domingo, 15 de junho de 2014

A VIDA SEM GOOGLE

Vendedora ambulante na entrada do Parque Olímpico em Beijing. O que ela está vendendo? O Google sabe responder? socorro!!
No inicio do ano, passamos 12 dias numa praia do Uruguai, Cabo Polônio, numa casa sem eletricidade e com água de poço. Foi uma grande experiência voltar a coisas de antes de mim mesmo, ao tempo dos meus pais e avós, numa mundo ainda sem o tal do conforto da vida moderna. Aprendi a valorizar essas coisas de economia de recursos, e conseguimos diminuir o consumo de água de nossa casa, por exemplo. Sou mais observador que era com coisas de deixar luz ligada sem necessidade. Minha avó ficaria orgulhosa de mim.
Agora, passei por outra experiência limite: nos quinze dias que passei na China, não pude usar nem Google, nem Gmail nem Facebook. “Dar um google” ou “google something”, como dizem os americanos, lá simplesmente não cola. Você acessa uma vez e depois o botãozinho fica girando, girando, girando e depois de uns quinze minutos diz que aquela pagina não pode ser acessada.
Fazer o quê? No meu caso foi ficar literalmente sem, pois os instrumentos de busca que tem por lá são em chinês. Como entender aquela algaravia de símbolos, que nos deixava atordoados desde o aeroporto até o hotel e depois nas ruas nas lojas? Foi uma experiência de me sentir completamente analfabeto, completamente estupido. Aliás, essa é a essência da experiência no estrangeiro: virar um completo idiota que não sabe comprar um pão na esquina, nem qual ônibus e trem vai pegar, que mal consegue dar um obrigado sem dar bandeira.
Qual a saída? Não há saída, a não ser o aeroporto. O Bing, se me perdoam os seus defensores (se há algum!) é uma pálida experiência. Digitar as páginas diretamente no , como se fazia antigamente, é uma saída. Até me lembrei de coisas de antigamente (dez anos atrás!) quando se fazia essas coisas sem buscar primeiro no “oráculo”.
Outra coisa que me ocorreu foi a nossa total dependência dessa coisa que se chama Google. Os chineses, ciosos da sua independência, trataram logo de dar um basta e criar uma base de busca na qual eles confiam e podem manipular.  Tanto chineses quanto o resto do mundo (é assim a divisão que os chineses fazem do mundo, aliás) estão expostos a este jogo onde nossa privacidade está circulando por aí livremente, pra ser usada contra nós por governos e empresas de marketing - não necessariamente nessa ordem. A exposição de nossas vidas, sentimentos e ideias nos dias de hoje é tão cotidiana e ao mesmo tempo absurda que as longínquas noções orwelianas do passado hoje são um mero entretenimento para milhões.

Não sei o que vai mudar, mas estou nesse momento dando outro valor as experiências de tentar viver um pouco mais fora dessa Roda-viva e tentar dar um sentido a vida que não seja essa exposição boba e narcisista que fazemos hoje nos espaços virtuais. A vida e o mundo são maiores que isso. Mas não podemos esquecer de seu poder e de sua abrangência. Acho que a vida sem Google me indica esse caminho, o qual eu não sei se vou conseguir trilhar, seja por preguiça de fazer outra coisa, seja pela mera necessidade de faze-la. O que inclusive já estou fazendo ao postar estas maltraçadas. 

2 comentários:

  1. Muito bom. Vivi essa vida simples e sem conforto, sei com é difícil abrir mão dessa modernidade. As grandes diferenças com o passado é que lá éramos mais criativos para resolver os problemas do dia-a-dia com mais vagar, também, não estávamos massacrados ao grande volume de informações, nem, cobrados por tanta produtividade.
    Espero novas cronicas do explorador do oriente.
    Bom retorno.
    Fausto

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    1. Se a produtividade - aquela outra - me deixar, eu vou tentar ter mais produtividade em relação as cronicas
      abraço

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