Vocês se lembram de alguém que tenha votado no Collor?
Eu me lembro de muita gente que teve essa opção funesta em
1989. Foram, inclusive, a maioria dos leitores. Mas, anos depois, ninguém mais
admitia ter votado nele. Não me lembro de ver ninguém batendo no peito, orgulhoso,
dizendo: “Eu votei no homem!”
Lembro que uma vez, ao conversar com alguém na rua e que não
me conhecia, eu fiz uma falsa confissão: “pois é, eu votei no Collor. E me
arrependo muito”. De imediato, a pessoa me fez uma cara de empatia e contrição,
respondendo “eu também me arrependi!”.
Hoje, parece que estamos numa situação semelhante: o numero
de pessoas que quer votar no capitão reformado é muito grande. Quase todos se inflam
de orgulho ao dizer que o candidato que escolheram é “limpo”. E que é contra a
corrupção. Quando escuto isso, imediatamente me vem à memoria o “Caçador de
Marajás”.
Ele também dizia que era uma força renovadora na política. Vinha
também de um pequeno partido sem expressão, o PRN. Para todos os lados, o que
se via era a bandeira da corrupção (Veja aqui o discurso dele em 1989) . Qual era a sua proposta para a saúde? – “Caçar os Marajás!” Qual sua proposta
para a economia? – “Caçar os Marajás!”.
Era o monocórdico discurso.
Vínhamos de um tempo
muito estranho. O regime militar havia acabado melancólico, uns quatro anos
antes. Decisões políticas equivocadas, o fantasma de milhares de casos de
corrupção abafados, o general Newton Cruz fechando Brasília no dia da votação
das Diretas já. O regime militar era um cadáver na sala. Para ocupar a presidência,
em lugar de Tancredo Neves, assumiu José Sarney, um político astuto, mas
despreparado. Suas ações intempestivas na economia levaram a mais caos, e a uma
hiperinflação. As primeiras eleições presidenciais desde 1960 ocorriam num
ambiente de caos econômico e de desesperança com a política.
Collor foi uma aposta praticamente pessoal de Roberto Marinho,o dono da Globo, para afastar a ameaça de um governo de esquerda. Naquele momento,
a principal preocupação eram Leonel Brizola e Lula. Collor e seu discurso
anticorrupção caíram no gosto do Dr Roberto, que foi o seu mais fiel eleitor.
A história todos sabem. Cercado de corruptos por todos os
lados, com uma economia em frangalhos, impopular e abandonado pelo seu
benfeitor, Collor amargou o impeachment.
A história é cruel. Foi cruel com Collor. Seus eleitores o
esqueceram e o apagaram da memória. Tudo se passou, na cabeça das pessoas que o
elegeram, com se jamais tivesse se passado. Um esquecimento conveniente, todavia, que
acalma as consciências. No entanto, tudo foi verdade.
Hoje, estamos novamente com um candidato anticorrupção na dianteira
das intenções de voto. Um candidato de passado insignificante, que em mais de
30 anos pulou de partido em partido, e que em todo esse tempo não teve sequer
um projeto aprovado.
Galopando em cima de um discurso anticorrupção, ele promete
mais segurança. Os planos são vagos: dizem somente que policia vai ter carta
branca para matar. Quem conhece minimamente o Brasil sabe quem vai morrer: os pretos
e pobres. Mas mesmo assim, as pessoas embarcam neste autoengano. Mesmo muitos eleitores
pretos e pobres.
Não há como não fazer o paralelo com Collor. A história de
povos sem consciência se repete e se repete, ora om farsa, ora como tragédia. O
fascismo que ele representa, entretanto, é muito pior Collor e sua “República das Alagoas”. Estão quase todos embarcando numa canoa furada, sabendo que é
furada. Tentando desesperadamente se convencer que não está furada.
Bolsonaro é um preço muito alto para se livrar do PT.
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