terça-feira, 27 de dezembro de 2011

OCCUPY ANTONINA


O ano de 2011 por terminar, foi um desses anos incomuns em que o tempo parece se acelerar. Assim como 1968, ou 1917, ou 1848, este ano em que estamos é um daqueles em que, por excesso de desesperança, as pessoas começam a se mexer, a fazer barulho. E o excesso de desesperança vira um excesso de esperança (assim somos nós, humanos...). No começo um barulho pequeno – no caso dos países árabes foi um vendedor ambulante que, escorchado por fiscais, acabou por imolar-se. Um brutal gesto de desespero nas ruas de Tunis virou um tsunami de revoltas que se espraiou pelo mundo árabe inteiro. Um após um, os povos se levantavam contra seus governantes, exigindo mais liberdade. Não é todo o dia que isso acontece. Aconteceu em 1848 na Europa, num movimento tão extraordinário que os seus contemporâneos chamaram de “primavera dos povos”. Um a um os governos caiam, ou prometiam reformas, ou massacravam o povo. Impulsionado por estes eventos, 1848 foi o ano em que os jovens  Marx e Engels produziram um dos livros de maior sucesso nos 150 anos subseqüentes, o Manifesto Comunista.
Iniciado no mundo árabe, o movimento logo se espraiou: na Espanha surgiram os indignados,  os gregos foram as ruas protestar, e o movimento atingiu os estados unidos, com o “Occupy wall Street”, questionando o sistema financeiro e seus operadores que produziram a presente crise econômica, a mais brutal crise mundial desde o crash da 1929, e ainda sem solução à vista. Agora, no fim do ano, os protestos tomam conta de moscou, dando conta de que a Rússia ainda precisa de mais democracia.
Aqui no Brasil também foi um ano de revoltas, embora de menor proporção. A principal delas foi a greve na USP, originada de um motivo banal e depois evoluiu para uma greve dos alunos, fato raro, e que se colocam contra a repressão policial e contra o autoritarismo das Universidades. É fácil ser a favor dos milhares que protestam na praça Tahrir por mais liberdade, assim como pelos insurgentes Líbios ou pelos espanhóis indignados. Aqui, o velho preconceito de classe contra os estudantes tachou-os simplesmente de “vagabundos” ou “maconheiros” sem ouvir o que havia de sensato em suas vozes, o que é uma pena. Tachar sem ouvir é reduzir seu oponente a um slogan, evita pensar muito sobre o tema e facilita na hora de você decidir ser violento contra eles: desordeiros, baderneiros, vagabundos, subversivos...quem se lembra destas palavras em outros tempos?
Não moro mais em Antonina, mas 2011 me permitiu, em função da grande tragédia que se abateu sobre nossa cidade, conhecê-la mais de perto. Subi o morro por lugares que não conhecia, vi gente que nunca imaginei encontrar. Encontrei jovens vagando pelas ruínas da laranjeira, conversei com meninos que estudam nas escolas do município. Nada que pudesse antever um processo de “Occupy Antonina”, um sinal de alguma revolta que está por vir. Nossos jovens, na Deitada-a-beira-do-mar, no entanto, bem que poderiam pedir por mais oportunidades, mais escolas, mais educação, mais esportes e lazer.
No ano que em breve se inicia, teremos eleições municipais, e com isso o debate aqui na blogosfera vai pegar fogo, pois  é uma área onde estes interesses vão estar expostos de maneira mais crua. A minha intuição indica que interesses eleitoreiros, por si só imediatistas e interesseiros, vão prejudicar qualquer debate sério. Pode ser só preocupação de um velho rabugento que estou virando, mas há tempos venho dizendo isso. Do jeito que é, vai ser como sempre: nosso sistema político é uma merda, com o perdão da palavra. Todos os partidos – todos! – vão se locupletar no clientelismo e na demagogia, explorando a credulidade onde possível, comprando votos onde isso é tolerado. Um povo que não tem educação e não tem as mais básicas noções de cidadania é tratado assim, continuamente espoliado.
Até quando?

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