domingo, 25 de novembro de 2012

E QUINDI USCIMMO A RIVEDER LE STELLE...

Dante e Virgílio prestes a escapar do Inferno enquanto o Coisa-ruim, o Sete-peles, o  Sem-Chinelo, faz seu desjejum vespertino (seria algum bugrino ou torcedor do Barueri ali nas garras do Capiroto?). Aqui na frente, a nossa direita, o São Caetano lamenta mais uma Temporada no Brasileirão do B


Estar no inferno é estar no inferno até o fim. Não há saída. No nosso rubro-negro caso, essa foi uma verdade quase cristalina. Ontem, no final da tarde, terminei o jogo de joelhos em frente ao computador (a televisão não transmitiu o jogo pra cá), sob os olhares de pena de minha mulher e de meu amigo Gusano. Uma grande angústia em meu peito me fazia sofrer a cada vez que ouvia um nome de jogador que eu não conhecia, a temer pelo gol que poderia nos precipitar de novo nas profundas do Inferno da Segundona.
Quando vi que acabou o jogo no Ecoestádio, minha mulher me abraçou e me deu parabéns, enquanto Gusano se recolhia ao fundo da garrafa. Não sabia o que pensar, o que falar. Dante Alighieri havia ido ao banheiro pra dar uma aliviada. O ectoplasma de Virgílio ali na sala a olhar os resultados finais do Brasileirão do B não dava refresco na abafada tarde campineira. Corri então até a porta da frente e gritei escancarado para a rua vazia: ”o Furacão voltou!”.  As folhas das árvores começaram a balançar, suavemente, num começo de brisa.
O jogo havia começado com pressão total do Furacão. Parecia que ia ser fácil. Acompanhando o jogo entre São Caetano e Guarani, aqui no Brinco de Ouro, estava tudo sob controle. Quando saiu o gol do menino Cleberson, tudo ficou mais tranquilo. Estávamos inclusive na vice-liderança do Infernal torneio. Dante estava impávido, e menino Arthur, o Rimbaud, saiu pra fazer um sanduíche  A estadia no Inferno estava por terminar.
Mas eis que surge um outro Arthur que começa a nos infernizar. Gol do Paraná. Grito indignado, minha mulher  vem me fazer cafuné. Apesar de colorada dos quatro costados, estava ali amorosamente cuidando do seu bagrinho rubro-negro, que sofria a cada investida tricolor. O carinho dela me confortou por um tempo. Aí o São Caetano acordou e começou o inferno.
Menino Marcelo perde o pênalti. Silêncio na sala. O imortal Paulo Baier dá novo alento ao time, e menino Manoel acerta outra na trave. Um ataque do Paraná e menino Cleberson tira uma bola de dentro do gol. A coisa estava feia. O Inferno dando seus gemidos e arrotos. Parecia que o próprio Coisa-Ruim, o Cata-Piolho, o Xexelento, estava por ali pra azangar nossa saída de seus domínios. Um ronco infernal, um bodum dos infernos, mas eis que o carinha de preto apita o fim. Agora sim!
Dante, logo depois, pôs a mão no meu ombro e me contou que, no passado, para sair do Inferno, ele e Virgílio tiveram que escalar as costas peludas do capeta. Este, mastigando um pobre coitado (seria um bugrino, ou um torcedor do Ipatinga?), não prestou atenção neles. Era um barulho e uma escuridão literalmente infernais, mas havia um pequeno orifício perto da cabeça do Bode preto, do Tisnado e, afinal, Dante e Virgílio “per quel camino ascoso/intramo a retornar nel chiaro mondo” [por aquele caminho asqueroso/voltaram de novo ao claro mundo]. Assim efetivamente foi, quando o juiz apitou o fim daquele inferno.
E o que aconteceu depois? Perguntei eu ao sagaz Florentino. Este me respondeu que, depois de sair daquele infernal pesadelo, “quindi uscimmo a riveder le stelle” [e então saímos a rever estrelas]. Emocionado, pespeguei um forte abraço em meu bravo consultor de série B.
O que vai acontecer ao Furacão, nessa nova fase? Não sei, estou ainda embriagado com a luz daqui de cima. O caminho vai continuar difícil, mas meu rubro-negro voltou. Quem sabe, pra ver algumas estrelas...

O FURACÃO VOLTOU!

a camisa rubro-negra só se veste com amor!

sábado, 24 de novembro de 2012

IT´S NOW OR NEVER!

Esquema geral do inferno de Dante, mostrando os últimos e infernais círculos de baixo, perto da casa do Capeta. O Sete-peles, o Coisa-ruim, o Bode preto, o Sem chinelo, o Nhô Lúcio, o Malfazejo, mora na casa 21-B, circulo 9, andar de baixo. Alguém aí toca a campainha? 

Hoje consegui voltar ao blog depois de quase duas semanas ausentes, por motivos de viagem e de acúmulo de trabalho. Neste meio tempo, entretanto, não deixei de seguir a saga do nosso querido rubro-negro rumo ao lugar que lhe cabe no latifúndio (produtivo?) da elite do futebol. Antes do jogo com o Tigre, lá na carvônica Criciúma, pensei em repetir o titulo da crônica anterior: agora seria “a vida em Criciúma”. Sim, ali o escrete rossonero lutava pela sua vida, assim como lutou no bravo jogo de Arapiraca. Não deu, não deu. Cada jogo é um, como diria o poeta.
Agora, o Inferno está no seu nível mais baixo, mais profundo e soturno. Ou dá ou não dá. Noventa minutos nos separam da subida para a série A ou o novo mergulho no inferno do brasileirão do B, o torneio do Capeta. Na nossa frente nosso velho conhecido Paraná Clube, o Paranito, o time-de-sete-caras, ou, melhor dizendo, o time-de-sete-times. Faz tempo que o time de vila Capanema não nos faz medo. Mas, cada jogo é um, e, no inferno da Segundona, o time rubro-negro aprendeu a deixar de fora toda Esperança, como bem ensinaram nossos consultores Dante Alighieri e Virgílio.
Além do jogo com o Paraná Clube, assistimos também o embate entre Vitória e Ceará, no Barradão, e principalmente Guarani e São Caetano, bem aqui nas minhas fuças, no Brinco de Ouro. Sabe-se lá que bicho vai dar. O Azulão começou a morrer na praia, mas se aprumou e grudou nos calcanhares dos rubro-negros baiano e paranaense. Precisa ganhar do Guarani e torcer para tropeços dos rubro-negros. Já o Guarani, que está sentindo o bodum da sulfurosa serie C sob seus pés, vai com tudo pra cima do Azulão e está vendendo ingressos a dois reais pra lotar o Brinco de Ouro justamente com aquilo que o time do São Caetano não tem, torcida. Será também uma partida épica.
O Drubsquem já escalou o time para o encontro no janguitão. Eu cá, chamei Dante e Virgílio, além de meu querido amigo Gusano, o verme da garrafa de mezcal, que acompanhou junto comigo nossa queda para os infernos, há um ano. Além disso, estão confirmados Sthendal, autor de “O Vermelho E O Negro”, grande tratado da alma rubro-negra, e o poeta Arthur Rimbaud, que passou uma breve estadia no inferno e também voltou pra contar. A nação rubro-negra hoje amanhece esperançosa com a volta para a serie A, embora saiba por experiência que não se pode ter esperanças no torneio da terra do Coisa-ruim, e que o caminho é duro e áspero, por gramados ruins e cheios de buracos, trilhado jogo por jogo, vencido passo por passo.
Agora, é só esperar que se abram as cortinas e comece o espetáculo. É agora ou nunca. 

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A VIDA EM ARAPIRACA

Na beira do lago Cocito (quem?), demônios procuram pelos portadores de malas brancas e pretas;  são  as ultimas emoções na antepenúltima rodada do Brasileirão do B


Aqui em Campinas o tempo amanheceu chuvoso, com umas trovoadas ao longe. Agora mesmo, cai uma chuvinha daquelas bem safadas, que dá um sono, uma vontade danada de conversar com o travesseiro. Dou uma olhada na previsão do tempo pra Arapiraca, onde o Rubro Negro vai enfrentar o ASA de Arapiraca. Não, o CPTEC-INPE não prevê nenhum Furacão pra Arapiraca hoje. Diz que o céu está parcialmente encoberto com chuvas isoladas. Mas a temperatura máxima prevista é de 33º C, nada mal pra correr um pouco.
Depois dos erros do jogo de terça, que o Drubscky (quem?) atribuiu ao nervosismo dos jogadores, a historia agora é outra. Melhorar o passe e a inspiração para as jogadas, esse é o tema pro jogo de hoje, o segundo jogo na história entre Atlético e Arapiraca. No primeiro turno, um chorado um a zero lá no Gigante do Itiberê.
Hoje, o jogo vai ser no estádio Coaracy da Maia Fonseca, o popular “Fumeirão”. Não vai ser fácil, como nada foi fácil até agora no Brasileirão do B, o Torneio dos Infernos. Temos que derrotar o ASA, a Agremiação Sportiva Arapiraquense. Para hoje, o time alagoano, que é o único time do interior do Nordeste na série B, conta com os retornos do armador Lucas e do lateral-esquerdo Chiquinho Baiano. Segundo a dispensável Wikipedia  o ASA é o clube que mais conquistou títulos em Alagoas no século XXI e possui uma das maiores torcidas do estado. Dá um medo...
Por outro lado, o Mais Querido não terá seu xerife, o Menino Manoel, xodó da torcida, punido pelo terceiro cartão amarelo. O time ainda não está definido, mas não deve ser diferente do time que empatou com o America-RN no Janguitão na terça.
No entanto, as malas brancas continuam rondando o infernal mundo da série B. Diz-que, inclusive, o Atlético teria “inspirado” o Ipatinga a empatar com o São Caetano. Por outro lado, há também a noticia de que malas brancas andaram rondando os céus de Arapiraca. Não gosto disso de malas brancas. De malas brancas a malas pretas o passo é pequeno. Segundo nosso consultor, Dante Alighieri, no nono ciclo do inferno é onde estão os traidores a granel, tanto os de malas brancas quanto os de malas pretas, sofrendo com as agruras do gelo. No lago gelado, o Cocito (lembram o nosso querido e infernal Cocito?), as almas penam com bocas partidas pelo frio, assim como têm pés e mão geladas. Ficam vagando pelas águas geladas e muitos desfalecem, tendo partes do corpo devoradas por demônios famintos.  
Enfim, espero que o clima quente e chuvoso desta noite arapiraquense inspire os de listras verticais rubronegras. A chuva e o calor de Arapiraca são bem diferentes do que podemos encontrar a beira do lago gelado do Inferno. Não há como fazer previsões, como já nos disse Dante aliguieri, nosso infernal consultor. Cada jogo é um.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

VIVA A VILLA ANTONINA!


Hoje é seis de novembro, quando se completa o duocentésimo-décimo-quinto aniversário da elevação da Deitada-a-beira-do-mar como a Villa Antonina, em substituição à antiga Freguesia de N.S. do Pilar da Graciosa, ou, antes disso ainda, como a localidade da Graciosa. A Graciosa foi a boca do sertão onde, oitenta e quatro anos antes, o Capitão-mor Valle Porto mandou fazer uma capela, bem ali em cima da colina.
O local já era conhecido e devassado já fazia bem uns cem anos. Conhece-se carta de 1622 onde se diz que, na capitania de são Vicente, apenas a minas do Pernagoá davam algum retorno do capital investido. As famosas minas do Pernagoá, de que tanto se falou nos seiscentos, eram na verdade uma faixa de terra entre o Rio Sagrado e o Rio Sapitanduva. Algumas minas ficavam nas bordas da enseada de Guarapirocaba, ou no Rio da Faisqueira. A maior parte das minas, entretanto, que eram alguns garimpos de cata, ou seja, de ouro de aluvião, situavam-se no rio Cubatão, que depois do século XIX se chamaria Nhundiaquara. Ou seja, as minas do Pernagoá eram exatamente onde hoje temos as cidades de Morretes e Antonina e as “vilas” do Porto de Cima e São João da Graciosa.
Vila mesmo era o Pernagoá, a vila de NS do Rosário, situada nas barrancas do Itaguaré, que hoje se conhece como Itiberê. Era lá que tinha igreja, era lá que o padre rezava a missa e onde os cristãos eram batizados – Deus os livre de morrer pagãos! E isso significava andar horas e dias de canoa, só pra receber sacramentos. Na ausência de padres, quem precisava de extrema unção tinha que mostrar os documentos comprobatórios do arrependimento dos pecados direto pra São Pedro. Casar, então? Ninguém casava, se juntava. Viviam todos em pecado. Depois de anos, se aparecesse um padre por ali, era feita a "regularização da situação" perante Deus.
Depois que foi mandado fazer a capelinha, a gente da Graciosa, do Rio do Pinto e dos Treis Morretes deu de ficar topetuda. Não queria mais ir à missa em Paranaguá. Quando virou Freguesia, ou seja, teve padre que ali residia, os moradores daqueles sertões onde só dá bagre andaram de ficar hereges. Foram todos excomungados pelo padre parnanguara. O padre da Freguesia da Graciosa, por seu lado, soltou uma excomunhão contra o senhor seu Vigário de Paranaguá. Raios pra cá e pra lá, uma confusão dos diabos naquele fundo de baia. Olha, eu não estive lá, mas o Ermelino, que deu umas olhadelas, disse que foi uma briga danada!
Por fim, depois de muita pedinça, os moradores do fundão da baía puderam ser uma vila, puderam eleger eles mesmos seus camaristas (que aquele tempo trabalhavam de graça, viu?) e mesmo – horror dos horrores!– ter um pelourinho pra castigarem eles mesmos os seus escravos. Gente mais cruel e estranha, esses tataravós dos bagrinhos...
O dia escolhido pra isso foi um 6 de novembro. Chovia, fazia sol? Ermelino não contou. O que ele contou mesmo foi a alegria das pessoas da vila, que agora em diante, além de ter um padre pra cuidar das almas, tinham também uma câmara pra cuidar de seus interesses, que não eram poucos. O nome da freguesia mudou, pra homenagear o menino Toninho, o futuro rei de Portugal. Villa Antonina, não é bonito? Mal sabiam que o tal do Toninho ia morrer sem sair das fraldas e que quem ia nos governar era o Pedro, aquele caçulinha maluquinho ali, atrás da janela. E que seríamos brasileiros, e não mais os portugueses da América. Mas isso é outra história.
As cidades são assim. Umas surgem assim, outras assado. As vezes, não dá pra saber ao certo quando a cidade virou cidade. Buenos Aires foi fundada duas vezes, e só a segunda que deu certo. E daí? Nada contra Pedro de Uzeda e sua trupe. Mas eu gosto mais dessa outra história, de uma vila que se fez alegre a comemorar sua emancipação, mesmo com a tal autorização pra construir pelourinhos. Hoje, minha Antonina gentil é uma bela cidade: 215 anos com um corpinho de 214.
Viva a Villa Antonina e abaixo a escravidão!

domingo, 4 de novembro de 2012

SEM MEDO E SEM FUTURO

Na quarta fossa do oitavo circulo do inferno - os nomes lembram algumas fases do campeonato paranaense - Dante e Virgílio vêem o desespero das equipes que não alcançaram o G4; lá embaixo, subindo a Serra, não seria o Joinville? 

Dante Alighieri, nosso consultor em Inferno, nos alerta: não cabem profecias, nem adivinhações. No quarta fossa do oitavo circulo do inferno, lá bem pertinho da casa do Tisnado, os profetas e adivinhos fazem uma longa marcha, uma imensa fila um com as mãos no ombro do outro, todos com o rosto voltado para trás. Segundo Dante, no inferno estão condenados a olhar para trás aqueles que, em vida, quiseram olhar somente o futuro. Virgílio, seu guia durante sua infernal passagem, concorda, balançando gravemente a cabeça. Eu, agora, é que não arrisco mesmo mais nenhum prognóstico para as últimas rodadas do Brasileirão do B, o torneio do Cão.
Pois não é que o rubro-negríssimo conseguiu a sua mais importante vitória desse ano no Brasileirão do B, no jogo de seis pontos contra o são Caetano? O Azulão, que é um time do ABC, um aprazível local do planalto, teima em morrer na praia, mais uma vez. Azar deles.
Logo aos seis minutos, o lateral Maranhão olhou pra área e cruzou. Como diz mestre Tostão, gênio dentro e fora das quatro linhas, nada de chutão, nada de rifar a bola. Pois foi isso que o menino fez. Maranhão olhou, viu quem entrava e cruzou. A bola fez uma parábola no ar e caiu na cabeça de Marcão, o mulato matador. Marcão cabeceou para o chão e saiu pro abraço. Logo depois, aos 26, Elias, nosso profeta, numa cobrança de falta, põe a bola na área. No meio da área, Marcão sobe mais que a zaga e cabeceia certinho, pro chão. A bola ia fora, mas moleque Marcelo meteu os peitos e entrou com bola e tudo, antecipando-se ao goleiro Luiz.
Quando o São Caetano diminuiu, aos trinta do segundo tempo, tarde já era, como diria mestre Yoda. Moleque Marcelo, na frente da área, recebeu um passe do imortal Paulo Baier, que não é a previdência, mas desde a falecida CAPEMI faz assistência como ninguém. Moleque Marcelo recebeu o passe de Paulo Baier e meteu o kichute. E a bola foi morrer no cantinho esquerdo da meta do goleiro sãocaetânico. Tresaum.
Agora, na terça feira, 6 de novembro, no dia do duocentésimo-décimo-quinto aniversário da nossa querida Deitada-a-beira-do-mar, o escrete rubronegríssimo vai enfrentar o América-RN em pleno Janguitão, o popular Eco-estádio. É outro jogo do mesmo campeonato. Nada está ganho, mas também não há nada perdido. O São Caetano viaja e pega o vice-líder Criciúma, lá na terra do carvão. O Vitória, que já foi Leão, tem uma parada duríssima contra o Coelho, o América-MG, lá em Salvador.
Há que se jogar bola, como teria dito Machado de Assis, outro mulato que batia um bolão, mas na língua de Camões. Deve estar feliz o velho Quincas, suposto torcedor do Fluminense. Sorte dele, neste ano. Para nós outros, provisoriamente nas terras do Bode preto, do Tranca-rua, do Tinhoso, não há medo, mas também não há esperança. Nas terras do Malfazejo é assim. Pra sair dela, há que se defrontar com o pior a cada passo.
Na série B, cada jogo é como se fosse o último. E sem prognóstico.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

FINADOS


Hoje é, segundo a tradição, o dia dos mortos. Depois de uma semana muito quente, com temperaturas chegando a 37º C, o dia por aqui amanheceu nublado e com certa garoa. O típico dia de Finados. Se aqui está assim, imagino a bela Deitada-a-beira-do-mar, com sua bruma matinal e sua garoa insistente.
Faz muito tempo que larguei fora as tradições, assim como boa parte dos ensinamentos que tive, meio a contragosto, ali no alto da colina de N.S. do Pilar. Mas hoje, talvez pela tradição, talvez pelo tempo ameno e chuvoso, me pus a pensar nos meus mortos queridos. Meu pai, meus avós, meu tio Milton e minha tia Vilma. Meu amigo Eder, falecido prematuramente um ano antes de sua formatura, aos 22 anos. O bom e generoso Moacir Santos, mestre Muassa, um dos maiores geólogos que já conheci. Dona Laura, a alegre e doce dona Laura, a rir e achar tudo “ótimo”. Quanta gente querida brota dos pensamentos...
Percebo no ar certa vacuidade, um vazio, uma certa melancolia, a lembrar meus entes queridos. Saudades, esse é o sentimento que vem com a tal palavra que só se diz em português, em bom português.
Sinto muitas saudades de meu pai. Lembro que ele, apesar de ter sido um notório xodó de igreja velha, tendo estado a frente da reforma das igrejas de São Benedito e principalmente do Bom Jesus do Saivá, não era lá um homem de muitos ritos. Poucas vezes foi à igreja, quase sempre em celebrações de sétimo dia. Dizia-nos, por outro lado, ser adepto “do lado espiritual da coisa”, ou seja, do espiritismo, esse nosso espiritismo católico-cardecista tão espalhado por aí. Eu nunca conversei a sério com ele sobre isso, embora respeitasse sua crença.
Não acho que existam espíritos ou coisas do gênero. Nossa vida é uma luta contra o nada, contra o vazio. Ou preenchemos esse vazio ou o vazio nos preenche e nos inunda. O vazio é a banalidade da vida, essa vida que vai se escorrendo como um rio rumo ao mar, sem mais sentido que energias cinéticas e potenciais que vão se perdendo ou ganhando na trajetória. Nem mesmo a matéria existe, o que existe é uma profusão de partículas elementares circulando no vazio. Mésons, píons, múons, bósons, e mais nada.
Por que recordar os mortos? Não sei exatamente. O que sei é que a lembrança deles me toca e começo a ficar comovido feito as castanheiras da Amazônia, que choram quando são queimadas. A lembrança de todos é a saudade de um tempo que não volta mais, de um eu que não volta mais. Estou aqui lembrando de coisas e histórias que são minhas, só minhas, de minhas relações com meus mortos queridos.
Sinto-me um tanto ridículo, mas vou até a janela e acendo uma vela. E fico um tempão olhando ela queimar. Lá fora, as arvores e passarinhos nem estão aí pro meu chororô. Tambem não ligo pra eles, e sigo perdendo -perdendo? - um bom tempo pensando em como é parecido – a vela queimando - e a vida, toda ela  inútil, que se esvai.
 Gusano, meu amigo, onde você se enfiou?

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

ANTONINA EM NOVEMBRO!


04/11/1920   Nascia, em Rio Branco do Sul, Salvador Graciano (Nhô Belarmino)

06/11/1797   Instalada a ‘Villa Antonina’ pelo Dr. Manuel Lopes Branco e Silva, Ouvidor Geral e Corregedor da Comarca de Paranaguá

06/11/1830    Nascia, em Morretes, Antônio Alves de Araújo (Comendador)

07/11/1797    Primeira eleição em Villa Antonina para camaristas e juizes    ordinários

10/11/1971    Lei Estadual 6249 revoga a Lei 5783/68 e o porto de Antonina volta à      tutela de Paranaguá com a recriação da APPA

13/11/1944    Fundada a Liga de Defesa Contra a Tuberculose

15/11/1982    Falecia o Dr. Romildo Gonçalves Pereira

22/11/1999    Inaugurada a sede do Corpo de Bombeiros


POR CELSO MEIRA