sábado, 24 de agosto de 2019

A AMAZONIA E A IRRESPONSABLIDADE DO GOVERNO BOLSONARO


O tuite de Macron: ontem, como hoje, a Amazonia está em chamas: qual a diferença?
Vivemos mesmo numa época muito estranha.
Esta semana, que começou com as nuvens negras escurecendo o céu do sudeste do Brasil, assustando a todos com as queimadas na Amazônia, terminou com o governo Bolsonaro acuado e desdizendo-se frente a ameaça internacional.
A tragédia continua se desenrolando, agora em tom de drama, com pinceladas de farsa. Com a reação internacional se avolumando, Bolsonaro faz mais do mesmo. Como o moleque de 12 anos que continua sendo, não levou desaforo pra casa. Se o xingam, ele devolve: “é a tua!”. Assim, protagonizou nestas últimas semanas diversos bate-bocas sobre temas ambientais com representantes de diversos países, sobretudo europeus.
O filhinho, candidato a ser diplomata, seguiu o papai, compartilhando um tuite que chamava o presidente da França de "idiota". “É a tua! Mexeu com papai, mexeu comigo!”. Depois, diante de vozes que o chamavam a razão, dizendo ser sua atitude incompatível com a de um pretendente a cargo de diplomata, ele recuou, como sempre faz o papi. Não, não foi bem assim, não quis dizer isso...
Assisti diversas manifestações da formadores de opinião na imprensa brasileira. Da esgotosfera das redes socais nem falo, por pudor. Outrossim, como diz um importante influencer moderno, é incrível ver as piruetas que os setores conservadores que ainda apoiam Bolsonaro fazem para contornar a caca que foi criada. 
A imprensa alinhada a Bolsonaro passou o dia reclamando da imagem antiga da foto que Macron colocou em seu tuite. Como que se para redimir da foto de dinamarqueses matando baleias que dias antes estava o próprio Jair  atribuindo a noruegueses. Ela, a imprensa bolsonarista, repetiu as platitudes sobre o alto grau de preservação das florestas do Brasil e atacando a mídia “globalista”. Citam estatísticas as mais variadas para provar que o repique da destruição da floresta não é tão grande assim.
Para começar: está certíssima Marina Silva, ao dizer que sempre houve desmatamento e queimada na Amazônia. Não é disso que se trata. O problema, e concordo com ela, é que estamos no limiar de um recrudescimento das ameaças a florestas, com o apoio nada velado do poder público.
Não vai ter nenhum vídeo de Jair botando fogo na mata, como um Nero caipira.
Entretanto, em abril deste ano, a pedido do presidente, o governo proibiu de queimar as maquinas apreendidas aos madeireiros pelos funcionários do IBAMA em Rondônia. Ao contrário, o próprio ministro do meio ambiente, o condenado por crimes ambientais Ricardo Salles, se reuniu com madeireiros para dar garantias de que o governo ia relativizar as apreensões, dando a certeza de sua impunidade.
O fiscal do IBAMA que multou Bolsonaro em 2012 foi afastado de suas funções e a multa que ele aplicou ao então deputado foi cancelada, para escárnio da lei.
O desmantelamento do aparato fiscalizatório desde janeiro é obvio. As falas e ações de Ricardo Salles no sentido de desmontar os órgãos de fiscalização e não punir crimes ambientais é patente. Sua determinação de “compensar”ruralistas com o dinheiro do fundo Amazônia provocou o colapso que se viu, até que os governos de Alemanha e Noruega retiraram seus repasses.
Quando o INPE informou que o desmatamento estava aumentando, o que o governo faz? Desmente e desacredita os dados. O presidente do INPE, Ricardo Galvão, defende a integridade dos dados do Instituto, e é demitido.
São tantos os sinais que, mesmo não dizendo, é fácil concluir que foi o próprio governo que incentivou o fogo na mata. O agora famoso jornal da cidade de Novo Progresso, no Pará, reclama do descaso governamental e clama ao presidente solução para os problemas dos fazendeiros. Numa terra sem lei, com os fiscais manietados e amordaçados, e sem os soldados da Força Nacional que os amparasse, os fazendeiros se sentiram livres para promover o criminoso “dia do fogo”, em 10 de agosto último. As chamas das queimadas foram detectadas pelos satélites de todo o mundo.
Com a "segunda feira negra" no Sudeste, a grita aumentou. São Paulo começou a entender o que acontecia com Boa Vista. O fogo e as queimadas ardiam no coração do continente, atingindo não só o Brasil, mas também Paraguai e Bolívia.
O governo faz de conta que não é com ele. “Sensacionalismo”,rebateu Ricardo Salles. No meio de seu terraplanismo mental, Jair acusou as ONGs de colocar fogo para incriminar o governo. “Perderam milhões, e agora podem estar se vingando”, disse aos jornalistas.
Foi quando o mundo se postou frente a ameaça que o governo acusou o golpe. Depois de bater boca com Macron, Bolsonaro teve que fazer um pronunciamento em rede pública de televisão para se explicar. E levar seu primeiro grande panelaço nacional. Nervoso ao ler o teleprompter (ele tem problemas cognitivos para fazê-lo, como se sabe), foi cômico ver Jair defendendo a "froresta" amazônica, a Lei Ambiental brasileira (“uma das mais avançadas do Mundo”, disse ele, com a boca contraída), acusando o clima seco da estação com culpado e fazendo uma defesa pífia e nacionalisteira de uma região que meses antes ele quase oferecera de graça à Donald Trump.
A única coisa de concreto, e a única coisa que sabe fazer, foi enviar o exército para a região (onde, exatamente?) numa operação de garantia da lei e da ordem. Melhor seria se estivesse enviando bombeiros...
Enquanto isso, a Amazônia continua ardendo. Os conflitos estão todos lá, com um governo reclamando do fogo (literal e metafórico) que ele mesmo ajudou a atear. A conta da irresponsabilidade mais cedo ou mais tarde, vai chegar para todos nós, brasileiros. 
Quais os planos para sair dessa enrascada? Ajuda aí, Adélio!!
[agora, é só esperar os bots (virtuais e de carne e osso) que vão vir desqualificar algum dado ou alguém]

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

A ESCURIDÃO AVANÇA (E TEM GENTE QUE NÃO QUER VER)


https://glo.bo/2MpalWZ
Está escuro lá fora. O dia passou assim, com muito vento e nebulosidade. Tudo escuro. O sol mal apareceu hoje de manhã. Por um instante eu o confundi com a Lua, mas não! Era ele, o sol, tentando escapar por entre as nuvens!
Fui correndo pegar o telefone pra fazer uma foto. Quando fui tirar as fotos, vi algumas fuligens caindo. Fuligem, pequenos pedaços carbonizados, em geral de folhas. Um dos pedaços tinha alguns centímetros de tamanho. Deve ser de algum incêndio grande por aqui por perto. Há alguns anos tinha mais fuligem, em geral folhas de cana queimada que caiam do céu. Esta fuligem diminuiu bastante depois que a fiscalização ambiental proibiu a queima da cana...fiscais do meio ambiente? O que tem a ver com o dia escuro?
Tendo o que ver, ou não, o dia inteiro passou assim: céu escuro, vento frio e ameaça de chuva. Aqui em Campinas, demora pra chover. Estamos no meio da estação seca. Só as frentes frias mais fortes passam. Hoje, as nuvens se concentravam ora num, ora noutro ponto do céu. De lá pra cá e de cá pra lá, sempre cinza escuras, ameaçadoras;
No supermercado, as luzes estavam acesas no meio da tarde. Fiz as compras pensando que estava anoitecendo, mas eram 4 da tarde. O resto do dia passou assim.
Agora à noite, quando começou uma chuvinha mais fraca, um cheiro forte de queimado tomou conta da casa. Dei uma vistoria olhando tomadas, vendo se haviam esquecido algo ligado. Nada. Eram as queimadas ao meu redor, como atestavam as partículas de fuligem caindo do céu.
Entretanto, uma coisa chamou a atenção de todos (e a minha também). O país está em chamas há quinze dias. Desde o tal “dia de fogo” dos fazendeiros de Novo Progresso, no Pará, o país está em chamas. Rondônia arde em chamas. A Bolívia e o Paraguai também. Os satélites apontam a concentração de nuvens.
Nos diferentes satélites, das mais diversas agênciasespaciais, a América do Sul está laranja, com seu coração em preto e vermelho. Não, nada de rubro-negrismo nessa hora. Trata-se da concentração de CO atmosférico. Do Acre até o vale do Paranapanema, uma mancha escura toma conta do continente. E, mais esmaecida, se estende pelo Atlântico.
Vejo que em Londrina, no extremo sul da mancha, a concentração está em 419 ppbv no site do windy.com. No norte do Paraguai a grande mancha vermelha varia entre 2000 a 5000 ppbv de CO. As manchas em Novo Progresso (PA) estão em 519 ppbv de CO.
A América do Sul está pegando fogo. Lá no coração.
Nada disso, entretanto, tem a ver com a escuridão dos céus do sudeste brasileiro hoje. Segundo o INPE - e eu acredito no INPE, a escuridão foi causada por uma frente fria (Não é um acreditar religioso, percebam. Acredito no INPE porque o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) trabalha com dados robustos de tempo/Clima e tem uma grande equipe de cientistas que interpretam estes dados).
Seja fogo ou seja frente fria, o que mais chamou atenção hoje, no entanto, foi que o dia pareceu noite. Como na metáfora.
A escuridão metafórica (também) avança. E tem gente que não quer ver.