quarta-feira, 24 de julho de 2013

DJALMA SANTOS (1929-2013)

Djalma Santos desfilando em carro aberto na Deitada-a-beira-do-mar, 1970. (copiei daqui)

Ontem, ao fecharem-se os olhos dos jornais, me vi entristecido e mais pobre. Morreu Djalma Santos, craque da seleção brasileira e também do meu Furacão. Lembro-me de ter visto Djalma Santos jogar, no portentoso estádio do 29, na Deitada-a-beira-do-mar. Eram memórias nebulosas, de infância, de quando eu ainda era lobinho e estávamos os escoteiros fazendo a “segurança” do jogo. O que a gente podia fazer com aqueles bastões pra conter a multidão? Certamente nada, mas dava uma sensação de poder imensa.
Lembro vagamente de que eu e mais alguns lobinhos demos um buquê de flores ao craque, que nos cumprimentou a todos. Meu pai, ao lado, conseguiu um autografo num papel com o timbre do Atlético (esse autografo sumiu, procuramos eu e meu pai durante muito tempo e nada...). Lembranças vagas e esparsas.
Hoje, através do blog do Porvinha (aqui), grande divulgador do futebol na terra de Valle Porto (e de Bino, o “Gato Selvagem”, o maior goleiro paranaense de todos os tempos), vemos ressurgir, frescas, do passado, tais notícias. Pelo seu blog, aprendemos um pouco mais do que aquelas sensações de menino. Tratava-se de um jogo amistoso entre o 29 de Maio e o Água Verde, onde estava Djalma Santos. Terminou num pragmático zero a zero, e teve muita cervejada e caranguejada depois, como seria de se esperar.
Era certamente uma Antonina muito diferente e um futebol muito diferente do de hoje. Tal jogo, terminando com uma caranguejada, seria hoje praticamente impossível. E a foto do blog do Porvinha, acima, mostrando o craque desfilando num calhambeque pela avenida Dr. Carlos Gomes da Costa, a Avenida do Samba. À direita, uma porção de escoteiros cercando o carro. Posso até ver a cabeça de seu Dodô lá atrás (saudade!).
Djalma Santos e Bellini foram jogadores míticos, os galácticos que espantaram nosso estigma de vira-latas e nos trouxeram, de maneira magistral, nossos primeiros títulos mundiais. Os dois, Djalma e Bellini, foram alguns dos responsáveis pelo titulo do Atlético de 1970. Foi muita felicidade, que até hoje sinto entre uma dor no ciático e outra. Depois, passamos doze anos de calvário. Era duro ser atleticano naquela época, ainda mais que hoje, meninos. Acreditem.

Saímos do inferno da segundona no ano passado após grande saga (aqui) e estamos agora penando no caminho de volta (mas sem volta!) pras terras do Sem-chinelo. Sai pra lá, Bode Preto! Vejo as imagens de Djalma Santos, forte e suave nas páginas dos jornais e na internet. Foi-se. Sua ausência é o vazio de um mito que cruzou, no passado e por um breve momento, a minha vida pacata. E sinto saudades do tempo em eu era menino e via Deuses à minha volta.  

terça-feira, 9 de julho de 2013

AO PATRIÓTICO POVO DE ANTONINA!

(segue a plataforma de Ermelino de Leão em sua campanha a prefeitura municipal de Antonina em 1912)

Ermelino de Leão (1871 - 1932) em sua Biblioteca na Deitada-a-beira-do-mar
[continuação]


Apelarei para a boa vontade dos antoninenses, esperando que cada um dos habitantes deste município seja um colaborador do seu governo, auxiliando-o na execução fiel das posturas, cujo império deve ser igual para todos.

Apelarei para as classes laboriosas para os pequenos, para os operários, para o commércio, para a indústria, pedindo-lhes o concurso de seu apoio, afim de levar a efeito uma obra de ressurgimento, si não me faltar a boa vontade da população e os recursos necessários.

Sei que outros ilustres correligionários, dignos de nosso apoio e que mereceram minha previa indicação, poderiam dar mais brilhante desempenho às funções prefeituraes: si obedeci ao apello dos meus amigos e correligionários, tive em vista desígnios superiores da PAZ, do CIVISMO  e da LEALDADE.

Conto que não me faltará, sendo eleito, com a boa vontade da patriótica administração do estado, e do ilustre patrício que, ora, com brilho, ocupa a suprema magistratura do Paraná.

Si o pronunciamento das urnas sanccionar a indicação dos meus correligionários a amigos posso assegurar aos habitantes deste município que serei obscuro, mas sincero defensor dos interesses collectivos, procurando fazer da administração um culto de civismo, e guiando os meus passos no caminho da ordem e da moralidade para os grandes ideaes que conduzem à Perfectibilidade Humana.

Com o penhor do meu compromisso que ora assumo, entrego aos meus patrícios o passado de dedicação e sacrifício pelo Paraná, esperando, confiante, o pleito livre de 20 de junho proximo vindouro.


Antonina, 16 de maio de 1912



Ermelino Agostinho de Leão. 

domingo, 7 de julho de 2013

VOTE CERTO, VOTE DIREITO: ERMELINO PRA PREFEITO!!

 (por um desses acasos da vida, topei com um pequeno livrinho em que o Dr Ermelino de Leão mostrava "Ao Patriótico Povo de Antonina" seu programa de governo. Ermelino foi candidato a prefeito pelo Partido Republicano Paranaense ao cargo de Prefeito Municipal em 1912. Vejam as diferenças e semelhanças com hoje, 101 anos depois. Conservei a ortografia original) 


Ermelino Agostinho de Leão
(1871 - 1932)
AO POVO ANTONINENSE

Indicado por meus amigos e correligionários para o cargo de Prefeito Municipal, não declinei da distincção de tão iniludível prova de confiança, unicamente pelo intenso desejo de prestar a terra em que resido e a qual me acho vinculado por inquebrantáveis elos, os serviços que de mim, os meus patrícios, tem o direito de exigir.

Assim procedendo, não me deixei inspirar nos sentimentos subalternos da ambição, nem seduzir pelos encantos enganadores do poder: obedeci a norma, que me tem norteado a vida publica, de jamais recusar o contributo de minha dedicação, em qualquer esfera que ella possa resultar de utilidade, ao Paraná.

Não levarei para a administração municipal, caso o pronunciamento das urnas me invistam da função publica, outro programa que não synthetize a simples contextura desta sentença: o meu programa consiste no cumprimento do dever.
Cumprirei, pois, o meu dever, quando eleito, continuando a ser um advogado dos altos interesses do município, procurando impulsionar o seu progresso e contribui para o aproveitamento das riquezas que seu abençoado solo tem acumulado, sem outra preoccupação que não a não ser da utilidade publica e a do bem-estar da população.

Na ordem politica, cumprirei o meu dever conjugando a minha acção com a dos altos poderes do Estado, procurando fazer da Prefeitura um auxiliar eficaz ao patriótico governo do paraná, dentro do município, quer prestando todo apoio as medidas administrativas quer provendo, sem transgredir a esfera da autonomia a harmonia dos poderes, que considero uma das grandes virtudes de nosso regimen politico.  

Cumprindo o meu dever, prestarei ao Partido Republicano Paranaense desta localidade que levantou minha candidatura, os serviços compatíveis com a boa administração e que a lealdade politica me impõe.

Como exator do dever, eleito, empenhar-me-hei para implantar a tranquilidade e a harmonia tão necessárias ao desenvolvimento da nossa sociedade, tornando a justiça uma aliada da administracção.

Estas, as linhas do meu programa politico que visa a Concórdia, como elemento da ordem e para os fins do progresso.

Na ordem administrativa, não prometo o revolver de um vasto plano de reformas que exceda as possibilidades de nosso município: terei, quando eleito, a preocupação de conservar, melhorando, propugnando pelos legítimmos interesses das classes menos favorecidas, que são as que mais reclamam a intervenção e o auxilio dos governos.

Cumprirei meu dever, zelando pela boa aplicação das rendas municipaes, adoptando o regimen de larga publicidade dos actos da prefeitura, de modo a permitir a mais severa fiscalização do público a todas as suas resoluções.

Tentarei reduzir as despesas às proporções da receita, mantendo o equilíbrio financeiro que assegure credito e a boa fama que o município preza.

Cumprirei meu dever, cuidando das vias publicas e o calçamento gradual de parte da cidade, que está reclamando este urgente melhoramento.

Cumprirei meu dever, propugnando pela difusão do ensino, estabelecendo um combate pertinaz ao analfabetismo e estimulando o professorado municipal ou estadoal, por um conjunto de medidas que concorram para elevar a frequência das escolas deste município.

Em desempenho ao dever, sendo eleito, procurarei regularizar os serviços de assistência aos necessitados e de hygiene, impedindo que sejam creados focos de infecção, atendendo ao problema de alimentação publica e concorrendo para que as condições favoráveis de salubridade do município se tornem coletivas e sólidas.
Procurarei estudar o problema da habitação proletária, investigando os meios de proporcionar aos nossos operários casas hygienicas e baratas.

Não circunscreverei minha acção aos estreitos limites do quadro urbano: tratarei dos interesses da lavoura , procurando adoptar uma politica econômica que tenda a desenvolver os diversos ramos de cultura agrícola, lançando, em bases scientificas, a polycultura que, felizmente, é um dos característicos da agricultura antoninense. Com taes intuitos, pedirei, quando elevado a prefeitura, o apoio decisivo dos altos poderes do Estado e da República, de modo a banir a rotina e proporcionar aos lavradores novos processos que assegurem maior compensação ao trabalho.  


Si os votos livres do povo de Antonina me considerarem digno de gerir os destinos do município, não me descuidarei de impetrar do governo da união medidas que concorram para melhorar as condições de nosso porto, batalhando, com tenacidade, para que vejamos satisfeita essa legitima aspiração de que todos nutrimos; e, bem assim, continuando a pugnar pela justiça no regimen tarifário e pela reabertura da estrada da graciosa. Não só prometo aos patrícios mais que o cumprimento do dever: serei um simples intérprete dos desejos da população de Antonina, um sincero advogado de seus interesses, um fiel exator das leis municipaes.

[continua]

sábado, 6 de julho de 2013

ALEGRIA E TRISTEZA DE PAI


Hoje estou alegre e estou triste. Meu filho Pedro está neste momento em algum lugar a 11 mil metros de altura entre Santiago do Chile e Sidney, na Austrália, para onde está indo passar um ano pelo programa Ciência sem Fronteiras. Sinto alegria por ele pela oportunidade que está tendo de, ainda na graduação, passar por uma experiência de conviver com outras experiências universitárias, outras culturas.

Por outro, a tristeza de saber que nos próximos 360 dias não o terei por perto. A angústia de pai, de saber como ele vai estar se virando por lá, literalmente do outro lado do mundo. É assim que é.  Eu o ensinei – espero ter ensinado realmente – a ser responsável e decidir seus rumos. Agora, o passarinho saiu do ninho e está voando pra longe, bem longe. Sei que está tudo bem, mas mesmo assim meu coração bate mais forte.


Boa viagem, guri.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

PLANETA RAIVA

As manifestações na avenida Moraes Sales, em Campinas (copiei aqui)
Foi a diva Elza Soares quem contou: ela estava no programa de calouros de Ari Barroso, lá pelos anos 50. O radialista, olhando para a menininha de seus 15 anos, adolescente magrinha e vinda do subúrbio, quis tirar uma onda de sua estranha figura e perguntou: “Menina, de qual planeta você veio?” a resposta da diva foi divina: “Do Planeta Fome, seu Ari”. Uma sensação estranha me passou pela cabeça: hoje, no Brasil, vivemos no Planeta Raiva.
Estive na primeira manifestação aqui em Campinas. Andei pelas avenidas centrais: Francisco Glicério – equivalente à Marechal Deodoro em Curitiba, larga e cheia de lojas e bancos. Muita gente, muitos cartazes, todo o tipo de proposta. Quando cheguei perto da Prefeitura, que tinha virado uma praça de guerra comecei a olhar os tipos que lá estavam. Tinha de tudo. Mauricinho, descolado, skatista, mano. Mas estes, os manos, junto com os skatistas, eram os mais ativos. Tacavam pedra na policia, que devolvia com bombas de gás. Os vidros dos pontos de ônibus na rua estavam estilhaçados, os vidros da própria prefeitura estavam quebrados, latas de lixo reviradas e pegando fogo.
Via-se aqui e ali pelotões do choque, de escudos e lança-bombas. Os manifestantes investiam contra eles com paus e pedras, e eles devolviam com bombas, cassetetes e – não vi, mas um aluno nosso acabou levando um tiro – balas de borracha.
A parte classe média das manifestações não me interessa. Pediam coisas que meu avô udenista assinaria embaixo, nenhuma relevante. Sem mudar o sistema de poder, não há o que fazer em termos de moralidade, pois o capital não tem moral. Qual a moral de um punhado de notas de 50 ou 100 reais? Que culpas morais tem um punhado de dólares num paraíso fiscal?
O que me interessou foram os meninos, os tais dos vândalos que a imprensa, nunca tão burguesa como agora, resolveu assim chamar. É fácil chamá-los de vândalos, de bandidos, botar a policia em cima. Estes dias a policia carioca invadiu uma favela e matou dez dos “vândalos’. Ninguém vai notar a diferença, e todos vão ficar mais aliviados, certo?
Do rio que tudo arrasta se diz violento, mas ninguém chama de violentas as margens que o comprimem”. Essa frase do dramaturgo Bertold Brecht nunca me pareceu tão verdadeira. No subúrbio, na favela, ninguém nunca chega de mansinho: o Estado chega atirando, e não é com balas de borracha. A vida dos manos é a vida contada nos raps, onde denunciam a dor e a violência que os cerca. Alguém imagina que uma pessoa vivendo num mundo assim vai pruma manifestação distribuir flores ou beijos?
Que fique bem claro: não sou uma pessoa violenta, nem estou pregando a violência. O que estou dizendo é que esta violência dos “vândalos” precisa ser tratada, precisa ser entendida. Cinco séculos de escravidão e opressão estão por trás destes quebra-quebras. Empregar a policia é só mais do mesmo. E vamos perder a chance de realmente integrar estas pessoas na nossa sociedade como pessoas, coisa que nossas elites e nossa classe média em absoluto não entendem.
Bóris Schnaidermann, escritor e ensaísta, foi também pracinha expedicionário na Segunda Guerra Mundial. Em seu livro “Guerra em Surdina”, onde conta sua experiência, nos diz dos soldados comuns, do nosso “povão”, que enfrentaram com um misto de medo e bravura o frio europeu e a guerra moderna. Na volta ao Brasil, Schnaidermann nos conta que viu, em pouco tempo, os seus bravos camaradas de guerra desaparecer no meio da massa, invisíveis. E pergunta, atônito: “onde estão vocês?

Estas manifestações foram somente a ponta do iceberg. A grande massa sequer se mexeu, só mostrou seus dentes. Quando ela se mexer de verdade, não adiantarão cem edições especiais de Veja pra contar a história.  

(PRA QUEM QUISER LER MAIS SOBRE ESTE ASSUNTO DE GENTE MAIS BEM PREPARADA QUE ESTE HUMILDE BLOGUEIRO, CLIQUE AQUI )