domingo, 1 de abril de 2018

UM PRIMEIRO DE ABRIL CONTRA A MENTIRA



Hoje é primeiro de abril e domingo de Páscoa. Qualquer coisa que seja dita hoje pode cair na brincadeira de 1° de abril. Aliás, estamos numa época em que parece que todo dia é primeiro de abril. As disputas ferozes de narrativas que temos visto no mundo todo nestes últimos anos pelo menos estão colocando-nos todos numa situação muito complicada.
Eu sinceramente acho que tudo isso começa com a crise do subprime em 2008. Desde lá, como na crise de 1929, as economias centrais e as periféricas começaram a patinar. As pessoas, a se desentender. O preço de diversas mercadorias (eu ia dizer commodity, mas fiquei com vergonha...) começaram a despencar. Com isso, varias economias baseadas na exportação de produtos primários acaba sofrendo. Mas enfim, não sou economista pra dizer isso com todas as letras.
Por outro lado, temos uma narrativa política a ser debatida. Foi Golpe ou foi impeachment? Tecnicamente, foi um impeachment, tudo dentro da lei. Certo? Sim, foi dentro da Lei. Mas todo impeachment não é sobre crimes, é sobre política. O impeachment de Dilma Rousseff foi político. No entanto, a razão subjacente era outra: tinha-se que, nas palavras imortalizadas por Romero Jucá, “estancar a sangria”. Sangria do que? Da lava jato. Livrar os políticos envolvidos nas investigações com um “grande acordo”, ainda nas imorredouras palavras de Jucá, “com Supremo, com tudo”. Uma vez que era político, era preciso interpretar a lei até o seu limite, porem sem torcer demais. Como lavar roupa de seda.
Por tudo isso, o impeachment de Dilma foi uma farsa. Para a jornalista do New York Times, Amanda Staub, que não é comunista nem trabalha para um jornal comunista, dizer que o medo da lava jato dá “às elites políticas [brasileiras] um meio e um incentivo para expor seus rivais, sabendo que isso provavelmente os arruinará”. Por isso a felicidade com que os deputados e depois os senadores participaram daquela votação grotesca de maio e depois de agosto. Lembram?
Mas hoje é primeiro de abril. Há 54 anos atrás teve inicio o golpe que levou os militares ao poder no Brasil. Com a polarização que temos neste momento, vejo muitos posts louvando a Ditadura e tentando mesmo mudar a narrativa. Inúmeras fake news são postadas a todo momento para reforçar isso. O levantamento das postagens após a morte da vereadora Marielle Franco mostrou que se trata de um grupo minoritário, menos de 7%. Mas isso não quer dizer que não seja importante. E preocupante.
A rapidez com que as pessoas se apegam as noticias falsas é uma coisa preocupante. Numa entrevista recente ao jornal El Pais, o ciberengenherio Christopher Wylie expos alguns fatos ligados ao recente escândalo da Cambridge Analytica (veja mais sobre o escândalo aqui), que trabalhou nas eleições de Trump e do Brexit. Ele afirma cabalmente que houve trapaça, que houve distribuição de notícias falsas para enganar os eleitores.
A Cambridge Analytica atuava, por exemplo, identificando nas redes sociais pessoas suscetíveis a cair em teorias conspiratórias. A partir daí, segundo Christopher Wylie,você fabrica blogs ou sites que parecem notícias e os mostra o tempo todo às pessoas mais receptivas a esse pensamento conspiratório”. Estas pessoas começam a replicar este conteúdo e não acreditam nas noticias veiculadas pelos jornais sérios. Segundo ele, aconteceu nos Estados Unidos com uma notícia que Obama estaria enviando tropas para o Texas porque ele não deixaria o governo. A noticia era falsa, mas criou uma comoção tremenda. Assim vão manipulando as pessoas.
A  manipulação no Brasil já está acontecendo. Há anos, como o caso do Lulinha ser o dono da Friboi. Muita gente “de bem” acreditou.  Foi bem claro no episódio da morte de Marielle Franco. Na semana seguinte, com os tiros à caravana de Lula, as noticias falsas pulularam. Paginas do facebook foram tiradas do ar por propagar noticias falsas e calunias. A tal desembargadora de ideias racistas e homofóbicas vai sofrer processo. Mas os robozinhos continuam. Movimentos como o MBL continuam a propagar mentiras.
As pessoas não percebem isso? Não, e por um motivo muito simples: os robozinhos dão o que eles querem receber. Alimentam com notícias que falsas, mas que comprovam uma ideia que a pessoa já tem. E o ciclo da ignorância se fecha. O círculo da ignorância só beneficia o fascismo que está no ar, denso como uma fumaça tóxica.
Neste primeiro de abril precisamos paradoxalmente estar alertas para a mentira.

2 comentários:

  1. Os brasileiros, especialmente, estão vivendo um primeiro de abril constante, todos os dias. Até quando,é o que me pergunto todos os dias, a cada descalabro noticiado nos jornais, nos quais não se pode confiar...

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    1. vale o velho ditado: tempo de guerra mentira feito terra....

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