A rua da Republica, em Quintino, bairro onde os escoteiros ficaram em fevereiro de 1942 |
(Estamos no mês de fevereiro de 1942. Enquanto o mundo está em
Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de
Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, percorreram 1250 quilômetros numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro
para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 11 de fevereiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) estão alojados no bairro de Quintino, e aproveitam para conhecer os suburbios do Rio.)
Naquela quarta-feira de manhã, 11 de fevereiro de 1942, tudo
amanheceu na maior paz de Deus, segundo nos conta Lydio. Os cinco rapazes escoteiros
agora estavam alojados no colégio em Quintino, no subúrbio, sob a hospitalidade
de Chefe Francisco Pires. Ainda esperando vaga no Colégio Militar, ainda
esperando quando eles iriam conseguir entregar a mensagem de que eram
portadores ao presidente da república.
Assim como estava, nada de Albergue da Boa Vontade, nada da
Zona portuária. Agora, ali no subúrbio, Lydio estava querendo conhecer a
cidade. Pela manhã, ele foi até Bangu, onde eles tinham passado durante a
chegada ao Rio. Ele queria conhecer a grande fabrica de tecidos Bangu, famosa
em todo o Brasil. Mas ele deu com a cara na porta. Neste exato dia, não eram
permitidas visitas.
De volta, Lydio passou em Madureira, a capital do Samba. Ele
deu algumas voltas pelo bairro e sentiu no ar – esta é sua exata expressão – o
som das batucadas. Não era pra menos. Estavam a poucos dias do carnaval.
Faltavam quatro dias.
De volta a Quintino para o almoço, Lydio não demorou para
ganhar a rua. Não queria ficar parado, queria conhecer a cidade. Por isso, ele
não perdia uma chance sequer de sair e conhecer lugares diferentes da capital.
Enquanto isso, os outros quatro ficavam ali, como que presos
no colégio, sem sair para a rua. Chefe Beto ainda estava doente por causa da
sarna que pegara. Ficou uns dias incomunicável no Albergue da Boa Vontade, e
agora estava em tratamento. Não estavam com uma cara boa.
Manduca, por outro lado, estava parecendo uma estátua.
Segundo nos conta Lydio, ele ficava num mutismo assustador, não conversava com ninguém.
Na certa, estava assustado com a cidade e com as coisas que estava vendo. E com
saudades da sua Antonina, e da vidinha que ele tinha por lá. Do grupo, somente
Milton e Canário se mantinham dispostos e joviais.
Mas, conta Lydio, os quatro estavam mais para descansar e
engordar. Nesta mesma quarta feira, eles ficaram no colégio lavando as roupas.
Lydio, por outro lado, estava tão doido para sair que lavra as suas na noite
anterior. Prioridades.
Na tarde daquele dia, Lydio saiu para conhecer Brás de Pina
e Engenho de Dentro. Ele dia que só não conheceu outros porque um era distante
do outro e isso demandava tempo e muita despesa com a condução. Mas que ele
tentou, lá isso ele tentou.
Enquanto isso, os jornais cariocas deste dia davam muita
atenção a situação da cidade de Singapura, sitiada pelas forças japonesas. A
situação estava desesperadora, e a queda da cidade era iminente. Seria uma
importante perda na situação estratégica dos britânicos na Ásia. Na frente
russa, os exércitos soviéticos estavam tendo um sucesso relativo em afastar o exército
alemão de importantes pontos da linha de defesa.
Nos noticiários da cidade, o assunto era o carnaval daquele
ano de 1942. Todos estavam se preparando para os três dias da festa de Momo.
Desde a primeira dama Darcy Vargas até o mais humilde morador dos morros, todos
estavam preparando o que iriam fazer. Daqui a pouco até mesmo os escoteiros
iriam se preparar para a grande festa nacional.
Enquanto isso, na noite do subúrbio de Quintino, os rapazes
tinham outras preocupações. A missão tinha que ter um fim. Como eles fariam
isso? Quando eles conseguiriam falar com Getúlio Vargas e lhe entregar a carta
dos antoninenses? Nesta noite quente de fevereiro, eles ficaram unidos e
conversando sobre os planos para o dia seguinte.
O escoteiro Lydio era mesmo decidido, não à toa deixou o legado do seu diário. Abraço!
ResponderExcluirEu não o conheci pessoalmente, mas deve ter sido uma figuraça mesmo
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