Os famosos bondes de Santos, nos quais os escoteiros passearam em 3 de março de 1942 |
(Estamos no mês de março de 1942. Enquanto o mundo está em
Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de
Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, percorreram 1250 quilômetros numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro
para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 3 de março de 1942, Beto, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca), Milton e Lydio, estão voltando pra casa. Quando o navio atraca em Santos, eles descem para conhecer a cidade. O que será que vão encontrar? )
Estava já escuro, mas mal o Vapor
atracou nas docas do porto de Santos Lydio saltou para terra. Queria conhecer a
cidade. Ficou muito impressionado com o movimento comercial do centro, mesmo
àquela hora da noite. Visitou as praças Rui Barbosa e José Bonifácio, que
gostou muito. Mas ficou mesmo impressionado com os bondes da cidade.
Os bondes tinham motorneiros
vestidos em impecáveis ternos brancos, e usavam luvas. Chamou atenção os vastos
bigodes que quase todos eles apresentavam. Só depois, mais tarde, se deu conta
que eram quase todos portugueses. Deixando para trás os bondes, e andando um
pouco mais, Lydio viu um circo.
Era o circo Piolom. Com sua tenda
armada num terreno baldio das proximidades, estava bem na hora de mais um
grande espetáculo. Provavelmente, o maior espetáculo da Terra. A vontade que
Lydio sentiu de assistir ao espetáculo daquela noite só não foi maior do que o
medo de perder o navio.
Ele deixou pra tras as alegrias do circo e se pÔs a andar pela cidade, de volta ao cais. Com o coração apertado de medo de parder o navio ele entrou de volta pelo armazém 12. Mais calmo, sabendo agora que tinha ainda muito tempo, ele andou pelo cais
apreciando os navios ali ancorados.
Estavam ali ancorados diversos
navios americanos e ingleses, os quais mostravam, na proa e na popa, canhões e
metralhadoras antiaéreas. O tempo de guerra e o encontro com submarinos e
belonaves alemãs não era uma ameaça distante, como já vimos.
Os navios
brasileiros que Lydio encontrou ali atracados também estavam armados. Mais do
que os navios de guerra, entretanto, os cassinos flutuantes que também estavam
ancorados ali também chamaram a sua atenção.
Havia muita gente e muita luz. De
lá de dentro, muita música também ressoava. No interior do navio-cassino,
imagina, Lydio, jogava-se e dançava-se freneticamente. A maioria dos
frequentadores, segundo nota, eram estrangeiros.
No próprio vapor em que viera,
o carteado também corria solto no convés. O clima de festa dos navios ressoou
intenso. No entanto, tinha que voltar ao seu navio. De volta, correu ao seu
camarote e dormiu sob o embalo das ondas.
Pela manhã, ao acordar, os
rapazes viram o movimento intenso do porto, com seus guindastes trabalhando
freneticamente tirando e colocando cargas destinadas a todos os lugares do
brasil e do mundo. Após o café, saíram para conhecer a cidade, agora de dia.
Após visitarem um conhecido de
Antonina que estava morando em Santos, os rapazes andaram pelo centro e
passearam pelas praias de Gonzaga e José Menino.
Passaram de bonde pelo estádio
de Vila Belmiro onde, mal sabiam eles, surgiria, dezesseis anos depois, a maior
lenda do futebol mundial e um dos maiores times de futebol já vistos. Mas isto
é outra história. Na cidade, mais do que o futebol, o que mais chamou a atenção
dos rapazes foram os canais.
Iniciados em 1907 pelo engenheiro
Saturnino de Brito, os canais eram uma grande inovação higienista e
urbanística, drenando os terrenos alagadiços da Ilha e controlando as águas
pluviais. Contribuíram para o controle de doenças e induziram a ocupação urbana
da cidade durante o século XX. O mais novo dos canais só seria terminado em
1968.
Em 1942, os canais de Santos já eram uma obra de chamar a atenção dos
jovens escoteiros. Lydio também notou os morros de Santos, observando lá em
cima, no morro, a mancha branca da igreja de N.S. de Montserrat.
Alguns anos antes, em 1928, um grande desmoronamento de terra nas encostas do morro de Montserrat havia custado a vida de centenas de pessoas. pelos proximos trinta anos, estes foi um grande problema para a cidade de Santos.
A ocupação dos moros estava sendo feita com um preço em vidas humanas. Só em fins dos anos 90, com a implantação de sistemas integrados de Gestão é que as mortes dimiuiram, e fizeram da Defesa Civil de Santos modelo em todo o Brasil.
Entretanto, estamos em março de 1942. os rapazes, depois de meses longe de casa, estavam esperando pra voltar. Era hora de voltar ao
navio. E assim o fizeram.
Os rapazes ficaram no salão do
navio, ouvindo as músicas tocadas ao piano pela jovem Doralice, gaúcha de Porto
Alegre. De namorico com Milton Horibe, a gauchinha ficou por lá conversando
alegremente com os rapazes, até que chegou a hora de se recolherem.
Durante a
madrugada, Lydio saiu ao convés para ver a tempestade que já citamos, a qual
quase lhe custou a vida. Logo depois, o escoteiro voltou ao camarote e dormiu
pesadamente. Quando acordou, havia perdido o café da manhã. No entanto, ao
conversar no convés com um marujo, descobriu que estariam chegando em casa no
começo daquela mesma noite.
Enfim, de volta pra casa!
O Lydio não perdia mesmo tempo, queria conhecer tudo ao redor.
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