Terminei de ler um livro muito interessante: “O ultimo dia do mundo – fúria e razão no grande terremoto de Lisboa de 1755”, de Nicholas Shrady, da Editora Objetiva. É bastante interessante e fluida a maneira como Shrady nos conta sobre o terremoto e o tsunami que abalaram a “capital mais católica da Europa” na manhã do dia de Todos os Santos, 1º de novembro. Boa parte da população morreu soterrada nas igrejas. Ameaçadas pelos incêndios que se seguiram, as pessoas se acumularam no porto e no bairro da Baixa, procurando abrigo. As pessoas que aí se achava, foram vítimas de um terrível tsunami – que neste tempo atendia pelo nome de maremoto – que devastou toda a face leste da península ibérica, com ondas tendo sido registradas na Inglaterra, nas Antilhas e nos Estados Unidos.
Neste momento desolador, o rei, D. José I, que se achava no campo, mal conseguia conter o seu próprio pânico. Quando um de seus ministros, Sebastião Jose de carvalho, chegou para comunicar ao rei do sismo, D. José perguntou, atarantado:
- O que deve ser feito para enfrentar essa imposição da Justiça Divina?
- Enterrar os mortos e alimentar os vivos, teria respondido Carvalho.
A seguir, o livro nos conta dos trabalhos que o ministro Carvalho – conhecido por nós sob o título de Marquês de Pombal – para impor a ordem, restaurar a cidade e reformar Portugal. No bojo da reforma Pombalina, entre outras coisas, foi reformada a universidade de Coimbra, expulsos os jesuítas e implantada uma grande reforma do ensino. Em cerca de trinta anos, sob o jugo despótico de Pombal, que não hesitava em prender e matar seus adversários, Portugal entrou finalmente no século XVIII e na modernidade.
Pombal trouxe da Itália, por exemplo, o professor Vandelli, o primeiro professor moderno de ciências a ensinar numa universidade de língua portuguesa. Por alguns de seus alunos se mede o mestre: José Bonifácio e o Conselheiro Câmara foram alguns de seus discípulos mais ilustres. O filho de Vandelli, Alexandre, foi o professor de ninguém mais ninguém menos que D. Pedro II; boa parte do amor que o Imperador tinha pelas ciências foi fruto de um professor dedicado e entusiasmado, o que não é pouco.
O terremoto de Lisboa também mudou o rumo do pensamento ocidental: Voltaire, com o seu “Cândido”, usou os horrores do terremoto para nos colocar sob uma perspectiva diferente. Não vivemos sob o melhor dos mundos possíveis, como havia dito Leibnitz. Deus havia deixado de ser justo e a natureza de ser beneficiente. Podemos até viver no melhor dos mundos possíveis. Mas como diz Cândido, temos que, acima de tudo, “cultivar nosso jardim”, ou seja, cuidar das coisas práticas da vida, sem dogmas a priori. Se a razão é o motor de tudo isso, como queria Voltaire, está ainda aberto à discussão...
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"Lisbon Earthquake november 1st 1755", xilogravura: The Granger Collection, NY |
“E Antonina, Jeffe? O que Antonina tem a ver com isso?”, perguntariam alguns anônimos da blogosfera capelista. Muito. Como Lisboa, Tóquio, Nova Friburgo, São Luis do Paraitinga e Morretes, Antonina sofreu um desastre natural de proporções imensas, que deixou a sociedade de joelhos, sem condições de reagir. Esse é o conceito de desastre natural adotado pelas Nações Unidas. Tem muita coisa já feita, e que foi bem feita, tanto pela Defesa Civil quanto pelos bombeiros, pela própria Prefeitura e pela própria população. Tem coisas mais demoradas. Em Lisboa, o Convento Dos Jerônimos, botado abaixo pelo terremoto, jamais foi reconstruído, e suas ruínas são uma atração turística importante da cidade. Tem gente em Nova Friburgo ainda morando em abrigos.
Muita coisa tem que ser ainda feita. Alem dos prejuízos materiais, a cidade tem uma oportunidade ótima pra se pensar de novo, se reinventar – estamos aproveitando esta oportunidade? Temos de conhecer nosso subsolo, temos que ter um Plano de uso e ocupação do solo em bases cientificas. Temos que ter um Plano diretor, politicamente discutido, e que funcione. Outra mudança de mais longo prazo: temos que mudar nossa maneira de morar, de construir, de cuidar do quintal, cuidar do lixo. Coisas que dependem da educação das pessoas, e isso é uma mudança de varias gerações. Mas o que é nossa cidade, senão uma construção de varias gerações? Temos só é que fazer nossa parte....