domingo, 19 de fevereiro de 2012

A VOLTA DOS ESCOTEIROS


A foto épica: os meninos de Antonina entregam a petição ao  ditador Getulio Vargas, em 19 de fevereiro de 1941

No ano passado, na versão UOL de meu blog (aqui), publiquei um post sobre a data de hoje, que é nada mais nada menos que o dia em que os escoteiros que foram ao Rio de Janeiro entregaram a tal petição dos antoninenses ao então ditador Getulio Vargas. Esta é uma historia tida e havida, contada por todos em nossa terra. Viagem épica, como diz o Luiz Henrique “Amigos do Jequiti” Fonseca  na sua série, ainda inconclusa “a Odisséia da Patrulha Touro”. Estamos esperando os novos capítulos, Luiz...
Durante quase todo o século XX os escoteiros foram um orgulho para a cidade, uma base importante de formação de cidadania e um local onde a infância e a juventude tiveram vez e voz. Durante certa época, nos tempos em que não havia o ginásio, teve até escola na caserna, tão grande era a preocupação dos conselheiros da época, que não eram só o meu avô, que qieria e apostava na educação de nossos jovens como forma de inclusão social. Não é demais repetir, só a educação promove de forma igualitária e relativamente rápida a inclusão social. Os escoteiros de antonina, com sua ênfase na educação, foram fundamentais para muitos pais de família em Antonina ou espalhados aí pelo mundo.
Mas quero tratar de um outro assunto que a mim pessoalmente incomoda. Por diversos motivos, o grupo Escoteiro Valle Porto, depois Manoel Picanço, deixou de existir. Hoje, vemos no que foi a caserna um barracão feito num acordo com a Escola de Samba Filhos da Capela sendo ocupado com carros alegóricos e outros quetais. Teve muita contestação a esse acordo, meu pai quando morreu andava meio desgostoso com isso, mas não importa. O que importa é que podemos fazer os escoteiros de Antonina, gloria do Paraná e orgulho do Brasil renascerem. A Capela, que nasceu do grupo, tem espaço garantido em seu seio.
Por motivos de distância, eu não posso estar integralmente presente, mas gostaria de juntar pessoas que quisessem tocar novamente o grupo. Vez por outra posso ir a antonina pra ver isso. Poderia ser reconstruída uma diretoria ou coisa parecida, que pudesse dar conta das atividades. Tenho contatos na União dos Escoteiros do Brasil (UEB), gente que está disposta a ir a Antonina pra ver o grupo renascer. Que tal?

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

NO ALTO DA COLINA

Um tradicional prato da culinaria francesa, o "Fruits-de-mer avec de la farine de Tapioca au  Guarapirocaba"


Estes tempos abordei, de leve, algumas lembranças que tive dos padres de Antonina. Eram lembranças de uma infância já antiga, mas que à nos pareceu sempre tão moderna: afinal, fomos a primeira geração que nasceu completamente televisiva, nos anos sessenta e setenta e que vimos, entre outras coisas, a margarina, a tropicália, o pouso do homem na lua e a transmissão via satélite da copa do mundo.
Os padres, naquele tempo, eram americanos redentoristas. Lembro mais do buldogue deles do que dos padres propriamente. Era um buldogue feio, como costumam ser os buldogues. Todos tinham medo dele por que, alem da carantonha, só obedecia ordens em inglês, algo então quase incompreensível, como os incas venusianos dos seriados de National Kid. Certa vez o padre nos deu rosários de plástico, outra invencao moderna. Lembro do constrangimento de minha mãe, até hoje uma católica fervorosa, ao mostrarmos pra ela, na frente do padre “os colarzinhos” que ele nos dera.
Fui um católico preguiçoso. Tinha preguiça de ir a missa nos domingos, de levantar cedo pra fazer a primeira comunhão, de rezar. O melhor mesmo era depois da missa, brincar de pega-pega na colina da matriz, ou ir espiar o tal do buldogue do padre. Claro que tinha muito medo de ser pecador, de ir parar na profundas dos infernos, onde faz um calor mormacento digno dos verões da terra de Valle Porto e não se tem sequer uma bola pra brincar, é só castigo, sofrimento, terror. Quem já não acordou assim apavorado, o coração batendo, apos um sonho de castigos e punições?
Conheci uns padres "prafrentex", como se dizia antigamente. Mas em Londrina, para onde me mudei. Não me lembro mais o nome dele. Era um padre espanhol, de barba, que tocava violão e nos recomendava ler os artigos de dom Pedro Casaldaliga. Que tinha simpatias por um certo barbudo que fazia greves, que fazia sermões pedindo pelos bóias frias que mourejavam nas lavouras do norte do Paraná. Minha avó não gostava dele: “padreco comunista”. E imoral também, pois defendia a liberação sexual (“sem libertinagem!”, enfatizava, pois, afinal, era um padre), discordava publicamente do bispo e estava sempre nos jornais a emitir opiniões polemicas sobre assuntos da sociedade e da política.
Hoje, não sei mais de nada disso. Com João Paulo II, a igreja passou a ser uma forca política nos países da cortina de ferro e retirou-se da política nos outros países. Após o fim da guerra fria, tudo isso se acentuou. Sei que em Antonina tivemos um padre que andava de batina pelas ruas, que era muito culto e erudito e, também, muito conservador. Tanto que saiu daqui pra ir trabalhar na sede central da multinacional, no Vaticano.
O padre atual, que pouco conheço, parece ser um padre típico dos novos tempos. Sabe que a igreja católica não é mais a maioria, que não pode contar com os nominalmente católicos. Sabe que tem que ter dinheiro pra tocar as suas obras. Logo, é um padre empreendedor, um padre que lida com negócios e com dinheiro, que reergueu a festa de Nossa Senhora do Pilar com sorteios de automóveis e que quer ganhar dinheiro com os imóveis que a paróquia possui.
Logo, não é de estranhar que ele volte ao mundo da política, que os outros padres deixaram para trás. Este é um padre de uma nova igreja, que se diz moderna mas veta a camisinha, que condena os costumes e as liberdades adquiridas e toma posições atrasadas e conservadoras. Quem quer dinheiro no capitalismo tem que se submeter à suas regras. Quer dinheiro? Tem que ir attras de quem tenha. Tem que proteger seu capital, logo é conservador.  Tem que estar do lado desenvolvimentista, que afirma que a sociedade precisa crescer e que meio ambiente é assunto de gente chata. Volto ao assunto em outra crônica.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

SANGUINOLENTO

Nosso amigo Carcará dando um descanso em sua incansável faina de predador  desapiedado

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

EM PIUMHI

No alto da Serra da Pimenta. No fundo, o lago da Represa de Furnas. 
 Escrevo da cidade mineira de Piumhi, onde estou faz uma semana acompanhando os trabalhos de mapeamento geológico dos alunos de geologia. Piumhi é uma simpática cidade de trinta mil habitantes situada próxima das nascentes do rio São Francisco e próximo da represa de Furnas. A cidade tem um bom comercio e está se iniciando no turismo, com o aproveitamento do potencial do lago da hidroelétrica de Furnas. Aqui tem solos bons pra agricultura, fruto da decomposição de lavas antigas, uma das mais antigas que se conhece no Brasil e no mundo.
Estes terrenos como o de Piumhi são muito procurados tanto pelo aspecto de representarem uma oportunidade de aprendermos um pouco mais como era o nosso planeta em seu inicio. Hoje sabemos que ele era muito mais quente. As lavas que temos aqui são lavas magnesianas, que dão um solo danado de bom pra agricultura. Sabemos também, pela existência de estruturas em almofada que vemos em alguns lajedos do rio, que estas lavas foram formadas debaixo d’água, de algum oceano primitivo. A idade mínima para estas lavas é de 3,16 bilhões de anos – para uma comparação, a terra tem por volta de 4,5 bilhões de anos.  
O entorno da cidade, onde estamos trabalhando, é muito bonito, com campos verdes e altas serras, onde ocorre uma bela vegetação de cerrado. Adoro o cerrado, desde os tempos em que trabalhei em Goiás. O cerrado é uma formação vegetal muito bonita, com suas arvores retorcidas e suas plantes de flores pequenininhas.aqui e ali, vêem-se blocos e lajes de rocha esbranquiçada que chamamos arenitos. Por ai, dá pra ver que, embora trabalhando, e trabalhando muito catando amostras de rochas por estas serras, estou também me divertido muito.
Em geral acordamos vedo, tomamos um café e pegamos a estrada. Alguns podem ir em veículos maiores. Outros, que estão trabalhando em áreas mais retiradas, têm que ser levados em caminhonetes. O trabalho se faz, tenha sol ou tenha chuva, subindo e descendo morros. Atravessando rios, cortando as veredas (formações de mata-galeria) anotando, descrevendo e medindo as rochas, no final, fazemos um mapa com as ocorrências de rocha e solo da área. Quando disponível este mapa servirá de base para outros mapas – como os mapas de risco que a MINEROPAR fez aí na terrinha. Estes mapas também são usados na investigação de jazidas minerais, na obtenção de água subterrânea, de óleo e gás, de uma série de coisas.
Detalhe das lavas de mais de 3,16 bilhões de anos...maravilha!
Os meninos da geologia estão se esforçando. O trabalho é duro, envolve muito esforço físico e tenacidade. Pegamos uns dois dias inteiros de chuva, mas o trabalho correu normal. Sempre aparece um que se fere com estilhaços de rocha, é picado por abelhas, formigas e mosquitos. Mas, no fim, tudo termina bem. Todos voltam cansados, mas felizes com o trabalho bem feito.
Quanto mais eu fico velho mais me ocorre a necessidade que temos de formar pessoas, e formar pessoas melhores que nós. Precisamos tanto...saúde, educação, desenvolvimento tecnológico...são tantas as áreas que precisamos avançar, e, apesar de estarmos nos últimos anos finalmente avançando depois de mais de vinte anos parados no mesmo lugar, estamos avançando muito pouco. Com isso, me remeto à minha cidade, aos meus conterrâneos em sua bela baia: como vai a educação na Deitada-a-beira-do-mar? Será que está tudo bem? As vezes, tudo bem não é a normalidade, mas sim a preocupação com o futuro. Se não estivermos de olhos atentos, e somente olhando o ir-e-vir da maré, estaremos perdendo pontos importantes na corrida rumo ao futuro. O futuro que é deles, os jovens de hoje, mas que só será algo se nós nos movermos agora. O futuro é já. 

sábado, 11 de fevereiro de 2012

NO FILÓ

Desculpaê, mas estou em trabalho de campo com os alunos de geologia em Minas Gerais;  Essa é a Cahoeira do Filó,  municipio de São João Batista do Glória, na região da Represa de Furnas. 

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

ANTONINA ANTIGA - V



A Praça Carlos Cavalcanti, em Antonina. A foto é antiga. Talvez seja uma das fotos do folheto propagandístico do Dr. Heitor Soares Gomes, o prefeito municipal do período mais pujante da Deitada-à-beira-do-mar, no inicio do século XX. A foto, portanto, pode ser de meados dos anos 20. A foto original do PowerPoint era um xerox velho, apagado e manchado assim como nossa memória. A foto estava em algum fichário antigo, desses de furar, pois se vê dois furos na lateral esquerda da foto. Por baixo, um belo pedaço de papel tigre (o qual, se faz favor de explicar, porque era que o papel tigre era papel verde?). Enfim, antigamente, meninos, papel tigre, esse papel verde aí era o papel de que se encapavam os nossos cadernos de escola. Encapar cadernos? Alguém ai se lembra do que é?
De quando é a foto? Parece bem antiga. O chafariz estava sendo construído, talvez. Não há ali nenhum sinal das arvores da praça, as quais conheço bem. O coqueiro, ao que tudo indica está mais baixo, era um jovem ainda, não a grande e imperial palmeira que nos embeleza a praça. Hoje, de tão alto, o coqueiro sequer apareceria nesta foto, pelo menos não por inteiro. Atrás de tudo, ao fundo, está o mato do morro, o mesmo mato do morro que está ali desde os imemoriais tempos do onça. Do buraco da onça.
Dominando a foto, e a praça, está o belo prédio neoclássico da estação ferroviária. Belo, com suas colunas coríntias (sem qualquer trocadilho) seus grandes janelões, seus capitéis e seu belo relógio. Aliás, como sempre perguntava meu pai, onde foi parar o relógio da estação? Tudo podia parar, menos o relógio da estação, qual Big-Ben dos bagrinhos do século XX, marcando o horário de chegada e partida dos trens. Onde anda o tal relógio? Será por isso que parece que o tempo na cidade parou, ou caminha mais devagar? Onde está o relógio? Onde estão os trens?
A Praça Carlos Cavalcanti pra mim ainda é a “Pracinha da Estação”, onde brincávamos de um monte de coisa, onde jogávamos bola, com meus amigos Zé Paulo Azim, Marcos Cruz, Robertinho, Lídio, Valmor, Jorginho Fayad e tantos-tantos outros. Ali naqueles bancos também dei minhas primeiras paqueradas, as primeiras e timidíssimas tentativas de entender – quem há de? – o universo feminino. Tempos bons, os da juventude.  Ainda bem que desperdiçamos esse tempo tão bom em andar de bicicleta, jogar bola (muito) e namorar (pouco).
 No entanto, lamento dizer, não gosto desta foto. É de uma praça que ainda não era nossa, de um tempo que parece que não tem gente. É foto de propagando política, estão mostrando as obras de um prefeito realizador, por isso mostram obras e prédios, com o coqueirinho ainda tímido do lado e o mato verde e exuberante no fundo. Na frente, os tijolos, o cal, as coisas em trânsito de se fazerem. O progresso, como um novo Fausto, vendendo a alma à Don Lúcio Fer por um punhado de votos, ou um mandato de deputado estadual. Merrequinhas. De que nos importa isso? O que vale são as crianças brincando, os velhos descansando, os turistas passando ali e vendo o conjunto arquitetônico do Dr Heitor Soares criando a Antonina mítica que nós, do final do século XX pra cá nunca vimos mas sempre sonhamos. Repito: não gosto da foto da praça vazia. Sem gente, a pracinha da Estação não tem graça. 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

GARÇA AZUL

Nossa ave mais comum, a garça azul, dias atrás no Trapiche da Feira-Mar  buscando sua comida. 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

NEUTINHO E O BATEL


(reproduzo aqui um post de meu querido amigo Neutinho, em exaltacão da Nação Tricolor; belíssimo, Neutinho, bela homenagem. Mesmo sendo da Azul e Branco, enalteço o que é bom em minha terra!!)

BATEL UMA HISTÓRIA DE AMOR
(Letra e Música: Josiel Cordeiro/Neuton Pires)

A mais linda inspiração, da memória ninguém tenta
Meu Batel minha paixão, é maior que você pensa {Bis
Meu amor por ti é forte, ninguém vai tirar de mim
Tá na batida do meu tamborim

É ela quem domina o nosso carnaval, tira o tédio e levanta o meu astral
Meu asfalto minha vida, eu não canto pra ninguém
Os sambas que eu fiz pra você, roda baiana no desfile tricolor
Eu sou Batel, mar, arte e amor

E coisa da alma toque de emoção
Faz minha alegria explodir o coração
Mina de energia a me emocionar
Minha tristeza é se você faltar

Eles não aplaudem mais, o Batel na avenida
Nogueira, Taíco e Caetano imortais de nossos planos
Criaram a tricolor querida
Relem o poeta respeitado por aqui
Laurinha torcedora fiel, Edu com o seu brilho irradiante
Um enredo fascinante, iluminando lá do céu

Essa bateria que me envolve e contagia
A raiz do samba com o França aqui sambou   {Bis
Um pouco de mim eu ajudei a construir
A ela eu dediquei amor

Enxugue as suas lagrimas, que o samba não morreu
Porque estás chorando, a velha guarda apareceu
Sambista do asfalto, mestre Celso fez eu ser
Luxo e vaidade, Alan Cezar é viver
Eu sou Batel até morrer


Participação especial: Juninho Vinagre (Banjo) e Alexandre (Cavaquinho)
Patrocinador oficial: Dr. José Carlos Brochini
________


HOMENAGEM
Este samba exaltação, é uma forma carinhosa de agradecer as pessoas que sempre se dedicaram de uma forma ou de outra para o engrandecimento da nossa querida Escola de Samba do Batel...
Estamos aqui para agradecer a você:

Gijo                                                      Vera Parente
Benedito                                             Jair Mariano
Cleusa Tagliatela                               Rico
Laertes                                                Zé Bigode
Alceu                                                   Gelson Machado
Joacir Assanuma                               Rodrigo
Wilson Paulista 
Zé Carlos                                            Zé Galinha
Paulino                                               Aramis
Levi                                                     Zizinho
Satuca                                                Milton
Manino                                              Lourival Mayer
Brasil                                                  Margarete Almeida

Tudo que é bom dura o tempo suficiente para se tornar inesquecível... e essas pessoas serão através deste samba, pessoas inesquecíveis  para a nossa tricolor do asfalto.

Nascer, crescer, viver... eu sou Batel até após a morte!!!

Valeuuuuuuuuuu


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

RIO TIBAGI, DO ALTO

O Rio Tibagi, um pouco acima da cidade de Jataizinho, com as aguas barrentas do verão

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

PINHEIRINHO, ANTONINA


Antonina também teve o seu Pinheirinho, que tanta vergonha nos causa hoje. Nos idos de 1835, segundo o indispensável Ermelino de Leão, os escravos de José Luiz Gomes, rico industrial de Antonina, se rebelaram e o mataram, assim como ao seu guarda-livros. José Luiz, rico e dono de diversos empreendimentos na cidade, tinha bens amoedados em sua casa, inclusive uma bota cheia de moedas de ouro que havia emparedado na casa de seu sitio.
Um parêntese. Por isso, quem anda na ponta do Gomes/Pinheirinho ainda hoje vê, junto comas ruínas de sua casa, diversos buracos feitos aqui e ali pelos caçadores de tesouro nos últimos 180 anos. Os caçadores de tesouro outros eu não sei, mas eu tenho o meu tesouro do Pinheirinho. Quando era guri, estive ali com meu pai, com Seu Zeco Pinto e outras pessoas. Seu Zeco achou um patacão de cobre, cheio de azinhavre, que me deu e que até hoje tenho, emparedado em algum lugar. Tinha o brasão do império, valia 30 reis e tinha a data de 1832. Fecha parêntese.
Pois bem, os escravos foram caçados na costeira de Guaraqueçaba, onde haviam se refugiado. O maior medo de uma sociedade escravista é um levante de escravos. Nossos avós, escravistas de quatro costados, ciosos de seus “bens” e quiçá de suas vidas, sujavam as calças de medo de uma revolta como a do Haiti. Pois a pena para escravo que matava seu senhor era a morte, com direito a pendurar os seus corpos em postes para servir de lição, pra não incentivar novas revoltas. Sabendo de seu destino, os escravos fugidos lutaram até a morte. Segundo Ermelino de Leão, “foram os seos corpos expostos na estrada do sitio, para exemplo, segundo a moral do tempo”. Não são esses os únicos registros desse tipo de acontecimento em nossa querida e amada terra. Que orgulho de nossos antepassados!
Infelizmente, nós não podemos demonstrar qualquer superioridade moral em relação à nossos avós. O Pinheirinho, em São Jose dos Campos (SP) é um exemplo cabal de como nós resolvemos nossas questões com os menos favorecidos: na ponta da bota. Sim, a ocupação era ilegal. Sim, a ordem de reocupação era legalmente bem feita. Sim, a ordem foi executada com presteza. Tudo bonito, justo e legal, como os tucanos em geral e os de São Paulo em particular gostam.  Precisava, em pleno século XXI e 25 anos de regime democrático, chegar a um ponto onde o cacete vale mais do que a negociação? À exemplo da reocupação da USP, meses atrás, feita na maior “limpeza” pela PM paulista, o Estado mostrou como conversa com quem o desafia. Aliás, alguém ainda se lembra da “limpeza étnica” que foi o massacre no Carandiru em 1994?
Ainda temos uma elite com medo, que prefere atirar primeiro e negociar depois. Só uma elite competente e consciente de sua fragilidade como a elite brasileira – e, mais ainda a paulista - agiria assim. Perde uns anéis aqui, uns brincos acolá, mas quando se sente acuada resolve tudo na botina, no cacete, na bala. Como os tempos pedem, tudo muito limpo e dentro da lei. Lei pra quem? Como os escravos revoltados da fazenda Pinheirinho, em Antonina, que na época pertencia à província de São Paulo, como os moradores do Pinheirinho de São José dos Campos, os estudantes da USP e os presos do Carandiru, os subordinados precisam urgentemente aprender qual é o seu lugar. Senão….

sábado, 4 de fevereiro de 2012

RUAS 1950 - NOMES ANTIGOS E ATUAIS


Meu avô, Manoel Picanço (1904-1967) escrevia um diário, onde contava causos e anotava fatos do cotidiano de Antonina. Se tivesse conhecido a internet, "seu" Maneco com certeza seria blogueiro...
(aqui seu Maneco, como bom cronista do cotidiano de sua terra, faz um inventário dos nomes de ruas, recuperando alguns nomes antigos deliciosos...)
  • A rua que hoje chama-se Cel. Marçalo, quando da colocação de placas chamou-se rua 19 de Dezembro a ex-rua do trilho.
  •  A Rua Cel. Líbero era conhecida por Rua dos Mineiros.
  •  A travessa da maçonaria, depois 12 de outubro, desapareceu, ficava entre a rua vale Porto (ex-Ladeira da matriz) e a rua da praia (hoje Praça Rio Branco) entrava-se aonde hoje fica a casa do Romildo G. Pereira e sahia no beco da maçonaria.
  •  A Rua 24 de maio hoje chama-se Sebastião Souza.
  •  A Rua Ermelino de Leão ex-Jaime Reis.
  •  A Rua de São Benedito hoje Vicente Machado.
  •  A Rua do Esteiro, hoje Dr. Melo.
  •  O Largo do Bom Jesus, já se chamou Carlos Cavalcanti, João Pessoa e novamente Carlos Cavalcanti, os últimos como praça.
  •  A Rua da Estação, hoje Dr. Rebouças.
  •  A Rua Fechada, hoje cônego Manoel Vicente.
  •  A Rua da Fonte - hoje Barão Teffé.
  •  A Rua do campo, hoje Conselheiro Araujo.
  •  A Rua Direita, hoje 15 de novembro.
  •  A Rua das Marrecas chamou-se Mestre Adriano e hoje Dr Heitor Soares Gomes.
  •  O campo da casa Escolar, hoje Grupo escolar Dr. Brasílio Machado.
  •  A rua Dr. Joaquim Mendes, era conhecida por Ladeira do Engenho Central.
  •  Travessa Ildefonso, conhecida por ladeira do Macedo.
  •  A Praça Cel. Macedo ex-da República, e antigamente, largo da matriz.
  •  O único nome tradicional é o Largo da Carioca.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

CONSELHO TUTELAR

Na foto, meramente ilustrativa, um prato típico alemão, o muschellkalk-mit-manioc-melt,  ou  bacucu-com-farinha

De vez em quando os parnanguaras olham para o fundo de baía que tem atrás de si e disparam: “só podia ser em Antonina mesmo”. É um exagero, uma pegação no pé, uma brincadeira. Mas, como diz a música, todo boato tem um fundo de verdade. Às vezes, e não só às vezes, nós bagrinhos damos contêineres e mais contêineres de motivos para as bazófias de nossos vizinhos. Mas, é forçoso reconhecer, antes que os ventos terrais, os bagres e os urubus levem as notícias aos parnanguaras, os habitantes da Deitada-a-beira-do-mar já dizem em alto e bom som que tem coisas, para o bem ou para o mal, que só acontecem em Antonina.
Não sei direito o que aconteceu, mas pelo que li recentemente no nosso escatológico e boquirroto Ornitorrinco, porta-voz oficial da indispensável, inoxidável e inominável Ornitorrinco Corporation (rumo a se tornar a V Internacional Socialista), que existiram problemas na eleição do Conselho Tutelar da terra dos bagres. Parece que foi uma barrigada de prazos, sei eu, mas foi alguma coisa que acabou por comprometer todo o processo.  Como tudo na vida, tudo tem um lado bom e um lado ruim. Eleição melada é sempre um problema, pois gasta-se inutilmente o precioso tempo das pessoas, tempo que é tão raro e tão caro nos dias que correm. Eleição melada por incompetência também é ruim, pois a incompetência é prima irmã da má-fé. As duas andam sempre juntas, ora é mais incompetência que má-fé, ora é mais má-fé que incompetência. As duas opções são ruins.
Por outro lado, crise sempre tem o lado da oportunidade. As eleições vão precisar ser refeitas? Muito bem. Que tal os candidatos explicitarem suas idéias, mostrarem seu currículo e tudo o mais? O conselho tutelar em Antonina é muito importante. Temos problemas terríveis em termos de infância e adolescência, é só andar pelas ruas da cidade e o problema está ali, na fuça de todos: maus tratos, prostituição infantil, problemas com drogas, etc., dão um caldo de violência que, se ainda não aflorou é porque é abafado pelo silencio e também pelos interesses envolvidos nessa situação. Há dois anos denunciei aqui o problema da prostituição infantil na praia dos polacos, que envolvia pessoas de Curitiba que alugavam casas para usufruir dos menores sob a cumplicidade dos pais, que por merrecas literalmente vendiam seus filhos aos abusadores. Na época, o pessoal do Conselho Tutelar, que na época era a Maria Alice, respondeu à nossas indagações, aqui no Bacucu e também no meu blog. Não sei o que aconteceu.
Repito: conselho tutelar é coisa seria e importante, e tem que ser levado a sério. Não é coisa que se leve na informalidade, os procedimentos e prazos tem que ser cumpridos, ações tem que ser tomadas. Acho que se as eleições forem retomadas, agora sem riscos de serem impugnadas e com um amplo debate sobre o assunto, coisa que a imensa blogosfera capelista tem condições de fazer é tudo que se pede. Um conselho tutelar eleito e representativo é uma garantia que tem força para agir, para tomar atitudes, enfim, para existir. Nossas crianças agradecem.
Ontem fiz um post falando de liberdade e tolerância em termos de religião, inclusive para os que, como eu, não professam nenhum credo. Respondendo a um post de hoje, 03/02, ainda no Ornitorrinco, repito que fanatismo religioso e homofobia são coisas intoleráveis. Está em curso uma silenciosa e covarde campanha contra quem age “diferente” do comum, e temos que nos posicionar. Necesitamos de punições para criminosos e educação para a convivência pacifica a e tolerância entre os indivíduos, como já fazem há centenas de anos as sociedades que dão certo. 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

SALVE A RAINHA DO MAR


Hoje, dois de fevereiro, é dia de saudar Iemanjá, Dona Janaína, a Rainha do Mar. Envolvido em coisas torpes e mesquinhas, gastei todo o meu tempo livre em coisas produtivas e interessantes para o futuro do Brasil. Mas, esqueci da santa, de ir num laguinho e jogar alguma coisa pra ela. Uma coisinha qualquer, assim com um barquinho de madeira com velas, uma melancia, um ramo de flores meio murchas que estão precisando de água. Mas iemanjá me entende (eu acho), apesar do crime ambiental envolvido em seu culto.
Claro que cultuar Iemanjá não foi um habito que aprendi na minha infância, na Deitada-a-beira-do-mar de antanho. A Antonina de outrora, um lugar pacato e feliz, onde os padres eram americanos, tinham buldogues e tudo era pecado. Televisão? Pecado! Falar palavrão? Pecado! Faltar na missa? Pecado! Desejar o mal daquele filhodaputa que vivia te azucrinando e te perseguindo no recreio? Pecado! As meninas de mini-saia? Pecado! Pecado! Olhar por baixo da saia das meninas? Pecado mortal!
Como então aquela santa maravilhosa, de vestido azul saindo das águas não seria também pecado? Bela, sensual, arrastando os homens para as profundezas do mar, como não amar Iemanjá? Como não amar aquela vontade de afundar naquele mar de desejos que estava na nossa frente, e que aqueles padres americanos sem-batina (oh pecado!) nos proibiam – secundados por um sem-fim de velhas carolas – nos ameaçando com o mais terrível dos infernos? Como amar, como desejar?
Claro que isso são bobagens que se desfazem quando você desce na rodoviária de São Paulo, a antiga Julio Prestes, cheia de gente de tudo que é canto do Brasil. Ali, aquela balburdia de gente, de cores e cheiros diferentes, de sotaques diferentes, jeitos diferentes e desejos nem sempre iguais, você acaba por sentir que o sermão do padre de Antonina não fazia sentido. Coitado do padre, só entendia de cuidar do buldogue dele, que só entendia ordens em inglês. Bom mesmo era o vento do mar quando saiamos da missa na matriz, olhar se a maré estava cheia ou vazia, ou se tinha navio no porto.
A Antonina de hoje eu estou conhecendo e aprendendo a conhecer. Hoje conheço bem os morros, conheço algumas pessoas e algumas comunidades que nem sequer sonhava em conhecer nos meus tempos de guri. Na prática, é a mesma coisa. Antonina continua com suas idiossincrasias (no popular: com seu “jeitão”), só que atualizado aos tempos do celular internet e Ipad. Uma cidade que tem na primeira divisão do futebol times como “Real Madruga”, “Zorba no Rego” ou “Sovaco da Cobra” é um lugar de uma idiossincrasia bem idiossincrática. Hum...deche...
Iemanjá veio depois na minha vida, na Bahia, em Santa Catarina, no Rio de Janeiro, e nos outros lugares que andei. Embora não-crente, procuro respeitar o credo dos outros. Acho bonito a pessoa crer em algo, eu que creio em coisas risíveis, como igualdade-liberdade-fraternidade, democracia, socialismo. Hoje não entendo mais direito essa coisa de crer, mas acho bonito quem acredita em algo, acredita nos deuses, ou no Deus, contanto que não queira sair por aí queimando hereges (como eu) ou explodindo embaixadas. E acho bonito o culto a essa deusa feminina e caprichosa que nos ama e que quer nos quer destruir. Assim são as mulheres. Viva o dois de fevereiro. 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

UM BAGRE NOS PAMPAS


O começo dos pampas, perto de Encruzilhada do Sul ( RS)

Tirei umas ferias do blog, mas estou a mil por hora. Andei fazendo uma viagem de estudos ao Rio Grande Do Sul no começo do ano, interessantíssimo. Fizemos um trabalho de campo na região da campanha, entre Encruzilhada do sul e Piratini, a antiga capital Farroupilha. Descobri que o Rio Grande é terra de macho: de dia, está 38 graus à sombra, e, de noite, o vento no lado da coxilha te dá uma sensação de 15º. Tem de botar blusa, ou o frio te pega. Ou seja, é um clima de quase deserto, o pampa. E a turma lá, toda piuchada, tomando mate e guentando firme aquele solzaço na nuca. Coisa de macho, fui obrigado a concordar.  Senti saudades do cerradão de Goiás, onde de noite sopra um vento fresco, sem trocadilho.  

Piratini é uma bela cidadezinha no alto de uma colina. Lá, se diz coxilha. Tem muito prédio histórico, igrejas bonitas e uma visual maravilhoso. Entre todos os prédios, destaca-se o antigo palácio onde Bento Gonçalves, Netto e Canabarro comandavam a República Riograndense contra os soldados imperiais. Um prédio simples, mas muito bem cuidado. No entanto, senti falta de um bom museu. Uma cidade com tanta historia deveria ter um museu pra que nós, simples mortais, tomemos conhecimento das coisas que ali se passaram. Mas nada, um prédio só, e ainda por cima fechado no domingo.
Isso pra uma cidade que na Semana Farroupilha, em 20 de setembro, recebe cerca de 80 mil guascas de todo o estado e mesmo de todo o Brasil. Dá pra imaginar a Deitada-a-beira-do-mar com tanta gente? No entanto, nisso a cidade é um fiasco, não tem hotel nem pra cem pessoas, que dirá pra cem mil. Os caras têm que ser garrudos e acampar mesmo, e torcer pra não gear no fim de setembro. Coisa de macho. Falta uma Secretaria de Turismo por ali. Alguém da terrinha se candidata?
No caminho de volta, uma placa me deixou desconfiado: de um lado, a placa apontava Pelotas; para o outro lado, era o sentido de Bagé. E agora, caboclo? Questão existencial das mais ardidas essa que nos coloca a tal da RS-114. Qual o rumo a tomar? Entre um destino e outro, todas as cores do arco-íris...
Qual o rumo que tomei? Ora, fui pra Pelotas! Pra quem, como eu, mora em Campinas, digamos que é a mesma coisa, nada mudou. Pelotas pra além da caricatura é uma baita duma cidade, cheia de comercio, indústria e cultura. E, claro, cheia de prédios velhos, de um passado colonial de uma terra tão rica que a tornou famosa no Rio Grande como a terra dos almofadinhas educados em Paris. Pros guasca de Bagé era tudo viado, claro.
Enfim, foi muito divertido trabalhar por lá. É um povo sofrido, o do pampa, mas que é guerreiro por natureza, sabe lidar com as adversidades do clima e do trabalho campeiro. Trabalho esse que mudou muito, hoje tem plantação de pinus e eucaliptos de monte no meio do mato. E o mato não é só campo, em também um mato baixo que parece o mato de maricá que dá nas varzes de antonina: umas árvores enfezadas, ceias de espinhos, baixinhas e difíceis de passar. Quem aí se lembrou da caatinga lembrou certo, esse é o pampa gaucho. O que um bagrinho como eu foi fazer por lá? que coisa, tchê!