Na feira deste domingo, enquanto escolhia abobrinhas e pepinos
japoneses, escutei casualmente a conversa de dois homens ao meu lado. Conversa
de homem. De homem de bem. Os dois falavam de Bolsa. Um falou “a Bolsa subiu”.
O outro concordou e respondeu: “Tomara que continue assim”. Pelo pouco que pude
perceber, os dois estavam falando das pesquisas da ultima semana que apontavam o
favoritismo de Bolsonaro e a aparente euforia do mercado com esta notícia.
Em geral, eu sempre fico espantado com o noticiário
econômico. As oscilações para cima e para baixo das bolsas de valores tem a ver
com causas que nem sempre compreendemos. Se compreendemos, muitas vezes nos
chocamos. Algumas muitas vezes, notícias aparentemente boas não são boas para omercado: o aumento do numero de empregos nos EUA em 2011, por exemplo. Outras
vezes, compreensivelmente, os mercados reagem com perplexidade, como foi com a
notícia da vitória de Donald Trump nos Estados Unidos.
No Brasil, o ciclo é o mesmo. Os mercados reagem
favoravelmente se existem indícios de que vai haver reforma da previdência, por
exemplo. Isso vai ser uma tremenda dor de cabeça para os trabalhadores, mas o
“tal do mercado” comemora. Se as negociações da Reforma da Previdência
emperram, o mercado reage em baixa.
Eu não entendo nada de Economia. Alguns dizem que é uma
ciência humana. Muitos discordam. Eu não entendo nada de economês. Tenho alguns
palpites. Muito dizem que os mercados são a melhor maneira de organizar a atividade
econômica. Que a tal da mão invisível nos guiaria por ações concretas e
seguras, onde todos sairiam ganhando.
Outros dizem que um governo seguro pode melhorar a mão do
mercado. Uma ação política por parte do Estado pode resolver os problemas de
assimetria entre os entes econômicos. Eu acho que isso é o mais seguro. Não
confio em mãos metafisicas.
Nada nos garante que as ações dos governos nos mercados
sejam sempre sérias e sábias. São decisões políticas, marcadas por interesses
de grupos. Mas o mercado, qual um graxaim selvagem, não gosta de amarras. Morde
as cordas e sai desvairado pela noite à procura de presas. Assim pode ser o
mercado.
Por vezes, o mercado
beira o cinismo. No dia da facada que Bolsonaro levou, o mercado reagiu com
alta. Segundo os analistas, prevendo as facilidades que o Coiso teria com sua
vitimização, como realmente teve. Marcelo Coelho, na Folha, perguntou se os mercados são amorais ou imorais. Qual é a sua resposta para esta pergunta?
Hoje, o mercado está em alta. Os que fazem negócios estão
otimistas. Vão poder ganhar muito dinheiro, fazer bons negócios. Por isso as Bolsas
“sobem”. Entretanto, nem sempre o que o mercado quer é o que a sociedade quer.
Mas, quando isso acontece, os homens na feira de domingo discutem felizes sobre
as tendências da bolsa.
O mercado reagiu em alta quando Collor de Mello ganhou as
eleições. Reagiu muito bem à eleição de Hitler, por exemplo. E reagiu muito bem
quando Temer, o vampiro, conseguiu o seu cargo e sua "ponte para o futuro" naquela votação horripilante de um congresso pouco comprometido com o interesse publico. Nem sempre o Mercado reage bem à democracia. Assim
como deve ter reagido bem quando o golpe sangrento de Pinochet derrubou o
governo socialista legitimamente eleito de Salvador Allende.
Os mercados não levam em conta a economia real. Aquela que nós todos fazemos no dia a dia. Não aquela
feliz economia de Adam Smith, do padeiro e do açougueiro que acreditam na mão
invisível. O mercado, a maior parte dele, joga contra a sociedade que lhes dá
suporte. São amorais. São imorais. Os mercados devem ser criminalizados sempre que trouxerem prejuízos para a sociedade pagar. Os banqueiros e especuladores da crise de 2008 nos Estados Unidos deveriam ter sido presos . Eram grandes demais para quebrar?
Adam Smith acreditava na moralidade dos agentes econômicos.
Eu concordo, e acho que assim deve ser. Por respeito a mim, por respeito a você. Os
mercados devem se comportar, ter regras dentro da moralidade, e não fora dela. E
que, se não se comporta, o mercado não venha chorar as pitangas depois que quebram de tanto
especular, como foi na crise do subprime.
Ser o candidato do Mercado não quer dizer grande coisa. Ser
o candidato das liberdades todas é muito, quase tudo. É tudo o que temos pra
hoje.
O Mercado somos nós.
O Mercado somos nós.