segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

O MELHOR ATLETIBA QUE EU NÃO VI


O Atle-tiba que não houve. Orgulhosamente, imagens da TVCAP.
Pra quem é paranaense e gosta de futebol, impossível não falar sobre o Atle-tiba. Ao longo de minha vida, vi muitos, tanto dentro do estádio quanto pela televisão, pelo rádio e mais recentemente pela internet. Vi ali jogar craques de verdade, como não existem mais hoje. Pelo Coritiba, vi jogar Zé Roberto, Paquito e Tião Abatiá,  Alex. Pelo Atlético, vi Di,  Sicupira, Assis & Washington, Paulo Rink, Adriano Gabiru e mesmo o menino (ex-menino!) Kleberson, que só brilhou mesmo com o manto sagrado rubro-negro e com a nossa tão maltradada amarelinha.
Vi jogos memoráveis e jogos nem tanto. Assisti empates sonolentos, goleadas sonoras de parte e parte, decisões de campeonato pra lá de tensas e cheias de brio. Vi anos de domínio coxa-branca, anos de domínio rubro-negro e muita, muita rivalidade.
Qual não foi minha surpresa ao ver pela internet (estou em Andrelândia – MG em trabalho de campo com meus alunos e colegas do curso de geologia da UNICAMP) o que aconteceu neste último domingo.
Que bom ver os dois rivais unidos e por uma causa mais que justa: o fim do monopólio das televisões (leia-se Rede Globo) na transmissão das partidas de futebol. Um negócio milionário que tira do torcedor a possibilidade de escolher ver seu time jogar. Quantas vezes não somos obrigados a ver o time “mais querido”, ou “a maior torcida do Brasil” apenas por interesse da citada rede de televisão? Quanto dinheiro os times “médios” perdem em  por causa de todas as maracutaias envolvidas nos negócios sobre direito de transmissão?
Sem falar na bagunça que são as federações de futebol no Brasil. Quando perdemos da Alemanha, houveram algumas vozes pedindo para que adotássemos um sistema melhor de organização do futebol, similar ao modelo alemão. Um modelo que fez o 0 x 2 de 2002 virar o 7 x 1 de 2014. Mas a quem isso interessa? Aos dirigentes de Federação e a própria CBF, definida por Juca Kfuri como a Casa Bandida do Futebol? Interessa aos empresários de jogadores que exploram meninos e ganham dinheiro de maneira desorganizada e inescrupulosa?
A vergonha alheia provocada pela Federação Paranaense ao cancelar o clássico por causa da falta de credenciamento de alguns jornalistas ligados a redes online é uma chacota. Um acinte. Uma piada de mau gosto. Aliás, a própria FPF é uma piada. Um ato digno de todos os dirigentes que teve essa associação, gente de moral duvidosa e sem escrúpulos, e que deveria estar com os dias contados. A organização do atual futebol brasileiro deveria voltar ao passado de onde veio e nos deixar jogar livres, independentes e felizes.
Isso vale para todo o esporte brasileiro. Está também na hora de deixar a futebolmania dirigir todos os interesses. Temos outros esportes e modalidades que também tem importância e merecem mais espaço nos corações e mentes dos brasileiros. Mas, essa crise também é um claro sinal de que tudo está mudando.
Por tudo isso, acho que este é o melhor Atletiba que não vi. Neste jogo, os dois rivais dentro do campo se uniram contra a máfia que controla e futebol e os grandes interesses financeiros das emissoras de televisão. Não é pouco. Como disse o técnico Paulo Autuori, é uma grande mudança de paradigma que a dupla Atletiba faz ao não se curvar a estes interesses.
Hoje é um dia que está bonito ser atleticano ou coxa-branca.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

CIVILIZAÇÃO & BARBÁRIE


Que vivemos tempos estranhos todos sabem. No entanto, nada me deixa mais triste que todos os laços que tentamos criar, desde o fim da Segunda Guerra Mundial estejam se desfazendo diante de nossos olhos sem que ninguém consiga fazer nada.
Nestas horas tento invocar Santa Rosa Luxemburgo, pedindo que nos livre da barbárie. No entanto, ao longo destas ultimas semanas ou meses, o cenário parece ser consistentemente uma fragmentação e ruptura de laços frágeis, porem necessários.
Fazem dois séculos que estamos construindo espaços para o respeito e a dignidade individuais, os chamados Direitos humanos. Direitos esses que são das classes dominantes e pouco, muito pouco, das classes subalternas.
Os direitos da burguesia são fáceis de ver e respeitar. O direito dos outros, no entanto, é vilipendiado, negado, execrado.  Direitos humanos para humanos direitos, não é mesmo? Será que os direitos humanos de um humano “direito” branco são os mesmos de um humano “direito” negro? Será que um humano “errado” branco não tem mais direitos que um humano “direito” negro? Isso sem contar os humanos “errados” negros (ou índios, ou chechenos, ou de uma religião diferente da nossa), que são sumariamente eliminados.
Ao tentar uma construção social que seja inclusiva, que respeite classe social, credo, cor, gênero, não são fáceis os obstáculos que se interpõe. A discussão sobre humanos “errados” ou “certos” torna um debate difícil, oco, inconclusivo.
O que se vê é aumentarem barreiras, muros, dificuldades. O outro é sempre o inimigo, aquele de quem devo me defender com armas até os dentes. Estamos num tempo em que se declaram uma cínica guerra à pobreza, à diferença, negando valores fundamentais de altruísmo e solidariedade.
É com imensa tristeza que vejo a facilidade com que a mera ausência de polícia, uma polícia nem sempre boa ou cidadã, nos torna num amontoado de bestas ferozes. O que passa pela cabeça de um cidadão que saqueia uma loja? Ou nas pessoas que se aproveitam da confusão para praticar todo tipo de delitos?
Ao ver as cenas do caos no Espirito Santo, o que me vem à cabeça é que  parece que a barbárie vem nos aplicando um peremptório 7 a 1.
O que vemos surgir dessas greves de polícia é uma sociedade que não tem nenhum laço que a una. Uma sociedade esgarçada, desigual e que só se mantem unida pela força bruta e pela arbitrariedade da polícia que temos (Nos ajude, São Foucault!).
Chego a pensar que Trump tem razão ao impedir a entrada de refugiados, ou Temer e os partidos de sua coalizão golpista de impor retrocessos sociais e aumentar o nível de exploração do trabalho. Eles têm razões (as deles).
Nós é que somos estúpidos a pedir altruísmo e solidariedade numa sociedade marcada pela brutalidade e que regride ao tempo das invasões barbaras assim que a polícia desaparece. Essa sociedade eu não quero.
Feliz do povo que não precisa de polícia para viver em paz.