Marielle era mulher e negra a foi assassinada anteontem. Centenas
de negros são assassinados no Brasil todos os dias. Muitos destes negros e
negras assassinados eram policiais. Muitos cidadãos negros, muitos outros, mas que não são nem policiais
nem soldados, são assassinados todos os dias.
Marielle era mulher e negra e vereadora. Foi eleita com 65.000
votos. Marielle não era só uma mulher negra: era uma delegada do povo. Ela representava
milhares de pessoas, muitas pessoas mais que as que votaram nela. Marielle era
um símbolo.
Marielle era negra e pobre. No entanto, venceu essas
dificuldades, tornou-se socióloga, tornou-se militante. Em sua militância,
conseguiu apoios e foi eleita vereadora. Uma vereadora dos pobres. Marielle era
uma lutadora.
Mariele era vereadora e negra. Lutava pelos seus, os da Maré,
da Rocinha, de Acari. Denunciava a morte de negros pela polícia. Denunciava a
morte de policiais pelas milícias. Ajudava as famílias dos atingidos pela violência,
sem distinção. Lutava contra a invasão das casas das pessoas sem mandado,
contra a intervenção de Temer. Marielle era um alvo.
Marielle era vereadora e negra e mulher. Foi executada
depois de denunciar as mortes que estavam ocorrendo sob a intervenção. Dois
homens, cinco tiros, queima roupa. Coisa de gente que sabe do assunto. Marielle
não é mais.
Marielle é uma, Marielle é muitas. Marielle é milhões. Juntas as Marielles, de um lado e de outro da
vida. A Marielle vereadora, a Marielle militante, a Marielle mulher, a Marielle
lutadora. Marielle é mais.
Juntas as Marielles. Gritam seus gritos de dor e esperança. A
Maré vai mudar. Marielle é um simbolo, um alvo. Marielle é mais.
Gritem todos que os direitos humanos só servem pra bandido. Quando
a policia invadir sua casa, lembrem-se de Marielle.