A velha Maria-Fumaça na Estação Passa Tres (RJ), dez anos antes da passagem dos escoteiros por aqui |
(Estamos no mês de janeiro de 1942. Enquanto o mundo está em
Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de
Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, estão numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro
para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 26 de
janeiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca)
estão passando por Getulândia em direção à Serra das Araras.)
Naquela segunda feira, 26 de janeiro, cinco escoteiros antoninenses amanheceram
animados. Aquela era a última semana da marcha, se tudo desse certo.
Aproveitando as primeiras horas da madrugada, onde o ar era mais fresco, eles
iniciaram a jornada pelas estradas fluminenses.
O ritmo da marcha foi lentamente aumentando, e o calor do
sol que ia se erguendo não abatia o moral dos meninos. Manduca, Canário, Lydio, Milton e Chefe Beto estavam muito perto
do destino. Caminhavam em silencio, para não gastar energia.
Claro que de vez em quando, alguém reclamava por pisar num pedregulho,
que tanto doía a sola dos pés já tão machucados. A areia quente fazia das suas,
deixando a sola dos pés em situação lamentável.
As 10 horas, neste passo, eles atravessaram a vila de Getulândia,
e seguiram mais adiante. Cerca de uma hora depois pararam num portão de fazenda
para uma refeição bem rápida.
O portão da fazenda, segundo o relato, era “monumental”.
Essa foi a palavra empregada por Lydio. Aliás, observando ao longe o Solar de
uma fazenda, a cerca de 500 metros dali Lydio resolveu ir lá pedir água.
Do portão, eles viam um empregado e um homem comprido e
esquálido, esparramado numa cadeira postada embaixo de uma janela. Ao se aproximar,
Lydio sentiu certo ar de desconfiança do empregado, que o fitava com uma cara
feroz. O senhor comprido levantou-se da cadeira, bocejou e olhou Lydio com cara
de poucos amigos. Tamanho era o ar de brutalidade e autoridade, que Lydio se
referiu a ele como Coronel.
O senhor perguntou: “Que seja, menino?”. “Preciso
saber onde encontro água para fazer o nosso café”, respondeu Lydio. O homem fez
um quase sorriso e apontou para um poço ali perto. E perguntou novamente: “De
que lugar você procedem?”.” Antonina, Paraná”, respondeu Lydio.
Devia ser a milésima vez que dava aquela resposta durante a viagem. “Somos
escoteiros e estamos fazendo um raid a pé até a Capital Federal”,
acrescentou.
Lydio pegou a água e resolveu sair dali o mais rápido
possível. No portal da fazenda, Milton estava com o fogo pronto, e a água não
demorou ferver. Tomaram café com biscoitos de maisena.
A seguir, reiniciaram a marcha. Atravessaram a vila de Passa
Três as quatro da tarde. Aqui, pararam num bar e compraram mantimentos para a
refeição da noite. As cinco, pararam na vila de Sobradinho, onde prepararam a
janta. Enquanto Manduca e Canário faziam a boia, Lydio descansou deitado na
grama macia do local.
As 19 horas iniciaram mais uma caminhada noturna. Desta vez
deram um bom estirão e chegaram até a serra das Araras. Estavam muito cansados
ao chegarem no vilarejo de são Joaquim. Extenuados, eles se sentaram numa
calçada perto de um posto de gasolina, onde estenderam a lona da barraca e cada
um encostou a cabeça na própria mochila para descansar.
Era já uma hora da madrugada. Neste dia, haviam caminhado
cerca de 46 quilômetros.
Nossa, quase 50 quilômetros em um dia é mesmo uma boa caminhada!
ResponderExcluirE naquele solzinho...
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