sábado, 31 de dezembro de 2011

FELIZ 2012!


Um Feliz 2012 a todos os leitores deste blog modesto, mas honesto!

Faltam doze horas mais ou menos pra encerrarmos este notável ano de 2011. O notável aí da primeira frase nada tem a ver com o que é digno de nota, tanto para pior quanto para melhor. Foi um ano pra se arregaçar as mangas, pra protestar, pra se encantar, enfim, pra viver. Foram 365 dias e 4 horas em que vivemos com bastante intensidade, todos nós, os sete bilhões.
Em março, vimos a tragédia se abater sobre a Deitada-a-beira-do-mar, causando morte e dor. Nunca vi e espero não tornar a ver minha querida cidade natal em tamanho desespero. No entanto, foi também tempo para que eu conhecesse muitos novos amigos, e que descobrisse minha cidade por novas abordagens e ângulos diferentes.
Também foi um ano de muito trabalho. Foram muitas coisas novas, muitos cursos e muitas pessoas novas que conhecemos. Estivemos em vários lugares do Brasil e fomos ao México em setembro. Emocionei-me ao subir as pirâmides de Teotihuacán e ao visitar a Casa Azul de Frida Kahlo e Diego Rivera. Fizemos, também, muitos bons amigos pelo mundo: México, Espanha, China, Coréia, Índia.  Eu particularmente fiz um grande amigo que tem me acompanhado desde então: Gusano, o verme engarrafado, o melhor amigo do homem.
Aqui no blog, foi um ano de novidades, pois troquei a base pelo blogspot, com a qual vou me acostumando e que vai tudo bem, obrigado. Alem da minha parceria com o Neutinho, que andou meio devagar pelo excesso de trabalho de ambas as partes, gostei muito de acompanhar o inefável, inolvidável e imprestável Ornitorrinco. Cequinel, vou tentar me organizar e postar mais e melhor em 2012!
E a blogosfera capelista? A extraordinária Blogosfera da Deitada-a-beira-do-mar, com seus cerca de 40 blogs das mais variadas extrações ideológicas, planetárias, clubísticas, de credo, etc., e que não para de gerar blogs e mais blogs, como entende-la? 2011 viu surgir mais alguns blogs, alguns bons, outros mais ou menos, mas todos repletos de amor pra dar pela terra de Valle Porto e Tube. Acho que 2012, com a política municipal esquentando os tamborins, não vai ser diferente.
Ao final do ano, perdemos muitas pessoas de quem gostava. Em novembro, perdemos Sócrates Brasileiro, o grande filósofo da bola, meu ídolo de sempre. Em dezembro, perdemos nós, antoninenses, Dona Laura. Serena como veio, serena se foi, deixando não só Geraldo, Alexandre e Rafael órfãos. Perdemos nossa grande professora, nossa grande mestra. Quando ela era diretora da Escola de Aplicação Rocha Pombo, a instituição  mais do que merecia ser chamada de "Escola Risonha e Franca" de que tanto falavam os pedagogos. Mas nada de pedagogia, isso mais tinha a ver com a maneira doce e gentil de Dona Laura dirigir aquela instituição e aquele grupo de professores e alunos. Descanse em paz, dona Laura!!
Enfim, acaba 2011. Nesta noite, podemos pular doze ondas, comer doze uvas Itália, jogar um barquinho pra Iemanjá, ou prometermos parar de fumar, de beber, etc. Nada vai mudar se não mudarmos por dentro, por fora, pelos lados, enfim, mudar integralmente. Se 2012 for realmente um ano de mudança, vamos fazer isso de verdade.
Um bom 2012 a todos!

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

OCCUPY ANTONINA


O ano de 2011 por terminar, foi um desses anos incomuns em que o tempo parece se acelerar. Assim como 1968, ou 1917, ou 1848, este ano em que estamos é um daqueles em que, por excesso de desesperança, as pessoas começam a se mexer, a fazer barulho. E o excesso de desesperança vira um excesso de esperança (assim somos nós, humanos...). No começo um barulho pequeno – no caso dos países árabes foi um vendedor ambulante que, escorchado por fiscais, acabou por imolar-se. Um brutal gesto de desespero nas ruas de Tunis virou um tsunami de revoltas que se espraiou pelo mundo árabe inteiro. Um após um, os povos se levantavam contra seus governantes, exigindo mais liberdade. Não é todo o dia que isso acontece. Aconteceu em 1848 na Europa, num movimento tão extraordinário que os seus contemporâneos chamaram de “primavera dos povos”. Um a um os governos caiam, ou prometiam reformas, ou massacravam o povo. Impulsionado por estes eventos, 1848 foi o ano em que os jovens  Marx e Engels produziram um dos livros de maior sucesso nos 150 anos subseqüentes, o Manifesto Comunista.
Iniciado no mundo árabe, o movimento logo se espraiou: na Espanha surgiram os indignados,  os gregos foram as ruas protestar, e o movimento atingiu os estados unidos, com o “Occupy wall Street”, questionando o sistema financeiro e seus operadores que produziram a presente crise econômica, a mais brutal crise mundial desde o crash da 1929, e ainda sem solução à vista. Agora, no fim do ano, os protestos tomam conta de moscou, dando conta de que a Rússia ainda precisa de mais democracia.
Aqui no Brasil também foi um ano de revoltas, embora de menor proporção. A principal delas foi a greve na USP, originada de um motivo banal e depois evoluiu para uma greve dos alunos, fato raro, e que se colocam contra a repressão policial e contra o autoritarismo das Universidades. É fácil ser a favor dos milhares que protestam na praça Tahrir por mais liberdade, assim como pelos insurgentes Líbios ou pelos espanhóis indignados. Aqui, o velho preconceito de classe contra os estudantes tachou-os simplesmente de “vagabundos” ou “maconheiros” sem ouvir o que havia de sensato em suas vozes, o que é uma pena. Tachar sem ouvir é reduzir seu oponente a um slogan, evita pensar muito sobre o tema e facilita na hora de você decidir ser violento contra eles: desordeiros, baderneiros, vagabundos, subversivos...quem se lembra destas palavras em outros tempos?
Não moro mais em Antonina, mas 2011 me permitiu, em função da grande tragédia que se abateu sobre nossa cidade, conhecê-la mais de perto. Subi o morro por lugares que não conhecia, vi gente que nunca imaginei encontrar. Encontrei jovens vagando pelas ruínas da laranjeira, conversei com meninos que estudam nas escolas do município. Nada que pudesse antever um processo de “Occupy Antonina”, um sinal de alguma revolta que está por vir. Nossos jovens, na Deitada-a-beira-do-mar, no entanto, bem que poderiam pedir por mais oportunidades, mais escolas, mais educação, mais esportes e lazer.
No ano que em breve se inicia, teremos eleições municipais, e com isso o debate aqui na blogosfera vai pegar fogo, pois  é uma área onde estes interesses vão estar expostos de maneira mais crua. A minha intuição indica que interesses eleitoreiros, por si só imediatistas e interesseiros, vão prejudicar qualquer debate sério. Pode ser só preocupação de um velho rabugento que estou virando, mas há tempos venho dizendo isso. Do jeito que é, vai ser como sempre: nosso sistema político é uma merda, com o perdão da palavra. Todos os partidos – todos! – vão se locupletar no clientelismo e na demagogia, explorando a credulidade onde possível, comprando votos onde isso é tolerado. Um povo que não tem educação e não tem as mais básicas noções de cidadania é tratado assim, continuamente espoliado.
Até quando?

domingo, 25 de dezembro de 2011

CONVERSAS COM GUSANO (3): APRENDER COM A VIDA


Meu amigo gusano, Cantando Cucurrucucú Paloma num momento de profunda descontração

Estava estes dias conversando com meu amigo Gusano, o verme certo das horas incertas, meu querido e engarrafado amigo mexicano, sobre as coisas que sempre conversamos: a essência da vida, o ministério da Dilma, as possibilidades do rubronegro nas profundezas da segunda divisão e a existência de Papai Noel.
Segundo dizia Gusano, a vida é um contínuo aprendizado. “Como assim?”, perguntei eu. “A gente só pára de aprender quando está morto”, disse ele num tom filosófico e profundo.  “Ou quase morto”, me disse Gusano com um certo sorriso de ironia que só os vermes são capazes. Ficamos ainda um tempo revendo estes conceitos, ao som da chuva torrencial que caía lá fora, entupindo as calhas com as folhas de um grande eucalipto que tem no outro lado da minha rua.
Quando acordei, fiquei pensando se estou mesmo aprendendo coisas novas, e imaginei uma lista de coisas importantes que aprendi ao longo de 2011:
1)      É preciso juntar muito leite no purê de batata para que os escondidinhos fiquem mais fluidos e o recheio fique mais saboroso;
2)      Os povos árabes estão de saco cheio destes pulhas que ficam se revezando no poder durante os últimos anos, desde a segunda guerra mundial. As revoltas árabes são um momento de re-organização dos estados nacionais árabes – entidades ainda um tanto jovens e imaturas. Felizmente para eles, nesta reorganização não há espaço para pulhas como Gadaffi ou Mubarak.
3)      Solos rasos derivados de rochas graníticas, quando empapados por uma longa temporada chuvosa, podem dar origem a escorregamentos rotacionais e corridas de detritos, como as que tivemos em tantos lugares do sul-sudeste do Brasil em 2011, e em Antonina em particular.
4)      A palavra chapolin, no idioma nahuatl, a língua dos Astecas, significa gafanhoto. Logo, Chapolin Colorado significa Gafanhoto Vermelho, o que explica aquelas antenas gigantes do nosso super-herói favorito.
5)      Você pode ser campeão do mundo de futebol se você praticar rodinha de bobo quase até a perfeição, somado com duas ou três tabelinhas e chutes a gol. Arrecuar os arfes ou escalar dez volantes pescoçudos e um goleiro servem pra se defender do Barça.
De resto, continuo sem entender nada de nada do mundo e das coisas.
Por exemplo, sobre o mercado financeiro. Como é que pode os caras ficar fazendo mágicas com dinheiro dos outros? Qual seria o tamanho dos tais dos mercados, que dia sim dia não engolem grandes empréstimos da união européia e ainda continuam pedindo mais? Como assim, um dia de pânico nos mercados? Aqui fez um dia bom, calor, chuva no fim do dia, ventos fracos a moderados, visibilidade boa.
Mulheres: tenho esposa, mãe, sogra, irmãs, tias, primas, amigas, colegas, uma filha, mas ainda sou um bebezinho tentando entender o que elas querem. Tenho que ser romântico, selvagem, sensível, provedor, uma mistura de brucutu com Fred Astaire. Como assim? Gusano, ali dentro da garrafa de mezcal, sorri com desdém. Existem respostas, mas esses seres de outro planeta que sabem descrever uma pessoa com um segundo de olhada, de lembrar tintin por tintin o que você falou pra elas anteontem, que são capazes de ficar uma hora se pintando, de arear panela, de fazer salmão com brócolis?
Enfim, caro amigo Gusano, algumas coisas são fáceis de aprender, e aprendemos depressa. Outras, como as acima mencionadas, levam mais tempo. O que acho que nunca vou ser capaz de aprender enquanto estiver deste lado da vida, é aprender a conviver com perdas, principalmente com a perda de pessoas queridas. Sou muito egoísta, confesso. É difícil saber-se no mundo sem pessoas como Dona Laura, a doce dona Laura, uma das mais belas e otimistas pessoas que jamais conheci. Como aprender a viver num mundo sem ela? Gusano, ali mergulhado na garrafa de mezcal, finge que não é com ele. Esse Gusano! Finge que tem as respostas e depois se esconde. Ainda tem muito que aprender, este verme! 

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O PINHEIRINHO DA PRAÇA CEL MACEDO


Meu avô, Manoel Picanço (1904-1967) escrevia um diário, onde contava causos e anotava fatos do cotidiano de Antonina. Se tivesse conhecido a internet, "seu" Maneco com certeza seria blogueiro...








O Jardineiro da Praça Cel. Macedo, no dia 24 de dezembro de 1949, ganhou da Sra. Dona Ester da Silveira, um pinheirinho para plantá-lo na praça. O Sr. João Barbosa, o jardineiro, plantou o referido pinheiro no canteiro central . A tarde, a esposa do Dr Carlos Gomes, M.D. Prefeito Municipal, resolveu enfeita-lo, o que foi feito. E os enfeites ficaram no referido pinheirinho, muito bonito, todo iluminado etc.
No dia 27, estando se formando mau tempo, fui falar ao jardineiro, na conveniência de ser retirado os enfeites, que poderiam ficar inutilizados com a chuva. O Sr João Barbosa me respondeu: 
"O Dr Carlito me disse que deixasse os enfeites, e mesmo que irão me avisar se deveria retirá-los, e eu acho melhor assim que o pinheirinho vá crescendo já com os enfeites, que nunca mais precisa enfeitar".

(Este pinheirinho foi arrancado da praça em março de 1956 - quando prefeito - Dr. Carlos Eduardo Maia)

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

DONA LAURA


O telefone, cruel, começa a fazer seu ruído na cozinha: é minha mãe, com notícias nada boas de Antonina: faleceu Laura Veiga de Camargo, Dona Laura, a boa, bela e doce Dona Laura não está mais entre nós. Consta que faleceu serena, como serena viveu. Impossível não chorar neste momento triste.
No entanto, ora bolas, somos egoístas: choramos pela sua perda, mas choramos por nós e pela nossa perda. Dona Laura, pessoa boa e bela, viveu a vida com prazer e intensidade, sempre fiel às coisas em que acreditava. Para onde foi, foi com certeza em paz. Se existe vida após a morte, com certeza ela estará no céu, ao lugar destinado às pessoas boas. Se não existe – dessas coisas nada sabemos – fica o seu exemplo e a lembrança de sua vida boa e digna. Para nós, que continuamos na toada da vida, temos que honrar, respeitar e lembrar seu nome e seu exemplo.
Para todos, Dona Laura dava sempre um sorriso, um carinho, uma palavra de apoio. Lembro-me especialmente de um dia em que, no primeiro ano primário, tive um ataque de choro e queria ir pra casa. Ainda não estava acostumado com a vida de escola. Dona Laura me acalmou, me levou pra fora, tranqüilizou-me e me deixou desenhar com os pincéis atômicos numa folha de papel que ela me entregara. “Sabia que os astronautas na lua escrevem com ele?” me disse, com carinho. Era o tempo das viagens espaciais e da Apolo 11, e eu era vidrado no mundo da Lua (ainda sou, confesso!!). Com a conversa de Dona Laura, me tranqüilizei e voltei pra minha sala. E continuo até hoje entre os muros da escola.
Lembro-me com carinho de sua casa e do seu quintal cheio de goiabeiras que tão generosamente compartilhamos na infância, os meninos da minha rua. Lá, montamos os circos que Rafael fazia, víamos e participávamos dos espetáculos circenses. No carnaval saímos acompanhando o boi de Rafael, sempre sob o olhar carinhoso de dona Laura vendo aquela piazada entrar e sair de sua casa, feliz e generosa como ela só sabia ser.
Cheguei a freqüentar – pouco, menos do que deveria – sua casa de Curitiba, casa cheia de gente boa, agora a casa de Geraldo Leão, de Rafael, onde conheci e curti muitos artistas da cena curitibana. Como a casa de infância, continuava sendo uma casa generosa, onde todos entravam e saiam felizes, onde se viam pelas paredes quadros de Geraldinho e ouvíamos a musica de Rafael, sob o olhar feliz de dona Laura.
Mais recentemente, conheci a dona Laura dos belos e singelos textos, alguns publicados pela prefeitura nos anos 90. Outros textos, conheci pela rede mesmo, como o belíssimo texto dos “Sons de Antonina” que postarei logo a seguir. Contavam histórias belas, histórias engraçadas, historias cheias de emoção, como a das brincadeiras de Seu Geraldo Leão, seu marido, das historias dos caranguejos com velas nas costas assombrando as crianças como almas penadas, historias do cotidiano da cidade: a chegada do navio, do trem, os sons das pessoas trabalhando e vivendo. Tudo isso tomava um ar de saudade e melancolia, mas com uma leveza e uma alegria que só ela, dona Laura, poderia proporcionar.
Estive há pouco com ela, acho que no inicio do ano: veio nos visitar em casa de minha mãe, e, na volta, a deixei em sua casa antes de subir a Serra pra Curitiba. Conversamos sobre diversas coisas, rimos muito, saímos felizes de sua casa, a pequena casinha no Buraco da Onça, casa boa e generosa como as casas que conheci na infância e na adolescência.
Ao lembrar dela, aqui de longe, lembro de seu sorriso, de sua risada galhofeira, da ternura de suas palavras, da maneira com que se dirigia a nós, sempre pelos diminutivos: sempre me chamou de “jeffinho”, assim, com carinho, embora tenha virado esse grandalhão feioso que hoje sou. Com ela do meu lado contando histórias em casa de minha mãe, me senti pequeno e magrinho, com vontade de tomar dolé de maracujá no bar ao lado de sua casa, ali do lado da casa de minha avó. Dona Laura, que falta a senhora nos faz!
(meus pêsames a toda sua família, de quem tanto gosto)

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O FIM DE 2011


O ano se afunila. Por um lado é prova, choro de alunos que dormiram o ano todo e que agora acordam, desesperados. Por outro, é um numero infinito de bancas de Trabalhos de final de curso, de pós-graduação, de iniciação científica, de pareceres pras reuniões de departamento, enfim, os cavacos do oficio. Por outro, confraternizações, festas de fim de ano, cervejinhas de despedida, jantares comemorativos. Ou seja, uma hora o bicho pifa. Me livrei de males de fígado e d estomago este ano, sendo moderado no consumo das iguarias pré-natalinas. Mas as noites mal-dormidas e o estresse estão me rendendo um resfriado leve e uma dor de garganta renitente. Bom, dizem que de 2012 não passamos...
E que ano foi este ultimo! Mal terminada minha mudança aqui pra Barão Geraldo, vejo minha cidade envolvida na lama. Não a lama de Brasília, podre, malcheirosa, ou a lama de Curitiba, com suas famílias superpoderosas fortemente agarradas às tetas do estado. A lama de Antonina é a lama do caulim do morro da Laranjeira, tão fatídica, que nos cobrou duas vidas.
Felizmente, boa parte do meu ano foi gasta com isso: estou envolvido com vários estudos que tentam descobrir como e porque isso aconteceu. E, mais que tudo, o que se pode fazer pra evitar – ou minimizar novas tragédias. Subi bastante os morros, conheci pessoas e lugares que nunca tinha sonhado em conhecer, vi a igreja do Pilar e a baia de tantos lugares diferentes: Mirante, Portinho, Tucunduva, Buraco da onça ...
Conheci varias pessoas e fiz novos amigos. Sou muito grato, já disse isso e não custa repetir, ao Erly Ricci, ao Claudio topógrafo, ao Capim Seco, ao Paulinho Broska, ao meu querido Zé Paulo Azim, que tornaram mais fácil meu trabalho naqueles dias. Mais fácil porque tive ajuda e empatia, o que fez tudo correr melhor.
Outra coisa importante foi trabalhar com o pessoal da Defesa civil, os bombeiros. Gente séria e comprometida com resultados, ninguém estava ali brincando ou se fazendo. Foi bom ter conhecido o Major Hiller, da Defesa Civil,
Eu não gosto dessa historia de vulto benemérito, de cidadão honorário. As vezes, é hipocrisia, é afago indevido. Mas, se por acaso do destino algum vereador da Deitada-a-berira-do-mar estiver vendo estas maltraçadas linhas: Rogério da Silva Felipe e Diclécio Falcade, da MINEROPAR, são candidatíssimos a uma homenagem deste tipo. Rogério e Diclécio, por exemplo, foram os técnicos responsáveis pela evacuação da laranjeira e da região do cemitério São Manuel. Se não fosse essa decisão, técnica (e política) teríamos visto uma tragédia de maiores proporções em nossa terra. Se tivemos óbitos, não foi por causa deles. E repito – os capelistas tem uma grande divida com estes dois cabras.
As chuvas estão voltando. Estes dias, alagaram minha casa e molharam uns livros no meu escritório. Praticamente nada, mas fiquei lembrando quanta gente que pode perder tudo com as chuvas de verão. O órgão da UFPR que trata de desastres, o CENACID, está a postos para agir nestes momentos. E eu também.
O ano termina, mas nós não. O calendário é só pra gente perceber que a vida é curta, e temos que comemorá-la. Estamos aqui, queiram ou não, por algum motivo, ou mesmo pela falta de motivos. Temos, portanto de fazer o melhor pra que esse caos nosso de cada dia tenha algum sentido. Um bom começo de fim de ano a todos!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

ANTONINA ANTIGA - IV


Eu sou já bem velhinho, daqueles que se lembram do tempo que tinha trem em Antonina. Lembro, com névoas na memória, de ter visto ainda uma Maria fumaça passando ali pela Caixa D’água. Naquele tempo, nos anos 60, a Maria fumaça já era uma antiguidade, e quando passava todos corriam a vê-la, com seu barulhão infernal e seu custo ambiental em lenha e fumaça inaceitáveis para nossa era de "seqüestro de carbono". Aos domingos, o trem chegava as 10 da manhã e a cidade se enchia de turistas. Quando ficava na casa da minha avó ali na Conselheiro Alves de Araujo, gostava de ficar com ela na janela cumprimentando os lotes de pessoas que iam passando.
 Cheguei mesmo a “passear” de clandestino no trem, junto com um bando de moleque que hoje é homem sério, enquanto a composição ia fazer manobras ali no triangulo, em frente ao hospital. Pelos padrões politicamente corretos de hoje em dia, era um perigo enorme. Mas a gente fazia só pelo friozinho na barriga de ser pego pelos guardas ferroviários. Ao que me conste, ninguém nunca se acidentou ou foi pego pelos famigerados guardas. De todo jeito, nossos pais não precisavam mesmo saber de nossas aventuras ferroviárias (Meu pai nunca soube e minha mãe vai saber se ler essa crônica, de formas que ainda me arrisco a levar umas palmadas).
A foto acima, da serie Antonina antiga, parece ser um desses momentos. Vê-se, na plataforma da estação o trem chegando, já eram as locomotivas a diesel, e – a foto está com pouca resolução – com algumas bandeiras na parte de frente. No centro da foto, como que vindo em nossa direção, a locomotiva chama nossa atenção de pronto. Começo mesmo a imaginar o seu barulho, o frenesi das pessoas na plataforma, os sons e cheiros do trem.
As pessoas não aparecem direito. Estão quase todas de costas, viradas para a locomotiva, todos parecem estar com os olhos fixados naquele monstro de metal que vem chegando. Em primeiro plano, um menino parece não se segurar de vontade de ir ver de perto a maquina. Quem seria o tal menino? Pela roupa das pessoas, devemos estar nos anos 60 do século passado. Poderia ser eu ou qualquer um dos meus amigos de então, todos meninos na primeiríssima infância. Que momento de êxtase deve ter sido essa e outras chegadas de trem.
Mas são espetáculos para serem vistos em velhas fotos. Não tem mais trem em Antonina, e o velho ramal está bastante sucateado. Vi estes anos algumas discussões de meu querido Neutinho sobre a possibilidade de voltar a usar o ramal com viagens turísticas, a exemplo da viagem do tronco principal, que vai até Morretes. Nunca entendi muito bem as tais das discussões. Qual era mesmo o problema? Falta de vontade política? Falta de viabilidade técnica ou econômica? Ou pior, ambas?
O fato é que o trem e Antonina tem uma longa e bela historia em comum. Foi no apogeu do trem que Antonina viu seu apogeu econômico. Boa parte da infraestrutura industrial que temos está ligada à tecnologia ferroviária. Escrevi tempos atrás como seria interessante nossa querida Deitada-a-beira-do-mar promover o patrimônio histórico industrial que já tem. Algo como utilizar o Porto, reinstalar algumas maquinas antigas, contar a historia das dragagens e do mapa do Barão de Tefé, nosso grande defensor. Ali do ladinho, ver toda a já centenária instalação do Matarazzo que hoje está em ruína em meio à lamentável briga pelos despojos de uma família que já foi grande. Avô rico, filho nobre, neto pobre. Triste.
Mas, ao contrario dessas tragédias de hoje, a foto em preto-e-branco do trem está cheia de luz, vida e energia. Uma energia que irradia e passa para o lado de cá da foto. Por um momento, parece que nós também estamos lá naquela estação a esperar o trem parar. Curiosos, vamos nos chegando perto dos vagões pra ver as pessoas que vão chegando, umas pra visitar, outras pra passear e outras vem pra ficar ali, crescendo junto conosco.  Quem chegou nessa ultima viagem? a velha foto nos convida a saber quem veio de trem nos visitar. E se for a Felicidade? 

domingo, 4 de dezembro de 2011

CONVERSAS COM GUSANO (2); O RUBRONEGRO DESCE AOS INFERNOS


Gusano, meu amigo verme de mezcal, aquecendo-se para a rodada final  do Brasileirão'11

Vou assistir a rodada final em companhia de meu amigo Gusano, o verme da garrafa de mezcal. Afinal, os mexicanos tem um ditado: “quando tudo vai mal, mezcal”. Meu amigo gusano complementa: “quando tudo vai bem, também!”. É questão de minutos pra abrirem as cortinas e começar o espetáculo!!
17:00
Começa o sufoco. Eu e meu amigo Gusano estamos ansiosos. Gusano arrisca um “arriba!”, mas logo após sabemos do primeiro gol do Cruzeiro. Silencio de morte na residência no 310 da rua Alcindo Soares.
17:30
Gol do Vasco. Que se fodam esses cariocas. Sigo o Atle-tiba pela internet: Guerron acaba de ser desarmado. Eu lho pra cara de gusano, que faz cara de morto. O Cruzeiro está três a zero. O Bahia marca, mas pouco se me dá.
18:00
Cruzeiro 4 a 0, final de primeiro tempo. Gusano tenta me consolar, “ainda não terminou!”, diz ele. Tomo mais um gole de mescal.
18:15
Começa o segundo tempo. O Corinthians vai levando, o Vasco acaba de sofrer o empate. Pelo visto, o atletiba está meio murcho. Começa o jogo em minas, e o cruzeiro faz o quinto. Gusano dá uma olhada pro lado. Vou atacar a geladeira, porque La na baixada ninguém está atacando.
18:30
O Atlético, o Mineiro, faz um. “começa a reação!”, me diz Gusano. Começo a desconfiar que este verme não entende nada de futebol. Aqui, o Corinthians vai se garantindo. Bola na trave do Corinthians...o palmeiras vai assustando.
18:40
GUERRON!!!! Escorando o rebote após a falta de Paulo Baier!!! Dá-lhe Huracán!! Só falta os xarás mineiros fazerem mais 5 e estamos fora do rebaixamento!! Gusano me olha, com cara de pena.
18:45
Encho mais um martelinho de mezcal. Gusano está ansioso. Aqui, Corinthians e Palmeiras segue tenso, mas sem muitas chances de lado a lado. No Beira-rio, o Inter está ganhando do Grêmio e deixando o Coxa com vaga garantida na sul-americana.
18:55
Aos 43’ do segundo tempo, o pau está quebrando no Pacaembu...caiu minha internet...e aí na Arena? pelo amor de Deus!! Como assim erro na página? Gusano me pede calma. Dou uma bicada no copo de mezcal e escuto os rojões dos corinthianos, ainda tímidos, ecoando por Barão Geraldo.
18:58
Voltou a internet!! Gusano está tentando dizer alguma coisa! Mas estou vendo o fim do jogo. Aqui o pessoal está se acalmando. O Cruzeiro faz seis. É, acho que acabou.
19:01
Acaba o jogo no Rio. Foguetes começam a estourar aqui ao redor. E na Arena? Já acabou? Será que o Atlético Mineiro virou? Gusano tenta me chamar à realidade.
19:02
ACABOU!! Deu tudo errado!! Ganhamos do Coxa, o Bahia ganhou do Ceará, mas esse Atlético Mineiro...
Ao redor, ouço buzinas, o hino do Corinthians. Dia de gloria alvinegra.
E nós, estamos no inferno. Bom, pelo menos temos certeza disso. Nesse instante, Gusano me pergunta se estou bem. Sim, Gusano, estou bem, suzo bem. Mas acho que vou querer mais um gole de mezcal, meu amigo!!
Virgilio e Dante Aliguieri assistindo os jogos que definiram  os rebaixados;  o Furacão é o quarto,  de baixo pra cima

ADEUS, DOUTOR!!


Sócrates Brasileiro (1954-2011)

O ano era 1979. Eu tinha 16 anos e estava no terceiro colegial, achava que estudava pra burro, mas não estudava era nada. Vivia fazendo caricaturas dos professores, escrevia umas bobagens e desenhava alguns cartuns pro jornalzinho da escola. Era o começo do fim da Ditadura, e nós, no Grêmio da escola, nos achávamos de esquerda, heróicos lutadores contra a ditadura num colégio pequeno-burguês de Londrina. Pior que pequeno-burguês, confessional, dirigido por irmãos Maristas.
Mas não é que os Irmãos lá do colégio eram de esquerda? O mais “comunista” deles era o irmão Teófilo, que era nosso professor de historia e de Filosofia. Pela primeira vez tivemos que estudar conceitos como “modos de produção”, “Luta de classes”, “proletariado”, além de revisar as fases das Revolução francesa e  russa. O Bispo de Londrina se enfezou, os pais se enfezaram: o irmão Teófilo era um melancia, isto é, verde por fora, mas vermelho (comunista!!) por dentro. Estavam fazendo a cabeça de nossos filhos com proselitismo comunista.
Mal sabiam estes pais – o meu pai nunca se importou com estas questões, eu estava livre pra pensar o que quisesse – que já estávamos de cabeça feita antes do Irmão Teófilo entrar em nossas vidas. Em julho daquele ano – mais precisamente no dia 19 – as forças sandinistas entravam em Manágua, pondo fim aos mais de trinta anos da ditadura de Anastácio Somoza. Era com alegria que tínhamos em mãos um mapa da Nicarágua e ficávamos colorindo de vermelho os pontinhos das cidades que caiam em poder dos guerrilheiros sandinistas. Foi com jubilo que vimos o gordito Somoza pegando um avião e fugindo, os guerrilheiros em caminhões com os fuzis para o alto libertando seu povo. Sim, minha geração teve a sua revolução cubana, embora com menos brilho. Como era bom ser Sandinista naquela época!
Tinha também um grupo outro de barbudos em nossa mente. Os tais dos metalúrgicos do ABC, que com suas greves monumentais desafiavam a ditadura. Lembro de minha tia dizer de um daqueles barbudos: “o Lula tem a postura de estadista que muito estadista que está aí não têm”. Os debates daquela época eram sobre se montar um partido operário de uma vez ou lutar para acabar com a ditadura via MDB, depois PMDB. Claro que, com 16 anos só participava marginalmente deste debate, mas tínhamos estas e outras questões acesas em nossas mentes juvenis.

E tinha também um outro barbudo, um cara desajeitado que jogava bola de um jeito meio esquisito e que fazia passes de calcanhar que desconcertavam as defesas adversárias. Além do mais, era estudante de medicina em Ribeirão Preto. Um absurdo. Como o desengonçado perna-de-pau que sempre fui, virei fã daquele outro desengonçado que redimia nossa desejeitada categoria. Nos jogos Intermarista daquele ano, nossa equipe voltou dizendo que apanharam feio do time do Marista de Ribeirão: "o irmão do Sócrates estava naquele time!". É, olhando de hoje, não tinha mesmo pra ninguém.
Um dia, não me lembro porque, pichei um muro perto da casa de minha tia com grandes letras capitais: “Sócrates – Sandino”. Até hoje não descobri como meu tio adivinhou que quem escreveu aquilo fui eu...
Nos anos seguintes, só ia dar ele, o Doutor. Esquisito, jogando esquisito, correndo esquisito, mas com uma técnica inimitável, Sócrates foi nossa força e nossa voz. Até corinthiano fui, naqueles tempos de Democracia, assim, com “D” maiúsculo. Não tinha como não ser corintiano naqueles tempos. E os gols que fez, as jogadas que ele executou na copa de 82? Magia pura...
Ano passado, vi o doutor rapidamente num shopping aqui em Campinas. Senti vontade de ter ido lá e cumprimentado ele. Maria José, minha mulher, ficou me tirando porque eu parecia um guri que via o seu ídolo. E era a pura verdade.
Hoje ele se foi. O mundo fica mais triste, pelo menos o mundo da bola. Um boleiro consumado, que misturava política e futebol sem se machucar, mordaz e irônico, e que nunca ficava ao redor do poder feito mariposa. O outro mundo, se é que existe, vai ter um reforço no seu time de craques. Já imaginou Sócrates dando passe de calcanhar pra Garrincha?
(Não sei o que vai dar na decisão de hoje; sei que, lá embaixo, o Atlético se safa, não sei se pelo lado da purgação na segundona ou pelo alivio de continuar na primeira...)

sábado, 3 de dezembro de 2011

FURACÃO NA BACIA DAS ALMAS

Virgilio e Dante no Purgatório, analisando as possibilidades do  Furacão; em primeiro  plano pode-se ver o America-MG e o Avaí

Amanhã é o dia. Às 19 horas, horário de Brasília, já saberemos o que foi feito do nosso querido Furacão. Já foi Furacão, já foi o Huracán de las Américas em 2005, hoje é uma pálida brisa que de vez em quando sopra tênue sobre a baixada. Sei que será difícil, mas conseguiremos sair desse purgatório em que nos encontramos nós, a nação rubro-negra.
Contactei com dois especialistas no assunto: Virgilio e Dante Aliguieri. Virgilio, torcedor da Roma, já viu seu time no purgatório e mesmo no inferno, mas se lembra com carinho dos tempos de Falcão e do Scudetto dos anos 80, quando o time estava no Paraíso terrestre. Já Dante Aliguieri, mais sofredor que heroína de telenovela mexicana, é torcedor da pobrezinha da Fiorentina. Com ela, já viu o céu, o inferno e o purgatório.
Virgilio foi mais bucólico, e disse estar o rubro-negro prestes a se livrar do sofrimento, e se manter nas camadas superiores deste mundo, que é uma bola. Já Dante, mais desconfiado, acha que é tudo pode dar errado, e o rubronegro pode se precipitar nas profundezas dos infernos. Um pouco de cautela no ataque, com Expedito, Cosme e Damião, e mais a correntinha de Saravá do Delegado pra ajudar.
Não sei, pois ainda temos 24 horas pra enterrar umas caveiras de burro no Independência, em Minas  e também na Bahia. Alias, se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminaria sempre empatado. Ui! Empate não!!
Espero que o time faça contra o Coxa o jogo que não fez o campeonato todo, e que possamos amanhã, marcar nossa passagem de ida pra Libertadores 2013. Se não der certo, veremos....só sei é que no purgatório não ficamos. 

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

GANHAR, REZAR, SECAR

Não, a frase não é minha, e sim do Chico Sá, colunista da Folha de São Paulo e comentarista do Cartão Verde. Ganhar, rezar, secar. Ganhar do coxa, rezar para que os ataques do Galo e do Bahia funcionem e secar o Ceará e o Cruzeiro. Parece fácil falando, mas para o time que está ai, tarefas de Hercules. A frase resume bem nossa desdita: um time que esteve fora da ZR por somente uma rodada está chegando merecidamente à degola. Pra quem tentou fugir do mármore do inferno com Guerron, Nieto e Cia, agora só com Expedito, este sim um craque. 
Nossos queridos coxa-brancas, que sabem de cór e salteado como é o caminho pras profundas, riem mostrando os dentes. Pimenta nos olhos dos outros é colirio. Ainda está, na memória dos coxas aquele dia fatal de dezembro de 2009 quando tudo deu errado e o inferno se abriu para eles em pleno Couto. Azar, agora é nossa vez. 
Assim como eles, teremos que nos reinventar ano que vem, nossa torcida tem que voltar a ser a torcida sofrida mas guerreira que era no século passado, que voltar ao topo é uma consequência. Frise-se que nós nunca caimos. Nós começamos de baixo, empurrados pra lá pelo grupo dos 13. E aqui estamos, até pelo menos domingo que vem. Desde 95, quando subimos gloriosamente (e em cima de um certo alviverde) e passamos a ostentar no peito uma estrela de prata, jamais caimos. 
Pelo menos ano que vem estarei na arquibancada do Brinco de Ouro pra ver o gente ganhar do Guarani. Eu queria mesmo era estar no Lucarelli e ganhar da Ponte Preta, mas Papai Noel, assim como o Coelhinho da Pascoa e o Politico Honesto, simplesmente não existe. 
Furacão, Eô! Atletico-o-ô!
Vamos lá, Furacão!!

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

MUDANÇAS DE ESTAÇÃO


Avenida Nenê Chaminé, sem número

No começo do mês, estava em Nova Friburgo voltando de uma vistoria a locais onde haviam ocorrido escorregamento de terra em janeiro ultimo, em companhia de, entre outros, Claudio Amaral, diretor do DRM – o Serviço Geológico do Rio de Janeiro. Em toda o megadesastre, ele era quem falava pelo corpo técnico que estava cuidando dos risco geológicos na região, e, por força disso, era muito conhecido e requisitado pela população. Numa caminhada de cerca de trezentos metros ele foi parado pelo menos por duas vezes, por pessoas que vinham perguntar sobre a situação de risco de sua casa, de sua rua especifica. Educadamente, Claudio respondia a cada um, evitava polêmicas e fazia o possível para dar a melhor informação possível num universo intrincado onde ele, na verdade, mandava pouco. Pelo lado das pessoas, via-se claramente o desespero de quem já tinha passado por poucas e boas no passado recente. Muitos tinham sobrevivido por sorte. E não sabia direito a quem recorrer, a quem indagar sobre os riscos que estão por vir com o começo da próxima estação das chuvas.
Cerca de dez dias depois, estava na Deitada-a-beira-do-mar com meus alunos, subindo os morros e fazendo observações. Conversei com diversas pessoas, em praticamente todos os bairros ao redor do morro. Da mesma forma que as pessoas em Nova Friburgo, o que eu vi foi muita desesperança. Pessoas que perderam tudo e que se encontram desesperadas e perdidas, como o Edson, que interrompeu nosso trabalho achando que estávamos desrespeitando ou, pior, roubando a casa de sua mãe na laranjeira. Aos gritos, e completamente torrado, como se diz em antoninês, ele nos ameaçou, pedindo aos berros para que fossemos embora dali. Ao conversar com ele procurei entender sua reclamação e acalmá-lo. Era uma criança grande, literalmente sem chão, com a casa da mãe destroçada e cheia de lama, num cenário realmente aterrador. Chorou muito, pediu desculpas, se disse atordoado pelo sofrimento. Quando se acalmou, pediu dois reais. Não sei em que foram investidos os dois reais que dei a ele, mas pra coisa boa não foi.
Conversei com outras pessoas, melhor situadas que o pobre Edson. Tinham aonde ir, casa de parentes onde ficar, e não se sujeitavam a morar nos abrigos. “é muito humilhante”, me disse uma senhora que encontrei no Tucunduva. Na Laranjeira, uma mulher nos contou que as casas por ali estavam sendo paulatinamente depredada por bandos de rapazes desocupados, que buscavam as casas abandonadas pra fumar crak. Aqui e ali, via-se que algumas casas estavam sendo reocupadas, outras se viam guris entrando e saindo, num cenário que poderia ser de guerra. Mas é Antonina.
No bairro Floresta, em Morretes, conversei com seu Arlindo, um próspero agricultor que perdeu praticamente tudo na catástrofe, inclusive uma irmã. Não queria nada, nem cesta básica: “aqui não tem vagabundo”, disse, com orgulho de quem tira seu sustento da terra, e com suas próprias mãos. Uma terra, aliás, toda virada do avesso, cheia ainda de lama, pedras, troncos e restos de casas e carros. Mais pra frente, já havia terra livre de tocos e arada, esperando pra plantar. A indefinição do governo sobre o que fazer com a área não pode durar pra sempre, diz ele. Não há tempo a perder, a safra tem que ser plantada a tempo. A maior reclamação de seu Arlindo é não deixarem mais plantar na sua propriedade, agora declarada área de risco.
Em Nova Friburgo como em Antonina, as pessoas ainda estão perplexas, esperando respostas do poder público. Este, por mais bem intencionado que esteja, está as voltas com burocracia, lentidão, jogos de interesses. O planeta, que continua girando em torno de seu eixo, indiferente a nós como era indiferente aos dinossauros e outros quetais, se prepara para o verão do hemisfério meridional e suas chuvas intensas. 

sábado, 19 de novembro de 2011

NA TERRINHA


Estou na Deitada-a-beira-do-mar fazendo trabalhos de campo com meus alunos de Iniciação Cientifica, subindo os morros e procurando entender o que aconteceu na tragédia do 11 de março. Visitamos o bairro da Floresta, em morretes, onde uma gigantesca corrida de detritos vitimou 1 pessoa naquela fatidica sexta-feira. Um dia, todos estes fatos servirão para prevenção e não para entrar no rol das tragédias anunciadas. 

terça-feira, 15 de novembro de 2011

NOVA FRIBURGO

O Morro das Duas Pedras em Nova Friburgo (RJ), vista do morro  do bairro  Village;  as faixas em branco são escorregamentos de janeiro/11
Estou chegando de Nova Friburgo (RJ), onde fui participar de um simpósio de Geologia, onde se discutiu muito     sobre os eventos catastróficos destes ultimos anos em todo o Brasil. Foi muito interessante poder participar com colegas de todas as partes do país e principalmente os colegas geólogos do Rio de Janeiro, já calejados com os problemas de escorregamentos em eventos catastróficos.  Aqui em Nova Friburgo foram resgatados 850 corpos, mas a estimativa é que mais de 2 mil pessoas ainda estão desaparecidas. Corridas de Lama, como    as que ocorreram na Larangeira e no Cemiterio São Manoel foram especialmente letais.  Aprendi muito, espero poder aplicar um pouco do que aprendi na minha terrinha. Este fim de semana estarei aí, pra mais uma campanha de reconhecimento dos escorregamentos do morro do Bom Brinquedo. 

Escorregamentos no bairro Village, Nova Friburgo (RJ), em janeiro /11

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

COMENTARISTUS LEVIANUS

(a Paleontologia Imaginária é um ramo da Paleontologia que trata de animais incertos; é um ramo do conhecimento que faz fronteiras com a paleontologia, a geografia, a física molecular, a psicologia e com Morretes (PR). Como membro da Sociedade Brasileira de Paleontologia Imaginária (SBPI) e colaborador da South American Review of Imaginary Paleontology, periódico classe A1 da CAPES, venho através deste blog fazer a divulgação científica da Palentologia Imaginária para o publico interessado em ciências)



O comentaristus levianus é um dos organismos fósseis mais comuns do permiano inferior. Segundo alguns dos maiores estudiosos da espécie, como F. VaiaMerdrov, estes vermes proliferavam em redes infectas, ocupando um nicho muito particular, de águas turvas e redutoras. As características da espécie indicam pouca acuidade visual, cérebro pouco desenvolvido e dedos longos característicos, que os permitiam longas jornadas de digitação frenética e sem descanso.

Segundo um dos seus maiores estudiosos, o general Golbery do Couto & Silva, em seu livro “Malufismo, etapa superior do Adhemarismo”, os c. levianus mais primitivos alimentavam-se dos excrementos de espécimes populistas como o carlus lacerdis e o janius quadrius. Quando surgiram, no inicio do permiano, ocuparam rapidamente os nichos de outras espécies de comentaristus, como o c. fanaticus, o c. raivosus e o c. homofobicus. Juntando as características destas três espécimes, os comentaristus levianus foram ocupando nichos paleoecológicos importantes nas partes mais profundas e menos oxigenadas dos mares permianos. Segundo as últimas descobertas, em seu período de maior apogeu, os comentaristus levianus se alimentavam de excrementos de animais ainda mais rasteiros e de capacidade cerebral ainda menor que os precedentes, como o reinaldus azevedus ou o diogus mainardii, então muito comuns neste tipo de ambiente.

Os primeiros exemplares fósseis do comentaristus levianus foram primeiramente descritos no século XVIII pelo paleontólogo francês Silvousplez . Diderot, numa carta a Silvouplez, foi o primeiro a notar que o comentaristus levianus deveria ter vivido em ambientes anóxicos, onde era pouco comum a entrada de luz e oxigênio (Diderot, carta a Silvouplêz, Editions du Sans Porvir).

F. Vaiamerdrov, eminente paleontólogo imaginário soviético, estudou a fundo o comentaristus levianus, não sem antes passar longas temporadas (in)voluntárias na Sibéria, onde encontrou numerosos exemplares fósseis. No entanto, em camadas à esquerda do rio Volga, nos Urais, Vaiamerdov descobriu fosseis de comentaristus levianus formando comunidades com o patrulheirus ideologicus, outra espécie nefasta que evoluiria até o triássico médio. Juntamente com o politicamenticus correctus, estes organismos ocupariam todos os mares permianos.

No entanto, o c. levianus não tinha predadores à altura, uma vez que os mares estavam infectados e muito escuros, e prosseguiam fazendo muito estrago nestes ambientes. Não tinham dó de nenhuma espécime doente ou mutilada, e as perseguiam até matá-las com grandes doses de enzimas que secretavam, como a preconceituose e a revanchose (Silva, 2002, 2006; Roussef, 2010).

Para Vaiamerdov (Congresso de Paleontologia Imaginária de Vladivostok, 1956), o que acabou extinguindo o c. levianus foram as mudanças no ambiente geradas a partir do final do permiano. Com a oxigenação dos oceanos a partir da ruptura do Pangea, acabaram com os ambientes estagnantes e sem luz. Com isso, e precisando se expor em ambientes mais iluminados e menos estagnados, os comentaristus levianus, sem a proteção do anonimato, não tiveram nada de interessante a propor, e acabaram por se extinguir rapidamente.

domingo, 6 de novembro de 2011

IMPONENTE E LINDA É ELA

Hoje é domingo, pé de cachimbo. Já tarde da noite, trabalhando no fim de semana, são as contingências da vida de professor universitário. São os cavacos do oficio. Amanhã devo ir a Nova Friburgo (RJ) para um simpósio de geologia e onde, pela primeira vez na minha vida, vou coordenar uma mesa-redonda. Também devo participar de alguns debates sobre os desastres geológicos da região serrana do Rio este ano. Infelizmente, não deu tempo de preparar uma comunicação sobre o desastre da terrinha. Mas estarei lá, vou ver e aprender o que puder.

Pois então, minha terrinha faz hoje 214 anos de feliz existência. Feliz? Meu amigo gusano já vai me interrogar: afinal, amigo, o que é a felicidade? É um estado de espírito, uma condição, uma pré-condição, o que? Não sei responder, amigo gusano. Talvez, na próxima ida à terrinha, tenha que buscar ajuda espiritual de Pai Zinho de obatalá, meu guia metafísico que só me mete em enrascada.

O que sei é que minha terra sempre foi uma terra valente e brigadora. Brigou pra ser uma cidade, contra os interesses do lado de lá da ilha de Teixeira. Brigou pra ser uma paróquia, pra poder rezar em paz. O 6 de novembro, quando finalmente nos emancipamos, foi um dia de festa popular, talvez um prelúdio de nosso carnaval. Ermelino de Leão que o diga, lá no seu “Fatos e Homens”.

Depois, Antonina brigou pra ser porto. Conseguiu. Não foi só um porto, foi um porto importante, o 3º de Brasil nos anos 1930. Antes, o pessoal do lado de lá da ilha do Teixeira fez o que pode pra nos impedir. D Pedro II foi contra os anseios dos capelistas e nos tirou a ferrovia. Está lá, nos diários do velho, já comentados neste espaço. Depois, bem depois, conseguimos nosso ramal. Conseguimos pavimentar o Caminho da Graciosa, até a construção da moderna BR-277 o melhor caminho do litoral para o planalto.

A segunda metade do século XX foi ruim, não dá pra negar. O progresso de Antonina foi todo pra Paranaguá. Desde os anos 1970, lutamos pela sobrevivência do porto e da cidade. muitos de nós está em Paranaguá e Curitiba, em vez de estar comendo um caranguejo na Ponta da Pita. Teríamos chegado hoje a uma população de 50 mil habitantes facilmente.

Mas nada disso aconteceu. Nosso cantinho de baía empacou, mas não perdeu a ternura jamais. Contra o baixo astral, contra o pessimismo, nosso povo sabe sorrir, sabe rir, sabe gargalhar. Temos nossas festas pra se divertir, temos o carnaval pra pular, um peixinho de vez em quando, um pirão do mesmo...será que alguém ai sabe o que é a felicidade?

Neste inicio de século XXI, quando tudo parecia que ia melhorar, eis que a catástrofe se abate sobre a terra de Valle Porto. Casas destruídas, bairros destruídos, gente ferida, gente morta. Nessas horas, pensando bem, foi até bom não termos 50 mil habintantes, muitos dos quais estariam ocupando nossos morros. A tragédia que nos abateu poderia ser maior.

Como diz o lema de Eduardo Bó: “levanta, sacode a poeira, dá volta por cima”. O bagrinho é antes de tudo um forte. Vamos vencer. Antonina já é um canto do paraíso, um convite à felicidade, o que quer que isso queira dizer. Vamos cuidar de nossa cidade, vamos cuidar de nossos morros, de nossa baía, de nosso patrimônio histórico, artístico, cultural e industrial. Como diria a letra de um – só um – de um de nossos muitos hinos: “Minha Antonina gentil, és um pedaço de aquarela das belezas do Brasil!”. Com saudades e lagrimas nos olhos encerro esta simples crônica.

Como é linda esta cidade!!














quarta-feira, 2 de novembro de 2011

CONVERSAS COM GUSANO (1): DIA DOS MORTOS

uma catrina, vestida de noiva, na frente de uma lojinha em Guanajuato, México
Hoje é dia dos mortos. Não sou nada religioso, ao contrário, embora procure respeitar as crenças todas. Acho que muitas mal não fazem, outras são duvidas existenciais disfarçadas de religião. Fanatismos e dogmatismos, esses eu detesto. Mas, como eu dizia, hoje é dia dos mortos e estou particularmente tocado. Um pouco porque estive no México, fiz amigos mexicanos e aprendi um pouco sobre o quanto a data é significativa para eles. É um dia da família ir ao cemitério e levar iguarias aos seus mortos. As festividades duram quase um mês, sendo parte integrante da cultura mexicana. Mortos, esqueletos, caveiras, você encontra em qualquer lugar, em qualquer esquina. Os esqueletos femininos, com chapéus e outras coisas afins, têm até nome: são as “catrinas”, sei lá eu por que.

Para nós é outra coisa. É um dia calmo, em que sempre chove um pouco, garoa branda. Em Antonina, é certeza de uma garoazinha. Aqui em Campinas o céu está azul e faz um friozinho. Dia de se levar flores aos cemitérios, limpar túmulos, acender velas aos mortos. Em respeito a tudo isso, embora ache que tudo acaba e pronto, sem deus nem justiça, fiz minha parte e acendi uma vela na sala aqui em casa, pra homenagear meus mortos queridos. O pouco que fiz de psicanálise me diz que isso é mais para mim do que para eles, que já se foram e são hoje só uma saudade. Quando eu me for, minhas saudades irão comigo, minhas lembranças e meus sentimentos acabam como uma chama que se apaga com o vento: acho que é esse o significado da vela que arde em minha lareira.

Trouxe um amigo do México. Não é bem verdade nem é correto dizer que se pode comprar um amigo, mas foi exatamente o que fiz. Comprei uma garrafa de um aguardente mexicano, o mezcal. Dentro das boas garrafas de mescal vem dentro um verme, um bigato, como dizem os paulistas. É garantia de que o mezcal foi feito do mais puro agave, que á uma das variedades de nossa pita. Destilando-se o mescal é que se obtém a tequila.

Pois bem, tenho tido altas conversas com Gusano, o verme de minha garrafa de mescal (gusano é verme em espanhol). Conversas profundas, existenciais. Coisas de cachaceiro, diriam alguns – o mais correto seria dizer mezcalero. Para afogar mágoas, nada melhor que conversar com um amigo engarrafado e já afogado em mezcal. Gusano tem me contado coisas interessantes sobre o amor, a felicidade, a solidão, a saudade.

Um pouco de tudo isso têm sido minhas recentes conversas com Gusano. Sentir saudade da família, dos filhos, dos amigos é mais fácil em terra estrangeira, quando tudo está distante, segundo Gusano. Sentir saudade dos mortos é outro estágio, saudade dos que não tem mais presença física, só a memória mediada pela cabeça dos que estão vivos. Gusano me disse um pouco mais: a mais funda saudade é a saudade de nós mesmos, daqueles que já fomos, que já vivemos e sentimos. A saudade que é irmã da solidão, não a solidão simples, mas a solidão existencial, o estar só por entre as gentes, como diria Fernando Pessoa.

Se pudéssemos voltar no tempo e fazer tudo diferente! Mas isso não existe, é uma impossibilidade física, vivemos no mundo de Newton, Einstein e Heisenberg : tudo existe e funciona, mas é relativo e incerto vezes a velocidade da luz ao quadrado. Gusano é taxativo: deixe de chororô e bola pra frente, amigo. Pois é, amigo Gusano, é isso aí, bola pra frente. Temos que viver e viver com nossos atos e das conseqüências deles. Os mortos estão mortos, já nada podem fazer. Nós, os vivos, mesmo iludidos no espaço-tempo é que temos que literalmente carregar a chama, enquanto nos caber viver. E viveremos, caro Gusano, coerentes com o que aprendemos com nossos mortos.

Depois de um vendaval no sábado que nos deixou sem luz e arrancou arvores por aqui, agora faz um sol bonito. O sol, esse, nasce pra todos e não está nem aí se estamos eufóricos ou melancólicos. Sim, Gusano, nesse dia dos mortos o bom mesmo é viver e aproveitar a claridade e o calor.
Meu amigo Gusano, profundo como sempre, dentro da garrafa de mezcal lendo alguns papers...

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

TEMPESTADES À VISTA


Nuvens no alto do Morro do Feiticeiro, sinal de chuva na terrinha

Outubro está acabando. Aqui em Barão Geraldo, onde moro, as vezes chove outras bate sol, como diria o poeta. Mas não é poesia, é que aqui a temporada de chuvas está começando. De marco a setembro até faz um friozinho, até cai uma e outra chuvinha, mas o normal é que o tempo fique seco e ensolarado. Agora espessas nuvens percorrem o céu e, no fim da tarde, cai uma chuva. Mas isso é só a primavera. No verão, em dezembro e janeiro, será pior, com grandes tempestades e enxurradas caindo sem aviso e rios enchendo de uma hora pra outra. Em são Paulo, quem se arrisca em locais baixos pode ter seu veiculo arrastado para uma vala. Fevereiro e março as chuvas caem mais devagar, mas ainda chove muito. E tudo recomeça.

É aí que começo a me lembrar de minha terrinha, onde chove porque sim e chove porque não. No verão, chove mais ainda. No verão passado, a chuva deixou mortos, feridos, desabrigados e uma destruição como nunca se viu nas terras de Valle Porto. Como será o próximo verão?

Os meus amigos da MINEROPAR, valentes como sempre, estão firmes lá em cima do morro, descrevendo os barrancos, anotando as pedras, mapeando as fissuras do verão passado. Em breve, teremos um bom mapeamento do morro, do Bom Brinquedo até o Tucunduva. Existe um pluviômetro instalado no corpo de bombeiros, atento para qualquer seqüência de chuvas anormais.

Estive na terrinha em setembro, fiquei cinco dias com meus alunos aqui da UNICAMP, fazendo um mapa dos escorregamentos de terra da laranjeira e coletando dados para um mapa geológico da cidade. Conversei com varias pessoas, como meu querido Eduardo Bó, vi o lançamento de seu livro e compartilhei com ele a preocupação de todos com o verão chegando. Conversei inclusive com Canduca, que se mostrou também preocupado com os preparativos para este próximo verão, com a questão dos desabrigados e tantas outras.

No entanto, fiquei um tempo ocupado com meus trabalhos e com meus alunos e comecei a ver a blogosfera capelista de vez em quando, quando tinha tempo. O que vejo é que a blogosfera, que antes era um lugar de discussão e debate, está virando uma grande arena eleitoral. Todos com seus blogs, com as exceções de praxe, estão só tentando ocupar espaços para a eleição que se aproxima. Alguns serão vereadores, outros continuarão vereadores, outros serão secretários municipais. Outros, ainda, ficarão de fora da partilha do bolo e irão para a oposição. E com Antonina? Tirando as exceções de sempre, alguém se preocupa?

Não sou candidato a nada, embora tenha minhas idéias e opiniões sobre política. Algumas delas eu exponho aqui no meu blog ou no Bacucu de meu querido amigo Neutinho. Para minha honra, um tempo desses tive até meu nome sondado pra ser candidato nas eleições da terrinha. Mas não. Estou longe. Meu projeto de vida neste momento é bem outro. Até me pergunto, aqui no meu rico exílio em Barão Geraldo, se vale a pena ter um blog voltado pra minha terra. Será que vale o tempo e o esforço de ter idéias e escrever num espaço virtual para poucas pessoas, que nem sei o que pensam do que escrevo?

Quero deixar claro que escrevo sobre tudo para mim mesmo, é por necessidade quase vital de falar algo que arrisco estas maltraçadas linhas. Poderia estar escrevendo sobre outras coisas, para outras pessoas, mesmo outras cidades. Porem, sou teimoso. Amo minha terra e seu povo. Por ela, reviro céus e terra. Mas confesso que, nesse quente mês de outubro, estou cansado, muito cansado. Me preocupa sobretudo que o embate eleitoral do ano que vem seja vazio e inconseqüente, quando sabemos que o verão e as chuvas estão chegando e a reconstrução da cidade depois da tragédia ainda precise da ajuda de todos.