sexta-feira, 29 de julho de 2011

ANTONINA ANTIGA - II

Outra foto antiga de Antonina, recuperada por um powerpoint que me mandaram há uns tempos. Esta foto, tomada provavelmente de onde seria hoje o morro do Joubert, observa-se a antiga estação da estrada de ferro, entre as ruas Comendador Araujo e Nenê Chaminé, bem em frente de onde hoje se encontra a delegacia. Na rua não se vêem carros, somente carroças e homens montando a cavalo. Seria, portanto, uma foto muito antiga, talvez até dos anos 20 ou 30. Com certeza, anterior a 1944, quando esta estação foi destruída num incêndio criminoso.



(Neste dia, uns pé-de-chinelo estavam roubando o querosene racionado dos tempos da guerra, quando um deles deixou cair o lampião no chão. O incêndio foi grande, e a população inteira acordou com as explosões dos galões de óleo diesel acumulados. Deve ter sido um espetáculo pirotécnico e tanto... O problema foi que um deles deixou o tamanco no local do crime, através do qual o DIP – a terrível policia da ditadura do Estado Novo – chegou facilmente aos otários dos criminosos...)



A foto mostra bem os vagões de carga, ao lado dos quais estão empilhados os montes de lenha que fariam a maria-fumaça subir a serra. Eu ainda lembro-me de ter visto Maria-Fumaça em Antonina, ainda nos anos 60, mas já como raridade. Já se imaginou quanta lenha foi cortada dos morros da Deitada-a-beira-do-mar pro trem subir e descer a serra? No canto do muro, um homem está trabalhando junto de um pequeno vagonete. O que estaria fazendo? Bem no canto, a direita, pode-se ver uma grande chaminé, localizada acho que onde hoje está o prédio da Copel.



Ao fundo, podem-se ver inúmeras casas, algumas ainda existem. É nítida a contraposição entre as casas na frente do terreno e os quintais cheios de arvores e coqueiros no fundo. A maior parte eram casas simples, mas algumas possuíam sótão. Lembro com saudade do casarão do antigo clube dos operários, a segunda casa à esquerda na rua Dr. Vicente Machado, bem no meio da foto.



Outra coisa interessante é que parece bem, na foto, é o tamanho da cidade. Ela parece acabar depois da rua do Campo, a atual Conselheiro Alves de Araujo. Os brejos onde fica o atual campo de 29 de maio já eram ocupados? Mais para o fundo só se vêem mato e algumas casas esparsas ao longe.



Pela sombra da estação, parece que a foto foi tirada no comecinho da tarde, ainda com muita luz. Os muros da estrada de ferro, que ainda existem, e o branco das casas dão uma luz especial à foto. Detalhes pequenos acabam aparecendo. É essa luminosidade que faz a foto ser tão rica e trazer tantos detalhes.



Que dia seria esse? Os cavalos esperam pacientemente pela carga que virá do trem, que talvez esteja por chegar. Somente um homem andando na rua, outro na carroça e o empregado da via férrea, trabalhando atrás do muro. Seria um feriado? Ou era hora da sesta? Talvez fosse uma tarde modorrenta, daquelas bem quentes, em que não há nada pra fazer fora de casa. Alguém pensaria em dar uma passada no Jequiti, se já houvesse Jequiti.



Ainda bem que naquele tempo já existia a fotografia pra gente ficar perdendo nosso tempo aqui, filosofando sobre outro tempo...


quinta-feira, 28 de julho de 2011

BOTUCATU

Por-do-sol na Fazenda Demétria, Botucatu, SP
Estive uns dias sem blogar, por conta de uma visita familiar. Estive com a família em Botucatu. Mais uma das belas surpresas de são Paulo, com uma excelente infraestrutura urbana, museus, parques, etc. tem, segundo amigos, um dos melhores cursos de medicina do país, no campus da UNESP de Rubião. Tem também um belo campus da UNESP na área de ciências agrárias, na Fazenda Lageado. Esta fazenda eu visitei e conheci com meu novo amigo Jairo Tavares, que durante mais de trinta anos trabalhou por ali, e fez questão de me mostrar tudo.

Patio de Café na Fazenda Lageado, Botucatu,SP

Fundada ainda no século XIX, chegou a ter mais de 1 milhão de pés de café plantados, e cera de 100 famílias de colonos. Com a crise de 29, a fazenda passou ao estado de São Paulo e depois ao IBC. Desde os anos 60, a área da fazenda Lageado virou um museu dedicado às coisas do café, dentro do campus da UNESP.

Conhecemos também a fazenda Demétria, uma área dedicada a pesquisa e produção de produtos orgânicos e onde tem uma escola antroposófica (não me perguntem o que é...eu perguntei, me explicaram, mais eu não entendi....). A Demétria é uma experiência “bichogrila” com mais de 50 anos. Respeitável.
Morro das Três Pedras, Botucatu, SP
Alem do mais, estivemos passeando pelas “cuestas” de Botucatu, que é o nome que se dá a este tipo de serras que tem por lá e em tantos outros lugares de bacias sedimentares. A Serra de São Luiz do Purunã, perto de Curitiba e a Serra do Cadeado, no norte do Paraná, também são cuestas. Um relevo bonito e uma paisagem maravilhosa.




quinta-feira, 21 de julho de 2011

GAVIÃO MALVADO

No dia 15 de maio (ano de 1949) uma caravana composta de vereadores do Partido social Democrático, fizeram uma excursão as obras da usina hidroelétrica de Bairro Alto, cuja excursão foi até o Cotia.


No caminhão da Prefeitura gentilmente cedido pelo Dr. Carlos Gomes, nosso DD Prefeito Municipal, e pelo mesmo conduzido.


A viajem prosseguia animada, uma piada de cá, outra de lá e assim continuávamos.


O Quinco Simão levava uma espingarda, pois o mesmo é apreciador das caçadas.


Entre os excursionistas, o Sr. Plínio Guimarães também soltava das suas.


Na altura do morro do Bambú o baixinho, Alencar Cardoso, e o Zé Maria, gritaram: “ ...Quinco um gavião.. atire no voo...”. O Quinco engatilhou a espingarda e... Bum!... o gavião sacudiu as azas, em sinal de deboxe.


O Plínio Guimarães que estava mais atrás gritou: “Ô... Gavião malvado...”


O Zé Maria perguntou: “ o que aconteceu seu Plínio?”


O Plínio apontou o ombro do paletót: “ele me guspiu...”


Risos em geral no caminhão.


E o Plínio Repetiu: “... Gavião Malvado...”.


(por um lapso de minha parte mencionei que a excursão era composta de vereadores, quando na verdade além dos mesmos, os Pessedistas a integraram)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

ANTONINA CRIA, O MUNDO COPIA

A genialidade antoninense dispensa apresentações. Aqui, entre a ilha do Teixeira e o pico Paraná, surgiu muita coisa essencial para a humanidade. Entretanto, a falta de jeito antoninense também dispensa apresentações. Assim como o barreado, que foi criado aqui e copiado em Morretes e em Paranaguá, muitas outras coisas criadas na baia de Guarapirocaba foram lamentavelmente copiadas alhures, por pessoas inescrupulosas, que ganharam dinheiro e glória com isso. E nós ficamos sem a fama. E sem a bufunfa. Mas isso pouco importa. Tendo farinha e um peixe, uma cerveja gelada, deixe a fama e a grana lá pra eles. Assim como o pirão, dinheiro e glória também passam.
Digo isso pra iniciar uma série de reportagens-verdade, mostrando aos bagrinhos algumas destas invenções que não nos deram fama e gloria, mas que deixaram o mundo melhor. A nossa parte pode vir em cerveja gelada e um pirão de bagre bem feito.
 
A RODA
Uma das mais antigas invenções antoninenses foi, sem sombra de dúvida, a roda. Sim, a roda, qual o espanto? A roda foi inventada em Antonina. Segundo Barreano, a roda foi inventada nos idos de 500 AdC (Antes de Carcanha). Sua inspiração original foi ver um bebum rolando no chão após uma caranguejada no sambaqui do Godo. No entanto, demorou mais outros 500 anos pra colocar em prática...dava muito trabalho.

Durante os experimentos que levaram a criação final da roda, Barreano verificou que o processo original, usando pessoas, era uma tonteira só. A Turma do Litro, observando os experimentos ali perto do trapiche, disse que era uma invenção sem futuro. Afinal, o goró dá menos trabalho pra tontear, com uma relação custo-beneficio mais rápida.

Mas Barreano não desistiu. Continuou pesquisando. Levou mais 500 anos para se perceber que troncos eram mais apropriados. E mais 500 anos pra se perceber que cortando os troncos dava mais resultado. Quando a coisa estava quase pronta, Barreano foi comemorar a sua genial invenção com uma caranguejada no Sambaqui da Ponta da Pita.

No entanto, homens de Neandertal, de passagem pelo Trapiche Municipal, que então estava estragado, prestaram muita atenção nos experimentos de Barreano. Quando ele saiu pra comemorar, eles pegaram um exemplar da roda e saíram de fininho.

Cerca de 500 anos depois, quando Barreano voltou da caranguejada, viu que sua invenção já havia sido roubada, aperfeiçoada e patenteada pelos homens de Neandertal. Tentou protestar, mas a Turma do Litro, ali do lado, deu risada de sua cara: “não falamos que isso não ia dar certo, Barreano? Tava na cara! Inventar a roda? Vê se pode... Coisa mais inútil... Dá uma bicada aqui, na mardita”.

E assim se passaram mais 500 anos.

terça-feira, 19 de julho de 2011

ZOOM

Um Zoom no mapa de Coronelli (1692), que mostra uma "povoação" no fundo do golfo (baia) de Paranaguá. Que povoação seria esta?

segunda-feira, 18 de julho de 2011

ANTONINA ANTIGA - 1

Recebi, tempos atrás, uma apresentação em powerpoint com fotos de antonina antiga, nem me lembro mais de quem. As apresentações em powerpoint são uma faca de dois gumes da internet: as pessoas, pensando em fazer o bem, nos impingem coisas que elas gostariam que víssemos. Em geral essas apresentações são muito chatas, inclusive as que eu mando para os amigos, com um título chamativo como “imperdível”, ou “interessante”. Mas essa, por meus motivos, é mostra varias fotos imperdíveis e interessantes, sem aspas. Antonina antiga é quase um pleonasmo.

A foto que aí está é uma foto aérea dos anos 60, acho eu. Mostra em primeiro plano o prédio do antigo mercado, demolido com fúria assassina na gestão de Romildo Gonçalves Pereira. Meu pai foi um dos que se insurgiu na época contra o que ele chamava – e realmente era – “um crime contra Antonina”. Nunca entendi as razões que botaram abaixo o belo prédio de azulejos portugueses e fachada sóbria que vemos majestoso no terço inferior da foto. Progresso, talvez?

Vêem-se, logo abaixo do prédio central do Mercado, várias outras construções, algumas em ruínas, que hoje deve fazer parte do estacionamento em frente, e que durante muitos anos foi um restaurante e loja de artesanato. Logo na esquina, uma casa que naquela época já estava em ruínas, e o belo e sóbrio casario que rodeia a quadra da atual rodoviária e a feira-mar – hoje Praça Romildo Gonçalves Pereira. O que hoje é a praça era um descampado, e ainda se vêem as marcas de carros que indicam a localização do trapiche.

Ao fundo, vêem-se as casas, que o preto e branco da foto faz uma densa mancha de claros e escuros, com fachadas, telhados e arvores – lá longe se pode ver mais ou menos no centro da foto o campanário da igreja de São Benedito, fazendo um belo contraponto com o mercado abaixo. No fundo, vêem-se os morros do Bom Brinquedo e do Salgado. Reparem que naquele tempo os morros tinham bem menos vegetação que hoje. Ao fundo, bem ao fundo, a serra do Marumbi num cinza bem claro e com nuvens no seu topo. Devia ser um dia claro, embora as serras estivessem nubladas. Em frente ao mercado pode-se ver uma Kombi, que “data” a foto em 1960 ou menos.

Não sou nenhum entendido de fotografia, como Mestre Eduardo, mas arrisco a dizer que o belo desta foto é o seu conjunto. É minha leitura, existem infinitas outras possíveis e desejáveis. A cidade aparece coesa, casas e ruas juntas num emaranhado preto e branco, formando um imenso quadrado visto do céu, com o mercado municipal “amarrando” tudo no vértice inferior. A cidade como um todo coeso? Delírio, delírio, delírio. Nós, na Deitada-a-beira-do-mar, somos tenazmente frouxos, inconsistentes, incoerentes.

Essa já é uma foto da decadência: as ruínas ao redor do mercado são sinais visíveis disso. Os que, como eu, vieram ao mundo depois dessa época – eu sou de 63 – nós não vimos senão decadência. Por muito tempo procuramos culpados – era o porto, o assoreamento da baia, eram os prefeitos de plantão, era a estatua de N.S. da Soledade que foi xingada pelo capitão-povoador Valle Porto, era a expulsão do interventor Manoel Ribas do Clube Literário – vivemos sempre na culpa e na busca de culpados.

E nós? Nós, como povo de uma cidade pequena, linda, maravilhosa, alegre, mas que não dá sustento para suas famílias, que afunda no crack nossas crianças? E nós, que pensamos na política como uma forma de se dar bem, de cavar uma nomeação, de dar emprego pra família? Que moral nós temos pra buscar culpados?
Enfim, pensamentos em preto e branco sobre uma foto aérea do passado...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

RUFUS AUTOFAGUS

 (a Paleontologia Imaginária é um ramo da Paleontologia que trata de animais incertos; é um ramo do conhecimento que faz fronteiras com a paleontologia, a geografia, a física molecular, a psicologia e com a Transilvânia. Como membro da Sociedade Brasileira de Paleontologia Imaginária (SBPI) e colaborador da South American Review of Imaginary Paleontology, periódico classe A1 da CAPES, venho através deste blog trazer algumas novidades da Palentologia Imaginária para o publico leigo)



Uma das mais controversas questões paleontológicas de todos os tempos foi, sem dúvida, a discussão sobre o rufus autofagus. Pra começo de conversa, as evidências sobre esta espécie são muito difíceis de ser encontradas. Os primeiros exemplares conhecidos vieram do carbonífero da Mongólia. Em geral, os espécimes encontrados são esqueletos mutilados, onde pedaços de membros superiores e inferiores, bem como a cauda, se encontram esmigalhados ou desaparecidos. Inicialmente, acreditava-se que essas mutilações eram devidas a predadores naturais da espécie. Pelo esqueleto, inicialmente pensou-se que seria um anfíbio apodo, uma vez que os membros encontravam-se tão mutilados que era impossível perceber ramificações de membros inferiores ou superiores. Imaginou-se, a principio, que o rufus autofagus poderia ser uma espécie intermediaria, numa linha evolutiva entre a cobra-d’água e a salamandra. Num congresso realizado em Perm, nos Urais, foi proposto o nome rufus semiapodus pelo insigne paleontólogo russo AV Vassili (Vassili, 1904), baseado principalmente em seus espécimes coletados na Mongólia.
A grande revolução ocorreu no congresso de Paleontologia Imaginária de Paris, quando Abou-Bekhar (Abou-Bekhar, 1938) apresentou um espécime coletado no Cazaquistão onde se via claramente um animal quadrúpede engolindo o próprio rabo. Depois de muitas discussões, um congresso realizado em Cartagena, na Colômbia, estabeleceu oficialmente o nome rufus autofagus para este fóssil. Desde então, muitos exemplares tem sido achados e sabe-se que sua distribuição geográfica era muito mais extensa do que a principio se imaginava. O rufus autofagus foi descrito no permiano do Kansas, e em camadas triássicas da Alemanha. Parece ter tido uma larga distribuição geográfica por todo o Pangea, desde o carbonífero até o triássico.

Por ocasião do Congresso Paleontológico de Paris, em 1938, o rufus autofagus chamou a atenção de ninguém menos que Carl Gustav Jung. Jung, num dos seus poucos escritos relacionados com a paleontologia (Jung, 1943), chamou a atenção pelo fato do rufus autofagus já ter sido representado em manifestações simbólicas antigas, como o uróboro, ou a serpente que engolia a própria cauda. Para os gregos, isso significava o principio do eterno retorno, tendo significações simbólicas profundas na psiquê ocidental.

Hoje se sabe que os rufus autofagus conseguiam sobreviver em condições de extrema escassez, substituindo sua dieta essencial por pedaços de seu próprio corpo, em geral a cauda e os membros inferiores. Mas há evidências de que alguns espécimes poderiam ter ido além desse auto canibalismo, e se autodevorado completamente, como relatado por Aparício Fernandez no Congresso Paleontológico Imaginário de Vina Del Mar em 1988 (Fernandez, 1988). É possível que, com a evolução da espécie, ela tenha se dedicado a se devorar como uma forma de sobrevivência e que isso se tornou sua principal fonte de alimento no começo do mesozóico. Com essa excessiva especialização, não é de se espantar que uma espécie que se prede a si mesma acabe se extinguindo. 

quarta-feira, 13 de julho de 2011

terça-feira, 12 de julho de 2011

ESTA É DO PANTALEÃO

Meu avô, Manoel Picanço (1904-1967) escrevia um diário, onde contava causos e anotava fatos do cotidiano de Antonina. Se tivesse conhecido a internet, "seu" Maneco com certeza seria blogueiro...
  O Sr. Manoel Pantaleão de Castro, depois que enviuvou, logo que via uma moça perguntava se queria casar com ele. Apesar de seus 74 anos, explicava, ainda se sentia disposto, e rápido apresentava as propostas: você vae morar comigo, eu te darei tudo, criadas, vestidos de seda, etc.
Um dia estava o mesmo, virando arroz em casa para firma P. Rodebar em um prédio da Rua Dr. Vicente Machado (ano 1945, mês de junho), quando viu uma morena de seus 30 e tantos que ia passando, e não custou chamar e lhe fazer a proposta. A Senhora, que era casada, disse que logo lhe daria a resposta.
Logo depois aparece um estivador, e encontrou na janela do prédio o Sr. Joaquim Soares de Lima, chefe do engenho da referida firma. Pergunta se o Sr. Pantaleão estava, no que foi atendido. O Sr. Soares retirou-se e ficou por traz das paredes, escutando a conversa.
O cidadão disse ao Sr. Pantaleão: ”O Senhor, velho sem vergonha, foi fazer proposta pra minha mulher!”.
E o Pantaleão fingindo-se de surdo, somente respondia: “não”. O Estivador continuou: “se o senhor não fosse um velho eu lhe daria uma lição”, e tirando uma faca da cintura disse – “não vale a pena, senão te mostrava como se faz uma bainha nova para a faca”.
E o Pantaleão só respondia “não”. Quando o rapaz sahiu, o Sr. Soares disse ao Pantaleão: ”viu o que acontece meter-se com quem não conhece?...”.
O Pantaleão perguntou: “o que foi que ele disse?”.
O Sr. Soares: “... ele te metia a faca, Pantaleão!”.
O Pantaleão respondeu: “eu não ouvi... pensei que ele queria que amolasse a faca para ele, eu não tenho pedra de amolar, mas se eu ouvisse bem tudo o que ele falou, eu voava a janela e moia este patife lá fóra... eu tenho setenta e quatro anos... mas não me troco por esses rapazes, tomava-lhe a faca e dava-lhe uma lição...”.

terça-feira, 5 de julho de 2011

OS PRIMÓRDIOS....

Era um fim de tarde, e eu estava aqui, finalizando meus estudos e olhando alguns mapas históricos de uns sites de museus. Um dos melhores sites de mapas antigos é o do IEB-USP, que tem a coleção de mapas do almirante Max Justo Guedes, um dos maiores historiadores navais do Brasil. Tem também os mapas históricos apreendidos quando da falência fraudulenta do Banco Santos. Foi quando vi o America Meridionale - Mar del Sud, mapa de Vincenzio Coronelli. Até aí, nada de mais, um mapa veneziano do final do século XVII, mais exatamente de 1692. 
America Meridionale, Mar del Sud, Mapa de Vicenzo Coronelli, 1692

Quando eu começo a ver com o zoom, vi que a baia de Paranaguá estava bem marcada, coisa bastante rara. A baia de Paranaguá começa a ser bem cartografada em meados do seculo XVII quando se descobrem os aluviões auríferos de Morretes e Antonina (para mais detalhes clique aqui). Mas, para meu espanto...uma indicação de "povoação" a oeste de Paranaguá, marcadas ambas com uma pequena bola. Seria a primeira referência cartográfica da Deitada-a-beira-do-mar?
Detalhe do mapa mostrando a povoação sem nome no fundo da baia de Paranaguá

BUEMBA! BUEMBA! BUEMBA! Como diria o Macaco Simão! Reparem na pequena bolinha a noroeste de Paranaguá: seria um registro cartográfico da atual Antonina? É bom que não esqueçamos...nosso fundo de baía foi chamado de "Freguezia de NS do Pilar" depois que foi levantada a Capela. em 1714 .O nome Antonina, ou "Villa Antonina" é de 1797, quando nos emancipamos de Paranaguá. 
O que o mapa de Coronelli está mostrando é que os fundões da baia já estavam povoados em 1690, a ponto do cartografo colocar ali uma indicação de povoação. Nem Curitiba está marcada no mapa, embora tivesse se emancipado de Paranaguá em 1693. Por que? provavelmente porque quem fez o mapa o fez a partir de informações da marinha, de quem estava dentro de um navio. 
Poderia ser Morretes? A bolinha está indicando uma povoação a beira do mar. Morretes foi se constituindo no interior, ao longo do rio Nhundiaquara e do Arraial. Outro erro do cartografo é colocar um "rio de São Francisco" nascendo na serra do mar. Na certa ele está projetando a foz da baia de Babitonga (no mapa está escrito bapitanga), onde fica São Francisco do sul, em Santa Catarina. 
O pouco conhecimento que tenho de lidar com mapas antigos nos diz que, embora os erros sejam frequentes, os acertos tambem o são. A importância da baía de Paranaguá é inconteste no mapa. Se ele colocou uma povoação no seu interior, no minimo foi pra mostrar a sua relevância, derivado de alguma informação que possuía. 
E essa povoação sem nome bem pode ser a terra-mãe dos bagrinhos, onde curtimos a alegria da vida e o vazio da existência num dos lugares mais belos do planeta. Os venezianos do século XVII já sabiam.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

IGNOTUS IGNATUS

(a Paleontologia Imaginária é um ramo da Paleontologia que trata de animais incertos; é um ramo do conhecimento que faz fronteiras com a paleontologia, a geografia, a física molecular, a psicologia e com Morretes (PR). Como membro da Sociedade Brasileira de Paleontologia Imaginária (SBPI) e colaborador da South American Review of Imaginary Paleontology, periódico classe A1 da CAPES, venho através deste blog fazer a divulgação científica da Palentologia Imaginária para o publico interessado em ciências)

O ignotus ignatus é bastante característica do Siluriano, período nos quais os indícios desta espécie são mais abundantes. No entanto, sua presença foi reconhecida em quase todas as eras geológicas, em diversos níveis de importância.
É muito difícil fazer qualquer inferência mais acurada sobre o ignotus ignatus, reconhecem renomados especialistas, como W. Allen. De acordo com Allen (1978), as evidências quase sempre são indiretas, e os espécimes encontrados não estão em bom estado de conservação, em geral isolados.  São pedaços de chicletes, bolsas a tiracolo, entradas de cinema para filmes cult em sessões menos disputadas, muitas vezes foram encontrados garrafas de vinho e um só copo junto aos fósseis (Allen, op.cit.).
Imagina-se que o ignotus ignatus tenha sido uma espécie muito tímida, que sempre evitou estar junto as grandes aglomerações de animais.  Reservada e solitária, os ignotus eram avessos a badalações, tendo algumas características melancólicas. Vagavam tristemente pelas paisagens de diversas épocas, sempre a margem dos acontecimentos sociais, em geral sem levantar muito ruído. Segundo Zhivago (atas do Congresso de paleontologia imaginaria de Kuala Lumpur, 1954), os ignotus não são característicos de grandes ambientes, amplos e devassados espaços abertos, e sim de pequenos ambientes onde podem estar isolados, curtindo sua solidão e tentando vencer sua proverbial timidez.
Outros especialistas (Pereira, 1989; Jimenez, 1995) acreditam que algumas espécies de ignotus possam ter vencido sua timidez e evoluído para outras espécies mais enturmadas, e tido sua vez nas rodas e badalações através dos éons. No entanto, isto é ser difícil de ser provado, pois, tímidos como eram, não sabemos como eram as manifestações públicas dos ignotus. Em geral, devem ter se dedicado às artes plásticas, ou podem ter sido bons e discretos empregados em grandes manadas, onde preferiam, por sua natural aversão, ficar sempre a margem das coisas (Jimenez, atas do congresso de paleontologia Imaginaria de Vina del mar, 1988).
Por que o Siluriano? Talvez por que este foi um período de transição, onde as grandes manadas de animais iniciavam seus caminhos pelos mares do planeta, depois que a grande radiação adaptativa completou-se. É aí, no Siluriano, portanto, uma era geológica ela mesma muito tímida, situada entre o ruidoso Cambriano e o prolífico Ordoviciano, que, em alguns nichos mais isolados do ambiente, podem ter proliferado os primeiros ignotus. No início, segundo os dados paleontológicos disponíveis (Correa, 1998), os ignotus até geram alguma simpatia. Depois, sua postura em nada se modifica, e com isso eles geram certa impaciência nas outras espécies, seguida, após algum tempo de espera, por uma atroz indiferença. Percebendo esta reação, provavelmente os ignotus interpretaram como sendo derivada de alguma coisa errada que fizeram, sentem-se muito mal, e desaparecem de vista. Desaparecem do registro geológico. Escafedem-se
Os ignotus desapareceram, segundo W. Allen (1978), porque não conseguiram vencer sua timidez. A maior parte desaparecia ainda na adolescência, de angustia e outros males ligados à idade. Se porventura atingem a idade adulta, tem muita dificuldade para encontrar parceiros, uma vez que quase sempre se encontram isolados ou em locais bastante distantes entre si, sem comunicação. Assim, portanto, não conseguem perpetuar a espécie. No entanto, não desapareceram totalmente, seguindo a beira das rodas de conversa de outros animais extintos com seus olhares vivos e sua boca fechada, seus suores frios quando solicitados a falar.