A bonita cidade de Capão Bonito em 1941, vista do alto |
(Estamos no mês de dezembro de 1941. Enquanto o mundo está em
Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de
Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão desde 16 de dezembro de 1941 numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro
para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 29 de dezembro de 1941, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca)
estão, depois de longa caminhada, chegando em Capão Bonito. O que vai acontecer?)
Lídio era o mais dorminhoco de todos. Sempre ia dormir cedo
e acordava tarde. Sempre que se atrasava, o paciente Milton tentava acorda-lo.
As vezes por bem, as vezes com alguns beliscões, Milton sempre punha Lídio em
pé.
Aquele dia tinham um objetivo mais fácil: Capão Bonito,
distante 35 Km de Guapiara. Agora o relevo havia mudado, e os morros pequenos e
íngremes do planalto de Apiaí foram ficando cada vez maiores e menos íngremes.
A caminhada estava ficando mais fácil, embora o calor fosse intenso.
Entretanto, houve um imprevisto: chefe Beto havia deixado
seu revólver com o Delegado para cuidar durante a noite. E tinha esquecido de
pegá-lo. Maçada! Sobrou para o subordinado: Lídio foi a contragosto de volta a
Guapiara para pegar a arma.
Com muita raiva, mas seguindo ordens superiores, Lídio se
pôs em marcha, de volta a Guapiara. No caminho, no entanto, a raiva foi se
abrandando e ele foi se distraindo com o que via. Por todo o caminho, via os
colonos se preparando para plantar, colocando os arados manuais puxados ora por
bois ora por burros para revolver a terra. Assim se sucediam plantações de
feijão milho e batata inglesa. Aqui e ali, algumas plantações de café.
No entanto, Lídio nos conta que a exploração mineral era
quem movia a economia da região, com 9 minas em funcionamento. Em seu diário
Lídio cita uma mina de ouro e outra de cobre em Apiaí, uma mina de ouro e outra
de prata em Gramadinho. Em Guapiara, uma de ferro e outra de cobre. E entre
Guapiara e Capão Bonito mais três: uma de “Carvão de ferro”, a mina da
Cobrazil, que produzia cobre e era a mais famosa de todas, e uma mina de
cálcio, que eles acabaram visitando.
Nesta mina, foram recebidos pelo engenheiro, que mostrou
para eles a mineração e o beneficiamento. Segundo nos conta Lídio, a mina
produzia “cal, carbonato de cálcio e sulfato de cálcio”. O engenheiro explicou
para eles o processo, os principais tipos de produtos. Lídio anotou tudo o que
pode em seu diário, e os rapazes seguiram na estrada.
Lá pelas 11 horas, quando estavam almoçando embaixo de uma
grande arvore, uma chuva os apanhou de surpresa: tentaram achar uma casa, mas
não acharam. Chefe Beto gritou: “Cada um por si e Deus por todos!”. Não tinha
para onde fugir, e cada um por si virou todos juntos. Acabaram estendendo a
lona por cima deles, e ficaram esperando a chuva passar. Quando virou chuvisco,
retornaram à estrada.
Chegaram a Capão Bonito na hora da ave maria, ou seja, as
seis da tarde. Os sinos da igreja matriz badalavam na praça rui Barbosa. Os
meninos, todos católicos, ficaram emocionados ao ouvirem o som do sino.
Contritos, oraram ali mesmo na praça da igreja pedindo saúde e coragem para que
pudessem prosseguir na viagem.
Um fiscal da prefeitura de Capão Bonito os aguardava: foram
todos conduzidos a uma pensão ali por perto. A pensão pertencia ao chefe
escoteiro local, o chefe Mimi, que os acolheu muito bem. Após um bom banho, os
rapazes jantaram ali mesmo na pensão de chefe Mimi. Depois, eles foram fazer
uma visita ao prefeito, o Dr. Francisco Neves. Este, segundo Lídio um homem
educado e cortês, que atendia a todos com simplicidade, ofereceu aos meninos um
modesto coquetel.
Os escoteiros contaram sua história e a história da sua
missão, sendo muito bem recebidos pelo prefeito e pelas pessoas presentes.
Todos ficaram admirados com a coragem dos meninos e sua disposição nesta
viagem.
Os meninos ainda foram aos telégrafos, mandar um telegrama para
Antonina, informando o pessoal sobre sua posição. Depois, foram ao teatro
municipal e ao clube literário de Capão Bonito, onde tiveram uma noite de
celebridade. Contaram muitas histórias, deram autógrafos aos rapazes e moças
ali presentes.
E, como ninguém é de ferro, foram numa brincadeira dançante que
lhes foi oferecida. Caíram na farra, tendo ido dormir já era quase uma hora da
manhã.
Nenhum comentário:
Postar um comentário