Hoje é domingo, pé de cachimbo. Já tarde da noite, trabalhando no fim de semana, são as contingências da vida de professor universitário. São os cavacos do oficio. Amanhã devo ir a Nova Friburgo (RJ) para um simpósio de geologia e onde, pela primeira vez na minha vida, vou coordenar uma mesa-redonda. Também devo participar de alguns debates sobre os desastres geológicos da região serrana do Rio este ano. Infelizmente, não deu tempo de preparar uma comunicação sobre o desastre da terrinha. Mas estarei lá, vou ver e aprender o que puder.
Pois então, minha terrinha faz hoje 214 anos de feliz existência. Feliz? Meu amigo gusano já vai me interrogar: afinal, amigo, o que é a felicidade? É um estado de espírito, uma condição, uma pré-condição, o que? Não sei responder, amigo gusano. Talvez, na próxima ida à terrinha, tenha que buscar ajuda espiritual de Pai Zinho de obatalá, meu guia metafísico que só me mete em enrascada.
O que sei é que minha terra sempre foi uma terra valente e brigadora. Brigou pra ser uma cidade, contra os interesses do lado de lá da ilha de Teixeira. Brigou pra ser uma paróquia, pra poder rezar em paz. O 6 de novembro, quando finalmente nos emancipamos, foi um dia de festa popular, talvez um prelúdio de nosso carnaval. Ermelino de Leão que o diga, lá no seu “Fatos e Homens”.
Depois, Antonina brigou pra ser porto. Conseguiu. Não foi só um porto, foi um porto importante, o 3º de Brasil nos anos 1930. Antes, o pessoal do lado de lá da ilha do Teixeira fez o que pode pra nos impedir. D Pedro II foi contra os anseios dos capelistas e nos tirou a ferrovia. Está lá, nos diários do velho, já comentados neste espaço. Depois, bem depois, conseguimos nosso ramal. Conseguimos pavimentar o Caminho da Graciosa, até a construção da moderna BR-277 o melhor caminho do litoral para o planalto.
A segunda metade do século XX foi ruim, não dá pra negar. O progresso de Antonina foi todo pra Paranaguá. Desde os anos 1970, lutamos pela sobrevivência do porto e da cidade. muitos de nós está em Paranaguá e Curitiba, em vez de estar comendo um caranguejo na Ponta da Pita. Teríamos chegado hoje a uma população de 50 mil habitantes facilmente.
Mas nada disso aconteceu. Nosso cantinho de baía empacou, mas não perdeu a ternura jamais. Contra o baixo astral, contra o pessimismo, nosso povo sabe sorrir, sabe rir, sabe gargalhar. Temos nossas festas pra se divertir, temos o carnaval pra pular, um peixinho de vez em quando, um pirão do mesmo...será que alguém ai sabe o que é a felicidade?
Neste inicio de século XXI, quando tudo parecia que ia melhorar, eis que a catástrofe se abate sobre a terra de Valle Porto. Casas destruídas, bairros destruídos, gente ferida, gente morta. Nessas horas, pensando bem, foi até bom não termos 50 mil habintantes, muitos dos quais estariam ocupando nossos morros. A tragédia que nos abateu poderia ser maior.
Como diz o lema de Eduardo Bó: “levanta, sacode a poeira, dá volta por cima”. O bagrinho é antes de tudo um forte. Vamos vencer. Antonina já é um canto do paraíso, um convite à felicidade, o que quer que isso queira dizer. Vamos cuidar de nossa cidade, vamos cuidar de nossos morros, de nossa baía, de nosso patrimônio histórico, artístico, cultural e industrial. Como diria a letra de um – só um – de um de nossos muitos hinos: “Minha Antonina gentil, és um pedaço de aquarela das belezas do Brasil!”. Com saudades e lagrimas nos olhos encerro esta simples crônica.
Como é linda esta cidade!! |
E viva Antonina, mesmo que ela seja, parafraseando Drummond, somente uma foto na parede.
ResponderExcluirE como dói...
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