sábado, 14 de dezembro de 2019

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 2 - PEGUEI UM ITA NO NORTE


O industrial Henrique Lage (1881-1941) e sua esposa Gabrielle Besanzoni (1888-1962). O drama pessoal do casal influenciou indiretamente a marcha dos escoteiros
(Estamos no mês de dezembro de 1941. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão desde 16 de dezembro de 1941 numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. Quais são as motivações da marcha dos escoteiros?)

Qual foi a motivação dos jovens escoteiros ao fazer esta tão grande e arriscada viagem?

O motivo era econômico, e tinha a ver com a sobrevivência do porto e da própria cidade. Na carta que estavam levando à Getúlio Vargas, os escoteiros pediam que fosse reaberto em Antonina o escritório da Companhia Costeira e do Loide Brasileiro, que haviam sido fechadas poucos meses antes. Estas eram importantes companhias de navegação que haviam pertencido ao industrial Henrique Lage (1881 – 1941). 

Filho de um importante industrial do ramo de carvão e dono de estaleiros, Henrique Lage estudou engenharia Naval nos Estados Unidos. Era um empresário extremamente dinâmico, e chegou a construir um verdadeiro império, envolvendo siderúrgicas, estaleiros e Companhias de navegação. Espreitando a oportunidade, Henrique Lage aproveitou-se da onda de substituição de importações no Brasil depois da 1ª Guerra mundial e fez fortuna vendendo navios em seu estaleiro na ilha do Vianna, em Niterói. 

Henrique Lage foi um capitão de indústria nacionalista e preocupado com o desenvolvimento nacional. Orgulhava-se de fabricar navios e mesmo aviões aqui mesmo no Brasil. Segundo se dizia, com um mínimo de peças importadas. Também foi o criador da primeira refinaria de sal brasileira, que fabricava a marca de Sal Ita, que existe até hoje.

Henrique Lage herdou do pai a companhia Costeira de Navegação. Era um resquício da antiga companhia Norton & Megaw, que fora nacionalizada nos primeiros tempos da República. Com o passar o tempo, a Costeira, junto com a companhia Loide brasileiro, foram as principais companhias de navegação do país. A Costeira tinha como características os navios que iniciavam seu nome com Ita, como Itagiba, Itaquera e Itassuci. Tamanha era a popularidade da Costeira, que Ita passou a significar para a população o mesmo que navio. Não por acaso, um dos grandes sucessos do início de carreira de Dorival Caymmi foi “peguei um Ita no Norte”

No entanto, depois de muito sucesso nos anos 20, nos anos 30 o império Henrique Lage começou a passar por dificuldades. A navegação de cabotagem passava por serias dificuldades, sentindo a competição do trem e do automóvel. Dependente de subsídios governamentais, as duas companhias estavam com sérios problemas financeiros. Em 1941, a comissão da marinha mercante aperta o cerco e suspende as subvenções pagas às companhias de navegação. 

Henrique Lage morre em junho de 1941. O governo Vargas começa a estender seus tentáculos para a companha, que é reestruturada. A viúva de Henrique Lage, a cantora lírica Italiana Gabriella Besanzoni, seria destituída logo a seguir. Para afastá-la da direção, o governo alega que a empresa só poderia ser dirigida por brasileiros. No ano seguinte, com a declaração de guerra as potencias do Eixo, as empresas seriam nacionalizadas. 

A Cidade de Antonina era muito dependente da navegação costeira, ou seja, da navegação de cabotagem. Com a reestruturação da companhia, os navios do Loide e da Costeira não chegariam mais na cidade, interrompendo os fluxos de comercio que a cidade mantinha. Alguma resposta tinha que vir. A resposta veio da Associação Comercial? Da Prefeitura? 

A solução, ainda que desesperada, veio do grupo de escoteiros.

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