O jornal a Gazeta Antoninense, de 1884, deliciosa recordação do passado da Deitada-a-beira-do-mar |
Neste dia em que a deitada-a-beira-do-mar faz seu
aniversário de 217 anos – mas com um corpinho de 216!– apresento uma singela
recordação de um importante documento para o povo capelista disponível aqui na
internet (ver aqui). Trata-se de uma cópia do jornal “gazeta antoninense”,
numero 3, de 16 de novembro de 1884, publicado pelo site da hemeroteca digital
da Biblioteca Nacional. A hemeroteca digital é uma imensa e amigável
plataforma, onde se podem encontrar muitas outras preciosidades...
A princípio, sabemos pouco da referida “Gazeta”: no
subtítulo ela se intitula como “órgão imparcial”, com publicação semanal. Seu
diretor era Joaquim S da silva, que já colocamos aqui como um dos pioneiros da
imprensa capelista, ao lado de tantos outros que vieram depois, já no século
XX, como João Leite e sua filha Armandina, Admaro Santos e outros, numa lista
bem extensa. Neste único exemplar, que somente
foi preservado porque foi enviado ao Coronel José d´Almeida, residente na corte
(Rio de janeiro), temos algumas noticias interessantes.
No editorial, um texto falando sobre a potencialidade do
município, pedindo a união dos “esforços particulares, com o auxilio protecionista dos
poderes provinciais”, para cuidar do incremento da produção de cachaça em
Antonina. Convoca os agricultores e capitalistas para a indústria da cana, que
então estava sendo importada para nossa região, em notável prejuízo para os
agricultores. O texto conclama para uma união de capitalistas e agricultores,
junto com uma politica fiscal adequada para reverter este quadro.
Ainda na primeira pagina, na seção de noticias, é
reproduzida uma representação conduzida pelo coronel Teóphilo Soares Gomes,
pedindo a construção do ramal ferroviário para antonina. A representação é
citada por diversos homens públicos e comerciantes da cidade. Trata-se de uma
importante reivindicação, pois com a construção da ferrovia, antonina perdia a
primazia em termos de transporte de mercadorias para o porto, encarecendo o
produto e prejudicando os comerciantes da cidade. Este ramal viria a ficar
pronto em 1890, seis anos depois desta representação.
Na pagina 2, há uma noticia policial: a liberta Maria,
conhecida pelo apelido de “Sacandé”, teria amanhecido morta na estrada do
Itapema. A notícia informa que, tendo o habito de se embriagar, a vítima estava
ferida por “instrumento cortante”. Como há pouco s dias a vitima havia entrado
numa briga com o cigarreiro Luiz Fernandes, quando este espancava uma mulher,havia forte indicio de crime, e o texto diz esperar do Sr. Delegado os devidos
esclarecimentos.
Outra noticia criminal é de um homem que foi preso ao
desembarcar do paquete “Aymoré”, que entrara na nossa formosa baía vindo de Santos no dia 10 de novembro último.
De uma verificação no seu quarto, no hotel Camacho, foram encontradas
jóias e cerca de 702$000 em dinheiro. Ao que tudo indicava tratava-se de um
fugitivo que vinha de Santos, onde havia cometido um terrível crime.
Aguardava-se a requisição das autoridades paulistas para que o criminoso fosse encaminhado àquela
praça.
Nesta pagina há também uma poesia satírica de Alberto Corte
Real, dedicada a seu amigo Teóphilo Soares Gomes. Nela, o eu da poesia relata
um sonho em que seria herdeiro de Rotschild, célebre banqueiro judeu. Mesmo
sendo bom cristão, o “ouro cegou-lhe os olhos da alma”, e, de maneira
demoníaca, entregou-se aos prazeres da riqueza e da luxuria sem freios. No
entanto, quando o sono acabou, o único alívio que sentiu foi ter acordado tão
somente “um bom cristão”.
Nos anúncios figurava com especial desenvoltura o senhor
Manoel Miranda, vendendo desde bules e açucareiros de ferro até camas de ferro.
Há também uma extensa propagando do sulfato de quina Marca Flexa, tendo ainda
um parecer do doutor Joaquim Câmara, do Rio de Janeiro, que atesta as faculdades
e a pureza da medicação.
Por último, mas não menos importante, Antonina recebia por
aqueles dias o magico Jules F Bosco, um artista internacional mostrando seus
talentos para os bagrinhos. O anuncio do espetáculo era um primor de horror, ao
menos para a época. Um homem (seria o próprio Jules F Bosco?) segurando uma
cabeça ensanguentada. Queria pegar uma maquina do tempo e ir lá ver.
Enfim, um singelo presente para meus queridos conterrâneos,
hoje envoltos em tantos escândalos e confusões e que merecem olhar com carinho e curiosidade
para esta interessante documento que nos mostra a capela de outras eras...
Anuncio do espetáculo do magico internacional Jules F Bosco na Antonina de nossos trisavós!! |