O industrial Henrique Lage (1881-1941) e sua esposa Gabrielle Besanzoni (1888-1962). O drama pessoal do casal influenciou indiretamente a marcha dos escoteiros |
(Estamos no mês de dezembro de 1941. Enquanto o mundo está em
Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de
Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão desde 16 de dezembro de 1941 numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro
para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. Quais são as motivações da marcha dos escoteiros?)
Qual foi a motivação dos jovens escoteiros ao fazer esta tão
grande e arriscada viagem?
O motivo era econômico, e tinha a ver com a sobrevivência do
porto e da própria cidade. Na carta que estavam levando à Getúlio Vargas, os
escoteiros pediam que fosse reaberto em Antonina o escritório da Companhia
Costeira e do Loide Brasileiro, que haviam sido fechadas poucos meses antes.
Estas eram importantes companhias de navegação que haviam pertencido ao
industrial Henrique Lage (1881 – 1941).
Filho de um importante industrial do ramo de carvão e dono
de estaleiros, Henrique Lage estudou engenharia Naval nos Estados Unidos. Era
um empresário extremamente dinâmico, e chegou a construir um verdadeiro império,
envolvendo siderúrgicas, estaleiros e Companhias de navegação. Espreitando a
oportunidade, Henrique Lage aproveitou-se da onda de substituição de
importações no Brasil depois da 1ª Guerra mundial e fez fortuna vendendo navios
em seu estaleiro na ilha do Vianna, em Niterói.
Henrique Lage foi um capitão de indústria nacionalista e
preocupado com o desenvolvimento nacional. Orgulhava-se de fabricar navios e
mesmo aviões aqui mesmo no Brasil. Segundo se dizia, com um mínimo de peças
importadas. Também foi o criador da primeira refinaria de sal brasileira, que
fabricava a marca de Sal Ita, que existe até hoje.
Henrique Lage herdou do pai a companhia Costeira de Navegação.
Era um resquício da antiga companhia Norton & Megaw, que fora nacionalizada
nos primeiros tempos da República. Com o passar o tempo, a Costeira, junto com
a companhia Loide brasileiro, foram as principais companhias de navegação do
país. A Costeira tinha como características os navios que iniciavam seu nome
com Ita, como Itagiba, Itaquera e Itassuci. Tamanha era a popularidade da
Costeira, que Ita passou a significar para a população o mesmo que navio. Não
por acaso, um dos grandes sucessos do início de carreira de Dorival Caymmi foi “peguei
um Ita no Norte”.
No entanto, depois de muito sucesso nos anos 20, nos anos 30
o império Henrique Lage começou a passar por dificuldades. A navegação de
cabotagem passava por serias dificuldades, sentindo a competição do trem e do
automóvel. Dependente de subsídios governamentais, as duas companhias estavam
com sérios problemas financeiros. Em 1941, a comissão da marinha mercante
aperta o cerco e suspende as subvenções pagas às companhias de navegação.
Henrique Lage morre em junho de 1941. O governo Vargas
começa a estender seus tentáculos para a companha, que é reestruturada. A viúva
de Henrique Lage, a cantora lírica Italiana Gabriella Besanzoni, seria
destituída logo a seguir. Para afastá-la da direção, o governo alega que a
empresa só poderia ser dirigida por brasileiros. No ano seguinte, com a
declaração de guerra as potencias do Eixo, as empresas seriam nacionalizadas.
A Cidade de Antonina era muito dependente da navegação
costeira, ou seja, da navegação de cabotagem. Com a reestruturação da
companhia, os navios do Loide e da Costeira não chegariam mais na cidade,
interrompendo os fluxos de comercio que a cidade mantinha. Alguma resposta
tinha que vir. A resposta veio da Associação Comercial? Da Prefeitura?
A solução, ainda que desesperada, veio do grupo de
escoteiros.
Essa contextualização histórica é imprescindível para a compreensão dos acontecimentos. Abraço!
ResponderExcluirAbraços meu querido!
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