domingo, 10 de junho de 2012

JANTAR PARA VINTE



(Thomas Bigg-Wither (1845-1890) era um engenheiro inglês; Seu relato parcialmente publicado aqui descreve sua estadia  em Antonina em 1872, como parte de um grupo que estava estudando o trajeto de uma grande ferrovia entre o Mato Grosso e o Paraná, então recém emancipado de São Paulo; trata-se de uma das mais completas e bem-humoradas descrições da Deitada-a-beira-do-mar no seculo XIX; nesta segunda parte Bigg-whiter nos conta do que ocorreu desde o desembarque até o jantar feito num hotel "improvisado" na Deitada-a-beira-do-mar.)

PARTE 2

Entre a multidão [no cais] estava e Sr. Hargreaves, que se nos apresentou falando um perfeito inglês, e ofereceu seus serviços para, sem demora, obter acomodações para todos. Ele falava inglês e português com igual fluência, conhecendo bem o Brasil em geral e Antonina em particular; sua assistência nos foi preciosa durante nossa curta estadia na cidade. Em menos de uma hora, depois de nossa chegada, por meio de sua generosa ajuda, fomos bem instalados, com malas e bagagem, no único hotel do lugar, cujo hotel, segundo minha firme opinião, foi posto temporariamente enquanto lá estivemos, para nos agradar, mas tirado logo depois que deixamos a cidade. O proprietário, Sr. Pascoal, nos recebeu com entusiasmo, declarando que nos podia acomodar a todos com facilidade, o que eu via mais como um problema matemático que pedisse demonstração do que coisa positivamente certa, pois, numa inspeção pelo hotel, vi que este possuía quatro quartos, com seis camas ao todo e nós éramos dezessete!
O nosso primeiro pedido foi “jantar”, ou melhor, ‘ceia para vinte”, e o mais depressa possível, pois estávamos esfaimados.
O hoteleiro recebeu o pedido com inimitável segurança e sangue-frio, como se estivesse acostumado a receber tais pedidos todos os dias nos últimos vinte anos, embora parecesse  ter ele  mandado pedir emprestado panelas, pratos, travessas e tudo o mais que fosse necessário para um grande jantar. Ele se portou sabiamente, evitando perturbar a nossa paz de espirito com as deficiências da casa, mas, ao contrario, se esforçava para nos agradar, atendendo aos nossos desejos. Éramos tratados de modo distinto, isto é, como hospedes que mereciam ser bem tratados e não como estranhos para serem roubados. Merece respeito o homem que pode assim superar o dia a dia para passar a algo superior, quando a ocasião exige.
Quase duas horas depois de dado o pedido, posta uma longa mesa para vinte pessoas, que rangia sob o peso dos pratos de carne cozida, frango e arroz e feijão preto, enquanto um fila de garrafas, algumas com o conhecido rotulo Bass and Co., enfeitava o centro em cuja cabeceira o Sr. Pascoal fazia as honras da casa, dentro da boa moda antiga.
Sentamo-nos todos e cada qual se servia, a si mesmo ou ao seu vizinho, dos pratos que estavam perto, sem considerar o conteúdo. A julgar pelo burburinho da conversação animada e continuada em todos os lados – as anedotas ruidosas, as risadas e o rápido desaparecimento das carnes e dos licores – dificilmente haveria reunião mais jovial e alegre que a desse jantar, não obstante a nacionalidade diversa dos companheiros, todos perfeitamente igualados, como irmãos.
Antes de terminar o jantar o hoteleiro se levantou e proferiu longo discurso de saudação (traduzido por Mr. Hargreaves) no qual ele se congratulava, primeiro, com a “Expedição”, pela sua chegada a são e a salvo da viagem, depois consigo mesmo, por ter sido o primeiro na província a ter o prazer de apresentar-nos os votos de boas vindas, o que, de fato, ele fazia de coração, em nome de toda Antonina, desejando o melhor à expedição pela obra importante que se encarregara de empreender.
O capitão Palm respondeu com pertinência, outros falaram a seguir e, quando deu meia noite, ainda permanecíamos sentados em torno da mesa festiva. Mas isso era natural, pois na ocasião Antonina homenageava a expedição por intermédio do Sr. Pascoal e dois acólitos seus, e também se despedia dos membros do III e do IV grupos, que deveriam partir as três da manhã com destino a Paranaguá.
(...)

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