Bairro da Serraria, Capão Bonito (SP), 1940 |
(Estamos no mês de dezembro de 1941. Enquanto o mundo está em
Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de
Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão desde 16 de dezembro de 1941 numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro
para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 30 de dezembro de 1941, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) saíram de Capão Bonito, com destino a Itapetininga.)
No dia seguinte, os escoteiros aproveitaram as camas da
pensão do Chefe Mimi, na cidade de Capão Bonito, e dormiram um pouco mais. O
sol forte do caminho ia começando a produzir seus estragos. Os rapazes, como de
hábito, acordaram cedo. No entanto, tiveram que esperar pelo café, para ser
tomado com o chefe e sua família. Tomaram um bom café ao redor da mesa da
pensão. Mas todos estavam impacientes, a estrada os esperava. Lá pelas 9:30,
puseram-se novamente na estrada.
Neste mesmo dia, o jornal Correio Paulistano, grande jornal
da Capital, colocava numa pequena nota, dizendo que os escoteiros da “prospera
cidade paranaense [de Antonina]” haviam passado por Ribeira as 11 h do dia 23 (na
verdade, como vimos aqui, foi no dia 24). Apesar de pequenas, a nota dava a
entender que havia noticia da aventura e que esta estava sendo acompanhada pela
imprensa.
A partir de Capão Bonito, os rapazes entrariam numa região
bem mais plana que o planalto de Apiaí e as serras de Paranapiacaba. No plano,
também, havia vários caminhos a percorrer. O mais curto deles passava por
cidades pequenas, como São Miguel Arcanjo e Pilar do Sul. No entanto, avaliaram
que seria muito mais penoso, e com menos estrutura. Decidiram, portanto, seguir
a rota mais antiga e mais longa, mas que passava por centros maiores, como
Gramadinho, Itapetininga Sorocaba e São Roque.
O caminho foi bastante tranquilo. Apesar do sol forte, os
rapazes chegaram a Gramadinho, a próxima etapa da viagem, ainda no fim do dia.
Lá, acabaram por pedir pouso numa Delegacia de Polícia. Lídio não esqueceria
esta noite.
Atacado por uma forte dor de cabeça, Lídio pediu aos
companheiros um copo de agua para tomar uma aspirina. Milton e Manduca foram ao
poço que havia nos fundos da delegacia. Mas eles estavam demorando para trazer
o tal do copo de água. Lídio se impacientou. Mesmo com febre e dor de cabeça,
foi lá fora ver onde eles estavam. A situação que encontrou não era nada fácil.
Com os pés no chão frio e meio zonzo da febre, Lídio foi
encontrar os companheiros. No meio da noite, Milton e Manduca estavam tentando
passar por um arame farpado que dava acesso ao poço. O acesso se fazia por meio
de um caracol de arame farpado, que foi difícil de cruzar no meio da noite
escura.
Uma vez resolvido o acesso ao poço, os rapazes tiveram que
consertar a manivela do poço, que estava quebrada. Mas, apesar de todos os
perrengues, ainda viriam outros mais:
quando puxaram a água do poço viram que o balde estava furado. Nada de
água. A febre de Lídio continuava.
Um deles foi pegar uma marmita. Improvisada como balde,
jogaram a marmita e ela desceu e voltou lá de baixo, cheia água. Quando foram
ver, a água era meio salobra. Mas Lídio estava desesperado. A febre seguia e
ele estava desesperado para tomar a aspirina. Nessa hora, o rapaz não quis nem
saber. Pegou a marmita e tomou a aspirina na água ruim do poço da Delegacia.
Quando voltaram para o alojamento, ainda meio zonzo, os
rapazes foram dormir. Após um momento, a dor de cabeça de Lídio foi passando e,
com ela, veio o sono. Somente no dia seguinte foi que ele se lembrou de uma
linguiça salgada com farinha suruí, que havia comido na noite anterior.
E a marcha continua! Como andam esses rapazes!
ResponderExcluir