Dante Alighieri, nosso consultor em Inferno, nos alerta: não
cabem profecias, nem adivinhações. No quarta fossa do oitavo circulo do
inferno, lá bem pertinho da casa do Tisnado, os profetas e adivinhos fazem uma
longa marcha, uma imensa fila um com as mãos no ombro do outro, todos com o
rosto voltado para trás. Segundo Dante, no inferno estão condenados a olhar
para trás aqueles que, em vida, quiseram olhar somente o futuro. Virgílio, seu
guia durante sua infernal passagem, concorda, balançando gravemente a cabeça. Eu,
agora, é que não arrisco mesmo mais nenhum prognóstico para as últimas rodadas
do Brasileirão do B, o torneio do Cão.
Pois não é que o rubro-negríssimo conseguiu a sua mais
importante vitória desse ano no Brasileirão do B, no jogo de seis pontos contra
o são Caetano? O Azulão, que é um time do ABC, um aprazível local do planalto,
teima em morrer na praia, mais uma vez. Azar deles.
Logo aos seis minutos, o lateral Maranhão olhou pra área e
cruzou. Como diz mestre Tostão, gênio dentro e fora das quatro linhas, nada de
chutão, nada de rifar a bola. Pois foi isso que o menino fez. Maranhão olhou,
viu quem entrava e cruzou. A bola fez uma parábola no ar e caiu na cabeça de Marcão,
o mulato matador. Marcão cabeceou para o chão e saiu pro abraço. Logo depois,
aos 26, Elias, nosso profeta, numa cobrança de falta, põe a bola na área. No meio
da área, Marcão sobe mais que a zaga e cabeceia certinho, pro chão. A bola ia
fora, mas moleque Marcelo meteu os peitos e entrou com bola e tudo,
antecipando-se ao goleiro Luiz.
Quando o São Caetano diminuiu, aos trinta do segundo tempo,
tarde já era, como diria mestre Yoda. Moleque Marcelo, na frente da área, recebeu
um passe do imortal Paulo Baier, que não é a previdência, mas desde a falecida
CAPEMI faz assistência como ninguém. Moleque Marcelo recebeu o passe de Paulo
Baier e meteu o kichute. E a bola foi morrer no cantinho esquerdo da meta do
goleiro sãocaetânico. Tresaum.
Agora, na terça feira, 6 de novembro, no dia do
duocentésimo-décimo-quinto aniversário da nossa querida Deitada-a-beira-do-mar,
o escrete rubronegríssimo vai enfrentar o América-RN em pleno Janguitão, o popular
Eco-estádio. É outro jogo do mesmo campeonato. Nada está ganho, mas também não
há nada perdido. O São Caetano viaja e pega o vice-líder Criciúma, lá na terra
do carvão. O Vitória, que já foi Leão, tem uma parada duríssima contra o Coelho,
o América-MG, lá em Salvador.
Há que se jogar bola, como teria dito Machado de Assis,
outro mulato que batia um bolão, mas na língua de Camões. Deve estar feliz o
velho Quincas, suposto torcedor do Fluminense. Sorte dele, neste ano. Para nós
outros, provisoriamente nas terras do Bode preto, do Tranca-rua, do Tinhoso, não
há medo, mas também não há esperança. Nas terras do Malfazejo é assim. Pra sair
dela, há que se defrontar com o pior a cada passo.
Na série B, cada jogo é como se fosse o último. E sem
prognóstico.
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