sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 22: DORMINDO NA DELEGACIA


Primeira Pagina do Correio Paulistano de 3 de janeiro de 1942

(Estamos no mês de janeiro de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão desde 16 de dezembro de 1941 numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 3 de janeiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) estão no rumo de de São Paulo. No final do dia eles chegam em Araçoiaba. o que o destino vai aprontar?)

Na manhã seguinte, um sábado, 3 de janeiro de 1942, os escoteiros foram acordados pelo barulho que os caminhões e automóveis faziam ao passar pela casa abandonada onde estavam alojados. 

Nesse dia, não havia nada o que comer. A solução foi caminharem em jejum até o próximo lugar que estivesse aberto. Com fome, as reclamações apareceram mais nítidas. Os meninos reclamaram muito com o chefe Beto, a quem acusavam de negligência. Como ele não havia previsto aquela parada abrupta no meio do nada, sem se prevenir e comparar comida? 

Enquanto caminhavam rápidos em busca do que comer, os rapazes rapidamente deixaram pra trás o andarilho que lhes fizera companhia na noite anterior. O pobre homem, que também ia pra são Paulo, não conseguiu acompanhar o ritmo mais rápido dos escoteiros, embora estes carregassem em geral bastante peso. 

Eram quase dez horas da manhã quando chegaram em Capela do Alto, uma pequena localidade a beira da pista. Lá, encontraram algo para comer. Depois de saciados, tudo pareceu mais fácil. Agora a caminhada se fazia por colinas suaves, que cortavam diversas plantações de abacaxis e ananases. Neste passo, as 17 horas chegaram na cidade de Campo Largo de Sorocaba, hoje Araçoiaba da Serra. 

Ali, não havia hotéis ou pensões. O jeito foi pedir alojamento na delegacia de polícia. A delegacia de polícia de Araçoiaba era muito limpinha, segundo Lídio.  Uma família amiga (seriam conhecidos de Antonina?) providenciou uma farta janta para os rapazes. 

Novamente descansados e de estômago cheio, os bravos rapazes saíram pela cidade no sábado à noite, em missão de reconhecimento. Entraram num bar, onde uma radiola estava tocando músicas animadas. Ali se informaram um pouco mais sobre a cidade.

Araçoiaba possuía nesta época 2 mil habitantes, e tinha uma praça muita bonita e iluminada, em frente à matriz. Ao lado da igreja estava o cinema, um grupo escolar e um clube social. 

Ao voltar à delegacia, encontraram o Chefe Beto conversando animadamente com o delegado. O delegado, chamado por todos de Gaúcho, era um 2º tenente da força pública estadual. Já um tanto idoso, segundo o parecer de Lídio, era também muito atencioso e conversador.  

Lídio ficou curioso, entretanto, com os cartazes de procurados pregados nas paredes da delegacia. Nunca havia visto esse tipo de cartaz, a não ser nos filmes. 

O que mais o espantou foram os nomes dos crimes atribuídos a cada um. Anotou: excruncho, punguista, escroque, rufião, estuprador. A maioria, entretanto, eram os assassinos. 

Para alívio de Lídio e dos demais rapazes, a delegacia neste dia estava vazia.

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