Gente feliz num domingo de sol em Trafalgar Square |
“Estamos felizes e
sabemos disso”, estampava uma manchete interna do jornal inglês The Times na semana passada. “Mas o quanto isso pode durar?”, indagava ao final. De fato, os dias que passei na Grã-Bretanha foram dias de muito sol
e calor. Isso altera o humor das pessoas. Para aumentar ainda mais a alegria
inglesa, o desempenho de sua seleção na Copa do Mundo, chegando pela primeira
vez desde 1990 numa semifinal da Copa também contribuía para a alegria
nacional.
Bem que percebi. Quando soube dos prognósticos do tempo na Velha
Ilha, tratei de botar na minha mala algumas roupas de frio. O verão costuma ser
mais ou menos o nosso inverno em Campinas. Temperaturas entre 14 e 25°C . No
entanto, em alguns momentos de nossa estada por ali, vimos temperaturas de até
30°C, numa onda de calor que já dura quase dois meses.
Nas ruas, viam-se shorts, bermudas, sandálias. Filas para
sorvete. Ruas lotadas, praças mais ainda. À noite, casais passeavam pelas ruas
de mãos dadas, felizes. O índice de alegria dos ingleses é em média 7,3/10 segundo
a matéria do Times, citando um trabalho de Andy Rope, chamado em tradução livre
de “Felicidade: seu roteiro para a alegria
interior”. No entanto, naqueles dias quentes de verão e bons resultados do
futebol, a alegria inglesa beirava os 9,5 segundo o jornal.
Claro que não era tudo maravilha. A própria matéria reconhecia
que eles estavam num momento atípico. Lembravam do mau humor britânico de 2016,
quando eles perderam George Michael, Prince, David Bowie. E, além do mais, eles
votaram pelo Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia.
Naquele momento, nos finais de semana de verão, o centro da
cidade era tomado pelas pessoas. No sábado, 7/julho, o Gay Pride londrino reunia
dezenas de milhares de pessoas no tradicional bairro gay do Soho, numa alegria
carnavalesca. Britânica, é claro. As grandes avenidas do centro estavam
proibidas para os carros, e haviam diversos shows de música pelas ruas, de todos
os tipos e gostos. Enfim, dias bons e alegres.
Na Trafalgar Square, as pessoas se acumulavam a beira dos
chafarizes, conversando, tomando sorvete, bebendo cerveja. Famílias inteiras,
muitos idosos, pessoas de todas as cores e todas as procedências. Africanos,
indianos, asiáticos, e muitos latino americanos. Deus, como tinha brasileiro
por lá! Volta e meia ouvia-se aqui e ali uma língua que eu conseguia entender
mais ou menos. Trafalgar Square estava linda e ensolarada. Tanto que lá de cima
de seu monumento colossal, Lord Nelson deve ter tido vontade de descer e
aproveitar o momento.
Segundo um depoimento do prof. Richard Wiseman (!) da Universidade de
Hertfordshire nesta mesma matéria do The Times,
quando o sol aparece as pessoas se tornam mais dispostas a aceitar e ser
generosas com estranhos. No entanto, acima dos 21°C as pessoas vão se tornando
mais agressivas e violentas. (Ainda bem que nós, seres dos trópicos, não
participamos desta estatística...).
Os (poucos) dias que passei em Londres deu pra sentir essa
alegria. Andamos e muito pelo centro da cidade, onde com frequência víamos as
pessoas espantadas com tanto calor. E com tanto sol. De volta para a ensolarada
Campinas, com temperaturas parecidas (mas no inverno!), fico aqui pensando como
temos estado tristes e depressivos com nossa situação, com nossa política, com
nossa economia. Estamos tristes nos trópicos.
A alegria dos britânicos dura pouco, e por isso mesmo, é bom
que eles aproveitem. Segundo o peculiar humor deles, as vezes o verão (lá
deles) cai no fim de semana. A matéria do Times terminava alertando para que as
mudanças sazonais de humor não impactem tanto nossas vidas. Prof Wiseman, sábio
como ele só, diz que “temos que ligar
nossa identidade com coisas que estão no nosso controle, como o trabalho ou
relacionamentos”. Ser um pouco estoico ajuda, segundo ele. A matéria termina
clamando por mais estoicismo e por mais drizzle,
a chata garoa londrina.
Nós aqui, no nosso ensolarado continente, precisamos superar
nossa tristeza e apatia. Como? Tem várias maneiras. Ajudar uma causa, comer
comida saudável, fazer exercícios. Participar dos problemas do nosso trabalho, do
nosso bairro. Estar com a família, os amigos. Escolher bem seu candidato nas próximas
eleições. Procurar soluções coletivas para problemas comuns.
Os ingleses até podem atrelar a alegria deles a um verão, ou
à seleção de Gareth Southgate (?).
Para nós, alegria é a prova dos nove.