, seguiu o papai, compartilhando um tuite que chamava o presidente da França de "idiota". “É a tua! Mexeu com
papai, mexeu comigo!”. Depois, diante de vozes que o chamavam a razão,
dizendo ser sua atitude incompatível com a de um pretendente a cargo de diplomata,
ele recuou, como sempre faz o papi. Não, não foi bem assim, não quis
dizer isso...
Assisti diversas manifestações da formadores de opinião na
imprensa brasileira. Da esgotosfera das redes socais nem falo, por pudor.
Outrossim, como diz um importante influencer moderno, é incrível ver as
piruetas que os setores conservadores que ainda apoiam Bolsonaro fazem para
contornar a caca que foi criada.
A imprensa alinhada a Bolsonaro passou o dia reclamando da imagem
antiga da foto que Macron colocou em seu tuite. Como que se para redimir da foto de dinamarqueses matando baleias que dias antes estava o próprio Jair atribuindo a noruegueses. Ela, a imprensa bolsonarista, repetiu as platitudes sobre o
alto grau de preservação das florestas do Brasil e atacando a mídia “globalista”.
Citam estatísticas as mais variadas para provar que o repique da destruição da
floresta não é tão grande assim.
Para começar: está certíssima Marina Silva, ao dizer que
sempre houve desmatamento e queimada na Amazônia. Não é disso que se trata. O problema,
e concordo com ela, é que estamos no limiar de um recrudescimento das ameaças a
florestas, com o apoio nada velado do poder público.
Não vai ter nenhum vídeo de Jair botando fogo na mata, como
um Nero caipira.
Entretanto, em abril deste ano, a pedido do presidente, o
governo proibiu de queimar as maquinas apreendidas aos madeireiros pelos
funcionários do IBAMA em Rondônia. Ao contrário, o próprio ministro do meio
ambiente, o condenado por crimes ambientais Ricardo Salles, se reuniu com madeireiros para dar garantias de que o governo ia
relativizar as apreensões, dando a certeza de sua impunidade.
O fiscal do IBAMA que multou Bolsonaro em 2012 foi afastado de suas funções e a multa que ele aplicou ao então deputado foi cancelada, para escárnio da lei.
O desmantelamento do aparato fiscalizatório desde janeiro é
obvio. As falas e ações de Ricardo Salles no sentido de desmontar os órgãos de fiscalização
e não punir crimes ambientais é patente. Sua determinação de “compensar”ruralistas com o dinheiro do fundo Amazônia provocou o colapso que se viu, até
que os governos de Alemanha e Noruega retiraram seus repasses.
Quando o INPE informou que o desmatamento estava aumentando,
o que o governo faz? Desmente e desacredita os dados. O presidente do INPE, Ricardo
Galvão, defende a integridade dos dados do Instituto, e é demitido.
São tantos os sinais que, mesmo não dizendo, é fácil concluir
que foi o próprio governo que incentivou o fogo na mata. O agora famoso jornal
da cidade de Novo Progresso, no Pará, reclama do descaso governamental e clama
ao presidente solução para os problemas dos fazendeiros. Numa terra sem lei,
com os fiscais manietados e amordaçados, e sem os soldados da Força Nacional que
os amparasse, os fazendeiros se sentiram livres para promover o criminoso “dia do fogo”, em 10 de agosto último. As chamas das queimadas foram detectadas
pelos satélites de todo o mundo.
Com a "segunda feira negra" no Sudeste, a grita aumentou. São Paulo
começou a entender o que acontecia com Boa Vista. O fogo e as queimadas ardiam
no coração do continente, atingindo não só o Brasil, mas também Paraguai e Bolívia.
O governo faz de conta que não é com ele. “Sensacionalismo”,rebateu Ricardo Salles. No meio de seu terraplanismo mental, Jair acusou as ONGs
de colocar fogo para incriminar o governo. “Perderam milhões, e agora podem
estar se vingando”, disse aos jornalistas.
Foi quando o mundo se postou frente a ameaça que o governo
acusou o golpe. Depois de bater boca com Macron, Bolsonaro teve que fazer um pronunciamento em rede pública de televisão para se explicar. E levar seu primeiro grande panelaço nacional. Nervoso ao ler o
teleprompter (ele tem problemas cognitivos para fazê-lo, como se sabe), foi cômico
ver Jair defendendo a "froresta" amazônica, a Lei Ambiental brasileira (“uma das mais avançadas do Mundo”,
disse ele, com a boca contraída), acusando o clima seco da estação com culpado e fazendo uma defesa pífia e nacionalisteira de uma região que meses antes ele quase oferecera de graça à Donald Trump.
A única coisa de concreto, e a única coisa que sabe fazer,
foi enviar o exército para a região (onde, exatamente?) numa operação de
garantia da lei e da ordem. Melhor seria se estivesse enviando bombeiros...
Enquanto isso, a Amazônia continua ardendo. Os conflitos
estão todos lá, com um governo reclamando do fogo (literal e metafórico) que
ele mesmo ajudou a atear. A conta da irresponsabilidade mais cedo ou mais tarde, vai chegar para todos nós, brasileiros.
Quais os planos para sair dessa enrascada? Ajuda aí, Adélio!!
[agora, é só esperar os bots (virtuais e de carne e osso) que
vão vir desqualificar algum dado ou alguém]