Hoje é primeiro de abril e domingo de Páscoa. Qualquer coisa
que seja dita hoje pode cair na brincadeira de 1° de abril. Aliás, estamos numa
época em que parece que todo dia é primeiro de abril. As disputas ferozes de
narrativas que temos visto no mundo todo nestes últimos anos pelo menos estão
colocando-nos todos numa situação muito complicada.
Eu sinceramente acho que tudo isso começa com a crise do subprime
em 2008. Desde lá, como na crise de 1929, as economias centrais e as
periféricas começaram a patinar. As pessoas, a se desentender. O preço de
diversas mercadorias (eu ia dizer commodity, mas fiquei com vergonha...)
começaram a despencar. Com isso, varias economias baseadas na exportação de produtos primários acaba sofrendo.
Mas enfim, não sou economista pra dizer isso com todas as letras.
Por outro lado, temos uma narrativa política a ser debatida.
Foi Golpe ou foi impeachment? Tecnicamente, foi um impeachment, tudo dentro da
lei. Certo? Sim, foi dentro da Lei. Mas todo impeachment não é sobre crimes, é
sobre política. O impeachment de Dilma Rousseff foi político. No entanto, a
razão subjacente era outra: tinha-se que, nas palavras imortalizadas por Romero
Jucá, “estancar a sangria”. Sangria do que? Da lava jato. Livrar os políticos
envolvidos nas investigações com um “grande acordo”, ainda nas imorredouras palavras
de Jucá, “com Supremo, com tudo”. Uma vez que era político, era preciso
interpretar a lei até o seu limite, porem sem torcer demais. Como lavar roupa
de seda.
Por tudo isso, o impeachment de Dilma foi uma farsa. Para a
jornalista do New York Times, Amanda Staub, que não é comunista nem trabalha para um jornal comunista, dizer que o medo da
lava jato dá “às elites políticas [brasileiras] um meio e um incentivo para
expor seus rivais, sabendo que isso provavelmente os arruinará”. Por isso a
felicidade com que os deputados e depois os senadores participaram daquela
votação grotesca de maio e depois de agosto. Lembram?
Mas hoje é primeiro de abril. Há 54 anos atrás teve inicio o
golpe que levou os militares ao poder no Brasil. Com a polarização que temos neste
momento, vejo muitos posts louvando a Ditadura e tentando mesmo mudar a
narrativa. Inúmeras fake news são
postadas a todo momento para reforçar isso. O levantamento das postagens após a
morte da vereadora Marielle Franco mostrou que se trata de um grupo
minoritário, menos de 7%. Mas isso não quer dizer que não seja importante. E
preocupante.
A rapidez com que as pessoas se apegam as noticias falsas é
uma coisa preocupante. Numa entrevista recente ao jornal El Pais, o
ciberengenherio Christopher Wylie expos alguns fatos ligados ao recente escândalo
da Cambridge Analytica (veja mais sobre o escândalo aqui), que trabalhou nas eleições de Trump e do Brexit. Ele
afirma cabalmente que houve trapaça, que houve distribuição de notícias falsas
para enganar os eleitores.
A Cambridge Analytica atuava, por exemplo, identificando nas
redes sociais pessoas suscetíveis a cair em teorias conspiratórias. A partir daí,
segundo Christopher Wylie, “você fabrica blogs ou sites que parecem
notícias e os mostra o tempo todo às pessoas mais receptivas a esse pensamento
conspiratório”. Estas pessoas começam a replicar este conteúdo e não
acreditam nas noticias veiculadas pelos jornais sérios. Segundo ele, aconteceu
nos Estados Unidos com uma notícia que Obama estaria enviando tropas para o Texas
porque ele não deixaria o governo. A noticia era falsa, mas criou uma comoção tremenda.
Assim vão manipulando as pessoas.
A manipulação no Brasil
já está acontecendo. Há anos, como o caso do Lulinha ser o dono da Friboi.
Muita gente “de bem” acreditou. Foi bem
claro no episódio da morte de Marielle Franco. Na semana seguinte, com os tiros
à caravana de Lula, as noticias falsas pulularam. Paginas do facebook foram tiradas do ar por propagar noticias falsas e calunias. A tal desembargadora de ideias racistas e homofóbicas vai sofrer processo. Mas os robozinhos continuam. Movimentos como o MBL continuam a propagar mentiras.
As pessoas não percebem isso? Não, e por um motivo muito
simples: os robozinhos dão o que eles querem receber. Alimentam com notícias
que falsas, mas que comprovam uma ideia que a pessoa já tem. E o ciclo da ignorância
se fecha. O círculo da ignorância só beneficia o fascismo que está no ar, denso
como uma fumaça tóxica.
Neste primeiro de abril precisamos paradoxalmente estar alertas para a
mentira.
Os brasileiros, especialmente, estão vivendo um primeiro de abril constante, todos os dias. Até quando,é o que me pergunto todos os dias, a cada descalabro noticiado nos jornais, nos quais não se pode confiar...
ResponderExcluirvale o velho ditado: tempo de guerra mentira feito terra....
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