quinta-feira, 27 de outubro de 2011

TEMPESTADES À VISTA


Nuvens no alto do Morro do Feiticeiro, sinal de chuva na terrinha

Outubro está acabando. Aqui em Barão Geraldo, onde moro, as vezes chove outras bate sol, como diria o poeta. Mas não é poesia, é que aqui a temporada de chuvas está começando. De marco a setembro até faz um friozinho, até cai uma e outra chuvinha, mas o normal é que o tempo fique seco e ensolarado. Agora espessas nuvens percorrem o céu e, no fim da tarde, cai uma chuva. Mas isso é só a primavera. No verão, em dezembro e janeiro, será pior, com grandes tempestades e enxurradas caindo sem aviso e rios enchendo de uma hora pra outra. Em são Paulo, quem se arrisca em locais baixos pode ter seu veiculo arrastado para uma vala. Fevereiro e março as chuvas caem mais devagar, mas ainda chove muito. E tudo recomeça.

É aí que começo a me lembrar de minha terrinha, onde chove porque sim e chove porque não. No verão, chove mais ainda. No verão passado, a chuva deixou mortos, feridos, desabrigados e uma destruição como nunca se viu nas terras de Valle Porto. Como será o próximo verão?

Os meus amigos da MINEROPAR, valentes como sempre, estão firmes lá em cima do morro, descrevendo os barrancos, anotando as pedras, mapeando as fissuras do verão passado. Em breve, teremos um bom mapeamento do morro, do Bom Brinquedo até o Tucunduva. Existe um pluviômetro instalado no corpo de bombeiros, atento para qualquer seqüência de chuvas anormais.

Estive na terrinha em setembro, fiquei cinco dias com meus alunos aqui da UNICAMP, fazendo um mapa dos escorregamentos de terra da laranjeira e coletando dados para um mapa geológico da cidade. Conversei com varias pessoas, como meu querido Eduardo Bó, vi o lançamento de seu livro e compartilhei com ele a preocupação de todos com o verão chegando. Conversei inclusive com Canduca, que se mostrou também preocupado com os preparativos para este próximo verão, com a questão dos desabrigados e tantas outras.

No entanto, fiquei um tempo ocupado com meus trabalhos e com meus alunos e comecei a ver a blogosfera capelista de vez em quando, quando tinha tempo. O que vejo é que a blogosfera, que antes era um lugar de discussão e debate, está virando uma grande arena eleitoral. Todos com seus blogs, com as exceções de praxe, estão só tentando ocupar espaços para a eleição que se aproxima. Alguns serão vereadores, outros continuarão vereadores, outros serão secretários municipais. Outros, ainda, ficarão de fora da partilha do bolo e irão para a oposição. E com Antonina? Tirando as exceções de sempre, alguém se preocupa?

Não sou candidato a nada, embora tenha minhas idéias e opiniões sobre política. Algumas delas eu exponho aqui no meu blog ou no Bacucu de meu querido amigo Neutinho. Para minha honra, um tempo desses tive até meu nome sondado pra ser candidato nas eleições da terrinha. Mas não. Estou longe. Meu projeto de vida neste momento é bem outro. Até me pergunto, aqui no meu rico exílio em Barão Geraldo, se vale a pena ter um blog voltado pra minha terra. Será que vale o tempo e o esforço de ter idéias e escrever num espaço virtual para poucas pessoas, que nem sei o que pensam do que escrevo?

Quero deixar claro que escrevo sobre tudo para mim mesmo, é por necessidade quase vital de falar algo que arrisco estas maltraçadas linhas. Poderia estar escrevendo sobre outras coisas, para outras pessoas, mesmo outras cidades. Porem, sou teimoso. Amo minha terra e seu povo. Por ela, reviro céus e terra. Mas confesso que, nesse quente mês de outubro, estou cansado, muito cansado. Me preocupa sobretudo que o embate eleitoral do ano que vem seja vazio e inconseqüente, quando sabemos que o verão e as chuvas estão chegando e a reconstrução da cidade depois da tragédia ainda precise da ajuda de todos.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

NO MORRO DO BOM BRINQUEDO

O ex-bairro da Laranjeira vista do escorregamento maior;
Setembro está sendo um mês terrível aqui no blog. Depois de voltar de uma viagem de duas semanas ao México, tive ainda uma viagem de aproximadamente 5 dias para trabalhar nos escorregamentos da terrinha. Passamos o tempo quase todo subindo e descendo o morro do Bom Brinquedo, na Laranjeira e na Graciosa-Portinho. Estou orientando um grupo de estudantes de geologia aqui da UNICAMP pra tentarmos entender os processos geológicos envolvidos na catástrofe de 11 de março. Assim, talvez, poderemos dar uma pequena contribuição para podermos minimamente prevenir catástrofes deste tipo no futuro.



Claro que também aproveitei pra participar do lançamento do livro do nosso querido Eduardo Bó, a grande expressão artística de nossa terra. O lançamento, feito no excelente espaço do Siri do Portinho, que eu não conhecia. Muita gente esteve lá pra conferir e participar do lançamento, inclusive duas estrelas Máximas do carnaval de Antonina, Guaxica (A bailarina) e a “Velha”. Muito bom mesmo.


O sol está brilhando mais forte, o solo já secou. No entanto, a destruição foi muito grande, e muita gente ainda está longe de casa. Entendo a pressa de se estar num lugar que possamos chamar de nosso. No entanto, as coisas não correm assim tão fáceis. Em Blumenau ainda tem gente desabrigado da tragédia de 2008. Não temos ainda uma certeza das áreas de risco e como elas podem se comportar no futuro. A partir de novembro as chuvas recomecam, temos um verão naturalmente chuvoso, e os morros tem que agüentar até lá. A MINEROPAR está mapeando a área morro por morro, casa por casa, em conjunto com a Ademadan. Tudo isso está sendo passado para a Defesa Civil, que terá um sistema muito melhor para atender as demandas futuras.


Acredito que, apesar dos percalços, Antonina estará saindo dessa tragédia melhor do que entrou, há quase seis meses. Mas a caminhada é longa e cheia de lama, e temos que percorre-la.