"hein? Capitalismo Mercantil? no comprendo..." |
Já vai já meio milênio
e mais de dezoito anos.
Certo dia, uma praia na Terra dos Papagaios amanheceu com uns
barcos estranhos ao longo da costa. Lá pelo meio do dia, veio uma canoa para a
praia. Eram uns caras feios, fedidos, macilentos. Queriam água, comida. Foi dada
comida pra que fossem embora logo. Depois de uns dias, com uma cara melhor, mas
ainda fedidos, vieram aos montes pra uma pequena ilha em frente. Estavam
com medo.
Lá na ilha, um cara
vestindo uma longa túnica preta, começou a falar algumas coisas sérias para os
outros, que ouviam compungidos. Deveria ser algo religioso, ou coisa que o
valha. Ergueu um pedaço de comida na mão, molhou numa taça com uma bebida
vermelha e estranha, comeu e deu de comer para os outros. Primeiro, para os
chefes, depois para o resto.
O chefe, este. Tinha
muito medo, andava sempre escoltado. Tinha umas roupas vermelhas, usava uns
colares estranhos. Tinha um olhar meio blasé, olhava tudo e todos de cima,
menos o tal da túnica preta. Perto dele, outro homem com roupa simples ficava
atento olhando tudo. De vez em quando, fazia algumas anotações num pedaço de
papel.
Os outros, ficavam
levando barris e barris de água pra dentro dos barcos, levavam comida, lavavam
tudo. Ficavam olhando espantados para as mulheres na beira da praia. Parecia
que nunca tinham visto mulher. Olhavam com vergonha, de olhos baixos, como se
não quisessem ver. Estranhos.
Alguns foram lá nos
barcos. O chefe lhes deu uns vidros coloridos e uns espelhos, de que gostaram
muito. Viram alguns animais estranhos, um deles parecia um jacu pequeno, só que
com penas vermelhas.
Depois de alguns dias,
dois dos navios se foram, levando os papeis que o homem atento ficou dias e
dias escrevendo. Os outros acabaram convencendo um dos nossos a ir com eles.
Ele achou divertido, e se foi.
No dia de irem embora,
deixaram três deles aqui na praia. Os homens ficaram chorando feito filhote de
jaguar que perde a mãe. Parecia que ficavam por castigo.
Castigo ou não
castigo, isso não era com a gente. Um deles foi morto neste mesmo dia, e
fizemos uma grande festa com muita bebida. Pena que a carne do sujeito fosse
tão dura e sem gosto. Os outros dois, ficaram um tempo mais por aqui e os
matamos depois de uma grande vitória sobre os temiminós, nossos inimigos. Com
um pouquinho de comida saudável e descanso, a carne deles ficou mais aceitável.
Dos outros, nem
soubemos mais. Diz-que foram para as Índias, em busca de fortuna.
Pra que, se o
Paraíso é aqui, e agora?
(este é um texto antigo, repaginado...acho que ainda rola...)