Vista aérea da Cidade de Ribeira, 1941 |
(Estamos no mês de dezembro de 1941. Enquanto o mundo está em
Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de
Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão desde 16 de dezembro de 1941 numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro
para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 25 de dezembro de 1941, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca), depois de passar o Natal em Capela da Ribeira, primeira cidade paulista do trajeto, estão tentando vencer os agrestes da Serra de Apiaí. Será que eles conseguirão passar?)
Depois da grande festa do Natal, os escoteiros acabaram por
acordar tarde. Iam acordando uns aos outros, sonolentos, ainda com um pouco de
ressaca da festa. Lídio conta que tomou café com maisena e uns doces que haviam
sobrado da ceia. Irrequieto, foi passear.
Na cidade, o jovem escoteiro ficou abismado com os buracos
de balas de fuzil e metralhadora ainda visíveis na pequena igreja matriz de
Capela da Ribeira. Ainda eram resquícios dos enfrentamentos durante a Revolução
constitucionalista de 1932, ainda presente nove anos depois. “Nem a casa de
Deus eles respeitaram”, anotou depois em seu diário.
Pouco depois, ele fez o caminho de volta e foi até o posto
fiscal de Paranaí, hoje conhecida como Adrianópolis. Lá, não encontrou os
fiscais com quem haviam feito camaradagem no dia anterior. E voltou à Capela da
Ribeira.
Naquele tempo as duas cidades eram pequenas, e o surto
industrial e mineiro estava ainda começando. Restritas pelo vale do rio Ribeira
e pelos morros íngremes formados por rochas muito antigas, as duas cidades eram
uma só. As casas eram construídas ao longo do único caminho possível. Somente
onde o rio havia deixado algum terreno plano é que as duas cidades se
espraiavam, ainda que pouco.
Lídio conta que os habitantes nunca haviam visto um
escoteiro. E ainda mais aqueles, de uniformes e seguindo rumo a uma importante
missão. Todos ficaram impressionados. As mocinhas, ainda mais.
Lídio nos conta de Iolanda, filha do padeiro, por quem teve
seus sentimentos e que, por fim, deixou saudades. Manduca então reclamou que
Lídio tinha “imã” para as mulheres. Lídio então brincou e disse que era porque
Manduca tinha cabelo feio. Milton, mais lacônico, acompanhava a conversa rindo
ora de um, ora de outro.
Durante a tarde, os rapazes não fizeram nada. Ou melhor,
fizeram. Foram para o rio tomar banho e amenizar o calor. Diversos outros
rapazes e moças da cidade (mais moças que rapazes, segundo anotou Lídio) também
ficaram lá com eles na pequena praia de rio. O tempo passou e eles nem
sentiram.
Os rapazes se despediram de Capela da Ribeira, onde tiveram
acolhimento tão bom, e seguiram viagem. Saíram as oito da noite para uma
caminhada noturna subindo a serra de Apiaí.
Todos eles haviam participado já de caminhadas nestas
condições. A Patrulha Touro dos escoteiros de Antonina havia participado de
diversas corridas do facho e subidas pela Serra da Graciosa. Pela sua
experiencia e resiliência é que foram os escolhidos para a missão.
Entretanto, a serra de Apiaí não era um desafio fácil.
Pedregosa, coma estrada precária, a progressão era lenta. Apesar de estar mais
fresco, a escuridão era total, e os meninos foram seguindo a trilha em fila
indiana, com o auxilio de lanternas. Depois de cerca de cinco horas de intensa
caminhada serra acima, encontraram um pequeno casebre abandonado na beira da
estrada.
Exaustos, decidiram passar ali a noite.
Acordaram as cinco da manhã. A claridade fazia ver as rochas
esparsas no alto da serra, assim como a floresta cerrada. Um espesso nevoeiro
cobra os vales. Os rapazes ouviram um barulho de água ali por perto. Era um
regato que cruzava a serra e fazia um barulho da água passando por entre as
pedras. No entanto, o acesso até ele era difícil, pois o regato corria alojado
numa ravina bastante funda, de acesso difícil.
No entanto, obstinados em tomar um café, os rapazes se
aventuraram a descer a barroca para pegar água e trazer lenha para a fogueira.
Todos, menos Milton. Ele fora poupado, pois a caminhada noturna havia produzido
uma enorme assadura em suas virilhas.
As sete da manhã, depois do café, os rapazes voltaram à
trilha. O sol alto ia castigando-os todos. Lidio conta que as pernas estavam
todas arranhadas pelo capim corta-rapaz, e o sol fazia os arranhões queimar e
coçar.
Somente lá pelas onze horas da manhã que eles finalmente
chegaram à vila de Apiai, novo trecho da jornada.
E a aventura dos bravos escoteiros pelas brenhas desse Brasil até hoje praticamente desconhecido tem continuidade. Rataplã,rataplã, rataplã!
ResponderExcluirolhai o sol, escoteiros vede a luz!!
Excluira espera dos demais relatos....com base no que vc está escrevendo essas história Jefferson?
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