quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 13: SUBINDO A SERRA DE APIAÍ


Vista aérea da Cidade de Ribeira, 1941
(Estamos no mês de dezembro de 1941. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão desde 16 de dezembro de 1941 numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 25 de dezembro de 1941, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca), depois de passar o Natal em Capela da Ribeira, primeira cidade paulista do trajeto, estão tentando vencer os agrestes da Serra de Apiaí. Será que eles conseguirão passar?)

Depois da grande festa do Natal, os escoteiros acabaram por acordar tarde. Iam acordando uns aos outros, sonolentos, ainda com um pouco de ressaca da festa. Lídio conta que tomou café com maisena e uns doces que haviam sobrado da ceia. Irrequieto, foi passear. 

Na cidade, o jovem escoteiro ficou abismado com os buracos de balas de fuzil e metralhadora ainda visíveis na pequena igreja matriz de Capela da Ribeira. Ainda eram resquícios dos enfrentamentos durante a Revolução constitucionalista de 1932, ainda presente nove anos depois. “Nem a casa de Deus eles respeitaram”, anotou depois em seu diário. 

Pouco depois, ele fez o caminho de volta e foi até o posto fiscal de Paranaí, hoje conhecida como Adrianópolis. Lá, não encontrou os fiscais com quem haviam feito camaradagem no dia anterior. E voltou à Capela da Ribeira. 

Naquele tempo as duas cidades eram pequenas, e o surto industrial e mineiro estava ainda começando. Restritas pelo vale do rio Ribeira e pelos morros íngremes formados por rochas muito antigas, as duas cidades eram uma só. As casas eram construídas ao longo do único caminho possível. Somente onde o rio havia deixado algum terreno plano é que as duas cidades se espraiavam, ainda que pouco. 

Lídio conta que os habitantes nunca haviam visto um escoteiro. E ainda mais aqueles, de uniformes e seguindo rumo a uma importante missão. Todos ficaram impressionados. As mocinhas, ainda mais. 

Lídio nos conta de Iolanda, filha do padeiro, por quem teve seus sentimentos e que, por fim, deixou saudades. Manduca então reclamou que Lídio tinha “imã” para as mulheres. Lídio então brincou e disse que era porque Manduca tinha cabelo feio. Milton, mais lacônico, acompanhava a conversa rindo ora de um, ora de outro. 

Durante a tarde, os rapazes não fizeram nada. Ou melhor, fizeram. Foram para o rio tomar banho e amenizar o calor. Diversos outros rapazes e moças da cidade (mais moças que rapazes, segundo anotou Lídio) também ficaram lá com eles na pequena praia de rio. O tempo passou e eles nem sentiram. 

Os rapazes se despediram de Capela da Ribeira, onde tiveram acolhimento tão bom, e seguiram viagem. Saíram as oito da noite para uma caminhada noturna subindo a serra de Apiaí. 

Todos eles haviam participado já de caminhadas nestas condições. A Patrulha Touro dos escoteiros de Antonina havia participado de diversas corridas do facho e subidas pela Serra da Graciosa. Pela sua experiencia e resiliência é que foram os escolhidos para a missão. 

Entretanto, a serra de Apiaí não era um desafio fácil. Pedregosa, coma estrada precária, a progressão era lenta. Apesar de estar mais fresco, a escuridão era total, e os meninos foram seguindo a trilha em fila indiana, com o auxilio de lanternas. Depois de cerca de cinco horas de intensa caminhada serra acima, encontraram um pequeno casebre abandonado na beira da estrada.
Exaustos, decidiram passar ali a noite. 

Acordaram as cinco da manhã. A claridade fazia ver as rochas esparsas no alto da serra, assim como a floresta cerrada. Um espesso nevoeiro cobra os vales. Os rapazes ouviram um barulho de água ali por perto. Era um regato que cruzava a serra e fazia um barulho da água passando por entre as pedras. No entanto, o acesso até ele era difícil, pois o regato corria alojado numa ravina bastante funda, de acesso difícil. 

No entanto, obstinados em tomar um café, os rapazes se aventuraram a descer a barroca para pegar água e trazer lenha para a fogueira. Todos, menos Milton. Ele fora poupado, pois a caminhada noturna havia produzido uma enorme assadura em suas virilhas. 

As sete da manhã, depois do café, os rapazes voltaram à trilha. O sol alto ia castigando-os todos. Lidio conta que as pernas estavam todas arranhadas pelo capim corta-rapaz, e o sol fazia os arranhões queimar e coçar. 

Somente lá pelas onze horas da manhã que eles finalmente chegaram à vila de Apiai, novo trecho da jornada.

3 comentários:

  1. E a aventura dos bravos escoteiros pelas brenhas desse Brasil até hoje praticamente desconhecido tem continuidade. Rataplã,rataplã, rataplã!

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  2. a espera dos demais relatos....com base no que vc está escrevendo essas história Jefferson?

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