Batuque na cozinha, sinhá não qué! |
Em 15 de janeiro de 1859, o
suplente de delegado Joaquim Leite Mendes estava desesperado com as notícias
que estava recebendo. Com o olhar preocupado, tirou o chapéu e deu uma olhada
pela janela. Lá fora, um semelhante dum calor, ele via os urubus pousados no
telhado de asas abertas, depois da chuva que recém caíra e esperando a chuva que ia cair mais tarde. O morro do Feiticeiro
estava semi-encoberto por uma nuvem fina. O ar estava abafado, mormacento.
Leite Mendes preocupava-se, pois o delegado Alves d’Araújo
estava em viagem para a Vila do Príncipe [hoje Castro]. Que fazer? Depois de
raciocinar olhando os telhados pela janela, tomou sua decisão. Pegou uma folha
de papel, a pena e a tinta, sentou-se à mesa e, com sua fina caligrafia, começou
a redigir um ofício endereçado ao governador da província, Francisco Liberato
de Matos: “ontem estava este Município de
Antonina exposto a uma próxima
sublevação de escravos sob protesto de sua liberdade geral que lhes foi
conferida mas que foi negada por pessoa suspeita da cidade”.
Sim, a cidade de Antonina estava na iminência de uma
sublevação de escravos! Como se daria isso? Leite Mendes tomou da pena e voltou
a escrever: “servindo-se eles de dois
grandes bailes denominados congadas que há muito tempo fazem todas as noites
nesta cidade a pretexto de ensaio para sua festa de São Benedito”, explicou
ele ao governador em sua caligrafia redonda. O tal do levante “terá lugar segundo consta no dia 20 deste
mês, para por esse meio de reunião transmitiram essa notícia a escravatura dos
sítios e consequentemente preparavam-se para o fim do sinistro plano”, explicou
Leite Mendes.
Era o meio da tarde. Mas que fazer? A carta tinha que ir á Curitiba
ainda aquele dia. Leite Mendes procurou um dos tropeiros de sua confiança, que
estava com os cavalos amarrados ali no campo, perto da matriz. Sim, o tropeiro
garantiu, um deles iria a Curitiba dentro de pouco tempo. Ia dormir em algum
lugar da serra, mas antes do meio dia estaria chegando a Curitiba. Leite Mendes
entregou-lhe a carta endereçada ao Governador e voltou pra casa, mais aliviado.
Tinha cumprido sua missão.
Durante os dias que se seguiram, Curitiba e o litoral viveram momentos
de angustia. As autoridades estavam simplesmente apavoradas com a possibilidade
de um levante escravo em Antonina. Cartas foram endereçadas para Morretes e Paranaguá,
prevenindo os senhores de escravos antes que a fagulha da revolta se espalhasse. O medo tomou conta das
casas, e nem as tempestades de verão no final do dia davam algum alento aos patrões.
O governador mandou reforço policial para Antonina, enviando
o Capitão Manoel Eufrásio de Assumpção e mais quatro soldados. Estes deveriam
arregimentar os soldados disponíveis em Porto de Cima e Morretes. Assim reforçados, a brava tropa policial entraria em poucos dias numa Antonina em polvorosa, assustada com a possibilidade de um
levante de escravos.
O próprio delegado Alves d´Araújo, no dia 19 de janeiro, quando
retornou de sua viagem foi, ele mesmo, interpelado por alguns pretos mais
desaforados. Estes exigiam que ele lhes desse a liberdade a que eles, os
pretos, já tinham direito. Alves d´Araújo, é claro, não sabia de nenhuma alforria.
“Mas tem sim”, disseram-lhe os
pretos. Segundo os escravos, havia uma ordem de libertação geral direta da Coroa,
e ele, Alves d`Araújo, estava, por interesses escusos e perversos, negando a
eles conhecer a verdade. Havia, inclusive, um navio inglês chegando ao porto para
protegê-los e fazer os senhores aplicar a lei.
Como diríamos hoje: que surrealista! Como diriam os antigos,
que maçada!! Haverá então uma revolta escrava em Antonina? O que acontecerá?
(segue)
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