quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

A MARCHA DOS ESCOTEIROS 35: O BANQUETE DE COMEMORAÇÃO



Vista áerea da cidade de Jacareí em 1940, quando os escoteiros passaram por aqui. 
(Estamos no mês de janeiro de 1942. Enquanto o mundo está em Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 16 de janeiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) estão entrando no Vale do Paraíba e chegando a Jacareí.)

As sete horas da manhã, os cinco escoteiros de Antonina acordaram com os apitos da Maria Fumaça. Aquele dia, eles dormiram na cadeia de Jacareí, hospedados pelo delegado Clodoaldo de Abreu. Clodoaldo, que era irmão do comerciante antoninense Leopoldino de Abreu, havia recebido os meninos com a cordialidade de conterrâneos que se encontram no estrangeiro. Oferecera-lhes um rancho reforçado e deixara que estendessem as roupas molhadas no varal da cadeia. Não devia estar muito cheia a cadeia de Jacareí nesta quente sexta feira de janeiro de 1942. 

Neste mesmo dia, os jornais do Rio de Janeiro noticiavam o início de uma ampla ofensiva Soviética na Ucrânia. Os japoneses ameaçavam Singapura, na Ásia. Mas a maior notícia da guerra, no entanto, era ali mesmo no Rio de Janeiro. Chanceleres de praticamente todos os países americanos estavam reunidos na capital federal, para discutir solidariedade internacional e repudio ao ataque japonês recém sofrido pelos Estados Unidos na base naval de Pearl Harbour, no Havaí.  

A IIIª Conferência de Chanceleres dos países americanos no Rio de janeiro em janeiro de 1942 significou um alinhamento da maior parte dos países à causa aliada. A partir daí a beligerância iria aumentar, bem com o ataque de submarinos alemães a navios brasileiros, forçando Getúlio Vargas a declarar guerra aos países do Eixo em agosto de 1942. Mas isso é História. 

Enquanto isso, ali na delegacia de Jacareí, Chefe Beto, Milton, Lydio, Manduca e Canário tomaram rapidamente o seu café. Logo, se puseram na estrada. Ao meio dia, pararam na localidade de Rio Comprido, próximo a São José dos Campos, onde lancharam café com leite, pão e ovos fritos. Lydio anotou em seu diário que essas despesas foram da ordem de 7.500 réis. 

Logo depois, morrendo de calor, atravessaram um pequeno córrego e passaram por um pequeno aglomerado de casas chamado Vila Ema, onde ganharam alguns abacaxis, prontamente devorados. Continuaram subindo o morro até São José dos Campos.  Atravessarem rapidamente a cidadezinha e acamparam a uns 4 km adiante, num pequeno campinho. 

Fazia trinta dias que os bravos escoteiros haviam saído de Antonina, em sua marcha rumo ao Rio de Janeiro. Era um momento de celebração no meio da viagem. A barraca foi armada e a fogueira acesa. 

O “banquete de comemoração” constou de peixe seco, farinha de milho, arroz e café com leite, acompanhado de pães quentes. Essa estranha mistura foi acompanhada de uma intensa discussão sobre os planos vindouros e para apagar os desentendimentos do passado recente. 

Havia poucos dias, na altura de Guararema, o desentendimento entre os quatro meninos e o chefe Beto havia posto a missão em risco. Houve um estranhamento, eles se separaram, mas depois voltaram a se encontrar. Havia magoas a serem postas de lado. E, conta Lydio, foi o que fizeram. dali a pouco estavam contando piadas e rindo, despreocupados. 

Aquele era um momento difícil na história da humanidade. Ao longe, milhões morriam nos campos de combate e nas cidades conflagradas. O Brasil vivia um momento de preocupação, em saber para qual lado o governo do Ditador Getúlio Vargas penderia nesta guerra. Lá longe, na pequena Antonina, suas famílias estavam apreensivas com o que estava acontecendo com os cinco rapazes. 

Afastado o desentendimento, eles estavam bem. Lydio conta em seu diário que tirou sua gaita de boca do bolso e todos começaram a cantar as marchinhas do carnaval daquele ano. Quase todos sabiam de cor todas as letras, pois eles as ouviam com frequência no rádio. Um pouco mais longe, sentado num toco de madeira, chefe Beto cachimbava. 

Ao anoitecer, cada um procurou se aconchegar num canto da barraca e dormiram o sono dos cansados.

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