Hoje, dois de fevereiro, é dia de saudar Iemanjá, Dona Janaína, a Rainha do Mar.
Envolvido em coisas torpes e mesquinhas, gastei todo o meu tempo livre em
coisas produtivas e interessantes para o futuro do Brasil. Mas, esqueci da
santa, de ir num laguinho e jogar alguma coisa pra ela. Uma coisinha qualquer,
assim com um barquinho de madeira com velas, uma melancia, um ramo de flores
meio murchas que estão precisando de água. Mas iemanjá me entende (eu acho), apesar do crime ambiental envolvido em seu culto.
Claro que cultuar Iemanjá não foi um habito que
aprendi na minha infância, na Deitada-a-beira-do-mar de antanho. A Antonina de
outrora, um lugar pacato e feliz, onde os padres eram americanos, tinham
buldogues e tudo era pecado. Televisão? Pecado! Falar palavrão? Pecado! Faltar na
missa? Pecado! Desejar o mal daquele filhodaputa que vivia te azucrinando e te
perseguindo no recreio? Pecado! As meninas de mini-saia? Pecado! Pecado! Olhar por
baixo da saia das meninas? Pecado mortal!
Como então aquela santa maravilhosa, de vestido
azul saindo das águas não seria também pecado? Bela, sensual, arrastando os
homens para as profundezas do mar, como não amar Iemanjá? Como não amar aquela
vontade de afundar naquele mar de desejos que estava na nossa frente, e que
aqueles padres americanos sem-batina (oh pecado!) nos proibiam – secundados por
um sem-fim de velhas carolas – nos ameaçando com o mais terrível dos infernos? Como
amar, como desejar?
Claro que isso são bobagens que se desfazem
quando você desce na rodoviária de São Paulo, a antiga Julio Prestes, cheia de
gente de tudo que é canto do Brasil. Ali, aquela balburdia de gente, de cores e
cheiros diferentes, de sotaques diferentes, jeitos diferentes e desejos nem
sempre iguais, você acaba por sentir que o sermão do padre de Antonina não fazia
sentido. Coitado do padre, só entendia de cuidar do buldogue dele, que só
entendia ordens em inglês. Bom mesmo era o vento do mar quando saiamos da missa
na matriz, olhar se a maré estava cheia ou vazia, ou se tinha navio no porto.
A Antonina de hoje eu estou conhecendo e
aprendendo a conhecer. Hoje conheço bem os morros, conheço algumas pessoas e
algumas comunidades que nem sequer sonhava em conhecer nos meus tempos de guri.
Na prática, é a mesma coisa. Antonina continua com suas idiossincrasias (no
popular: com seu “jeitão”), só que atualizado aos tempos do celular internet e
Ipad. Uma cidade que tem na primeira divisão do futebol times como “Real Madruga”,
“Zorba no Rego” ou “Sovaco da Cobra” é um lugar de uma idiossincrasia bem idiossincrática.
Hum...deche...
Iemanjá veio depois na minha vida, na Bahia, em
Santa Catarina, no Rio de Janeiro, e nos outros lugares que andei. Embora não-crente,
procuro respeitar o credo dos outros. Acho bonito a pessoa crer em algo, eu que
creio em coisas risíveis, como igualdade-liberdade-fraternidade, democracia, socialismo. Hoje não entendo mais direito essa coisa de crer, mas acho
bonito quem acredita em algo, acredita nos deuses, ou no Deus, contanto que não
queira sair por aí queimando hereges (como eu) ou explodindo embaixadas. E acho
bonito o culto a essa deusa feminina e caprichosa que nos ama e que quer nos quer
destruir. Assim são as mulheres. Viva o dois de fevereiro.
Jeffinho
ResponderExcluirBela matéria, só uma coisa...
...mijar nos muros então... os padrecos falavam que era pecado capital...
...hoje eu acredito que mijar nos muros da nossa cidade é pecado municipal...rss
Abraços
Neutinho