Enquanto os escoteiros antoninenses subiam a Serra dos Orgãos, em dezembro de 1941, soldados soviéticos se preparam para defender Moscou das tropas nazistas |
Depois de tomar café, e cansados pela noite mal dormida, os
rapazes seguiram firmes pela estreita trilha. Caminhavam com o uso de bastões,
com a mochila nas costas e muito medo de se perder. Lydio ia sempre rezando,
pedindo sucesso. Além do mato fechado, atravessaram muitas roças de mandioca
abandonadas.
Chegaram na casa do último morador da região, conhecido por Antônio
Órfão. Só mesmo um órfão para ficar morando aqui neste fim de mundo, devem ter
pensado os rapazes. O Seu Antônio, simpático, contou aos rapazes que eles já
estavam subindo pra Serra dos Órgãos.
Bem perto deles estava o Pico paraná, o maior pico da serra
e o mais alto pico da região sul. Hoje, a altura do pico paraná está calculada
em xxxm. Majestoso e enevoado, o grande paredão de granito era, na época, um
desafio para os escaladores de montanhas.
Sem ter pretensões de escaladores, os rapazes prosseguiam
subindo. A vegetação era cada vez pior: cheio de espinhos, bambus, pequenas
epífitas, capins. Tudo machucava, tudo picava. Até as plantas eram agressivas:
espinhos, urtiga e capim corta-rapaz. Lydio teve uma epifania: chegariam ao objetivo
custasse o que custasse. Não eram aquelas montanhas e aquele mato que os
deteriam. Pedras e mais pedras, fendas, paredões, nada os deteria. Cobras
venenosas, como jararacas, urutus, jararacuçus, bicoraias, verde, caninana, e
aranhas caranguejeiras, nada os deteria.
Só a água. Quando acabou a água dos cantis, os rapazes
começaram a se desesperar. Um deles gritou: “Ai, estou morrendo de sede!
Água, pelo amor de Deus!”. As gargantas secas se desesperavam sem água.
Chefe Beto teve uma ideia: cortar taquaras e beber a água
que tinha dentro do caniço. Quando cortaram um caniço, no entanto, de lá saltou
um marandová gigante! Ao ver o bicho cabeludo correndo desesperado pelo chão,
os rapazes sentiram tão abandonados quanto ele: como fazer para ter água?
Logo, descobriram no chão, debaixo das folhagens, algumas
pegadas de cavalo com água da chuva estagnada. Os rapazes saciaram a sede
usando algodão na boca para filtrar a água amarela e cheia de mosquitos
daquelas poças d’água.
Saciados, comera, alguns enlatados. Tinha até goiabada, não
podia estar tão ruim...o bornal de Lydio ia ficando mais leve...
Pouco mais adiante encontraram um caçador. Ele nos avisou
que havia uma vara de porcos do mato por ali. “ela tá ali, na barrocada.
Pode atacar e dar muitas dor de cabeça pra vosmisseis”. Os rapazes trataram de sair logo dali. Chefe
Beto seguia na frente. Milton ia atrás, tropeçando em todos os buracos, segundo
Lydio. Eles seguiam bem o caminha das patas da vara de porcos, e iam subindo a
serra. Ali havia muitas aves. Muito frequentemente ouviam o batido da araponga
ao longe. Subiram muito, até ficarem extenuados. Lydio conta que eles pareciam
perto do céu.
Estava já meio escuro, embora fosse ainda três e meia da
tarde. Foi quando um rapaz surgiu ali no meio da trilha. Ao saber para onde os
escoteiros iam, ele se propôs a guiá-los. O caminho era muito perigoso. Aqui e
ali, gigantescos paredões apontavam para cima e fendas profundas formavam
precipícios. Lydio conta que, em determinado momento tropeçou num buraco, e
ficou sem equilibro na beira de um precipício. Canário até gritou: Cuidado
Lydio!”. Mas, naquela situação, foi a mão firma do rapaz desconhecido que o segurou
e o pôs em equilíbrio na trilha.
Seguiram caminhando, até próximo do rio Capivari. Numa
encruzilhada, o rapaz desapareceu, embrenhando-se por um caminho. Lydio e os
demais rapazes não perceberam que ele tinha ido embora. Quem seria ele?
Um toque de mistério é sempre bem-vindo.
ResponderExcluirE naquelas trilhas da Serra...quem seria?
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