quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 6: "É A ONÇA!"

A Serra dos Orgãos, que foi atravessada pelos escoteiros em 1941, vista do bairoo do Batel
(Estamos no mês de dezembro de 1941. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão desde 16 de dezembro de 1941 numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 18 de dezembro de 1941, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) estão ainda no município de Antonina, no sopé da Serra dos Órgãos. Como eles vão cruzar estas serranias cheias de mato e animais peçonhentos?)


Quando, na manhã seguinte, os rapazes acordaram na Fazenda Olímpia, fizeram muitas massagens para aliviar os membros doloridos. A aventura estava só começando...

Chefe Beto conversou com o encarregado da fazenda na hora do café. Queria saber qual o melhor caminho tomar. Eles tinham a ideia de que era mais vantagem ir pelo caminho do telégrafo até São Paulo. O caminho ia por Iguape, passando a Serra Negra no Paraná. “Não vão, porque é perigoso”, disse, taxativo, o encarregado. Segundo ele, o caminho do telegrafo é marcado por pântanos perigosos e rios traiçoeiros. Sugeriu o caminho por Capela da Ribeira, mais tranquilo. 

Entre aliviados e assustados, os rapazes concordaram com o encarregado, e se prepararam para subir a Serra dops Orgãos, em direção à Capela da Ribeira. Após o café, despediram-se do senhor Ymaguti. No novo caminho, cruzaram novamente o rio Cachoeira, em direção a vila de Cachoeira de Cima. 

Chegaram em Cachoeira de Cima as 10:30, onde pararam para tomar água e pedir informações. Atravessaram novamente o rio Cachoeira, mais acima, rumo à Fazenda Esperança, do turco Said. Lá, segundo Lydio, eles foram recebidos fidalgamente. O turco lhes ofereceu galinha assada, arroz e farofa. De sobremesa, garapa. 

Da fazenda Esperança, os rapazes começaram a trilhar pela velha estrada para São Paulo. Segundo Lydio, era estrada lá dos mil e oitocentos...Na verdade era uma trilha, que depois quase desaparecia na mata. Depois de muito caminhar, chegaram ao pequeno povoado de Cotia, ao pé da Serra dos órgãos. O povoado estava abandonado. 

Os rapazes se acomodaram numa pequena fabriqueta de farinha. Era uma tapera, e parecia estar abandonada há meses. Para maior segurança, reforçaram as paredes com uma corda, com medo que a tapera pudesse desabar em cima deles. 

Milton e Manduca acharam, próximo da tapera, como era de se esperar, uma pequena roça de mandioca.  Lá, se abasteceram do quanto puderam. Na tapera, os rapazes começaram o fogo num fogão rústico feito de pedras. 

Ali era um local muito ermo e distante. Como estivessem no sopé da Serra dos órgãos, a noite caía muito rapidamente. As 18 horas, a escuridão já era total. E isto em pleno mês de dezembro! 

Com medo das onças, os rapazes resolveram fazer uma fogueira, com turnos de guarda de 2 horas. No turno de guarda de Canário, ele acordou todos aos berros: “Ei, negada, acordem rápido! é a onça! é a onça!”. Canário tremia e apontava o farolete para uma moita. “Atire, Chefe Beto, atire!”.

Não se soube se era ou não era onça. mas, depois disso, quem dormia? O sono acabou de vez. Os rapazes foram tentando dormir. Ao longe, chegaram a ouvir os turros de algum animal bem longe, na Serra. Seria ela?

No turno de guarda de Lydio, alta madrugada, todos já tinham voltado a dormir. Na escuridão quase total, ele pensou em ter ouvido um choro de bebê. Apavorado, Lydio tremia e se arrepiava, quando percebeu uma grande coruja pousada perto dele. o pio dela parecia um grito de criança, e Lydio gelou até a espinha. A coruja olhava pra ele com seus grandes olhos bem abertos. Mas era só uma coruja. Com muito custo, Lydio a espantou para longe. Que noite dos infernos!

No meio de tanto susto, foi com alívio que ele percebeu os primeiros raios do dia. 

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