"Vista Geral de Antonina,1872", aquarela sobre papel de William Lloyd, 11 x 34 cm (duas folhas coladas), Liga Ambiental, Curitiba; |
Um breve resumo de jornal (ver aqui) nos dá uma ideia de como era a
Deitada-abeira-do-mar há 163 anos atrás.
Na década de 1850, a Villa de Antonina (não mais a Villa
Antonina) tinha 4160 habitantes. Destes, 2092 homens e 2062 mulheres. A maioria é jovem: 2410 tem menos de 21 anos. 1168 habitantes têm entre 20 e 40
anos e 582 são mais velhos. Em 1853, segundo este censo, houveram 248
nascimentos e 102 enterros, sem precisar a idade. Trata-se, portanto, de uma comunidade
com predomínio de jovens e crianças.
Dos seus habitantes, o censo consta com 2664 brancos, 604
mulatos e pardos e 892 pretos. O total de escravos é de 838, o que representa
20% do total da população. Não temos dados a partir destes para ver como era distribuída
a posse destes escravos.
Esta população estava espalhada por 12 quarteirões, que eram
os bairros a partir dos quais se fazia o censo. Estes quarteirões eram: 1) a vila;
2) a estrada da vila para a capital (a saída da cidade, no caso desde o fim do
morro do bom brinquedo até alguma altura da estrada da graciosa); 3) estrada da
vila para Porto De Cima; 4). No rio de são João até as Carniças (porto das
carniças); 5) Saquarema; 6) Registro (foz do Nhundiaquara); 7) Faisqueira; 8)
rio do Serro (Cedro?); 9) Cachoeira; 10) Cacatu; 11) novamente na Faisqueira; 12)
Nhundiaquara.
Não temos ideia (o texto não indica) quantos fogos existiam
em cada quarteirão. O “fogo”, unidade básica do Brasil nos primeiros séculos
eram as casas, onde moravam as pessoas.
Segundo o censo, o município tinha 48 casas de negócio. Em termos
de agropecuária, tinha 454 sítios de plantação e lavoura e 56 sítios de criação
de animais. A produção deveria ser majoritariamente de cana e mandioca. Haviam
33 engenhos de aguardente em funcionamento trabalhando com bois e 25 engenhos
movidos por agua. Além disso, havia ainda 30 olarias, que fabricavam louça,
telha e tijolo.
A luz destes dados, a sociedade capelista era fundamentalmente
agrária, produzindo como excedentes cachaça e farinha de mandioca. A mão de
obra destes engenhos era provavelmente escrava. Faltam maios dados para ir além
disso, mas comparando com outras áreas é esse o quadro que surge.
A população deveria habitar majoritariamente a zona rural,
só indo à cidade aos domingos para a missa. Nestes dias, deveria lotar a
pequena capela da colina. Neste tempo já se havia perdido o costume de se fazer
transportar em redes e liteiras, como nos tempos coloniais. As famílias vinham
em procissão, com o pai à frente, a mulher e os filhos logo depois. Encerrando
o cortejo, os escravos, que ficavam no fundo da igreja. O tamanho do cortejo
refletia a riqueza e a importância da família naquela sociedade.
Naquele tempo, era importante socialmente fazer parte das
irmandades. Na Deitada-a-beira-do-mar, existiam três: a de são Benedito, a mais
antiga, a do Pilar e a do Santíssimo Sacramento. Em geral, estas irmandades
tinham a presença de todos, sendo as pessoas mais ricas e poderosas convidadas
para cargos de direção. Eram as irmandades que faziam as festas e que
organizavam a vida da vila.
Os padres, neste tempo em que não havia separação entre Igreja
e Estado, eram funcionários públicos. Recebiam um salário do governo, a
côngrua, que mal dava para suas despesas. Complementavam seus ganhos com
contribuições recebidas das irmandades e de particulares para festas,
casamentos, batizados e funerais.
Haviam três igrejas na vila. Destas, a única que tinha
condições para missas era a matriz. A Igreja de São Benedito estava apenas
coberta. A do Bom Jesus só tinha as paredes. O cemitério do Bom Jesus era particular,
e não havia ainda recebido a benção. Provavelmente, as pessoas eram enterradas,
como o costume da época, nas igrejas. Não temos ideia como seriam e onde estão
os corpos destas pessoas. As pessoas mais ricas eram enterradas mais próximo do
altar. As outras conformavam-se com as partes menos nobre e, aos escravos, era
reservado o adro ou as partes externas.
(continua)
Grande iniciativa esse levantamento histórico da cidade, grande contribuição. Abraço!
ResponderExcluirtrabalho de formiguinha, meu caro!! Muita coisa ainda por fazer!!
ExcluirCoisa linda esta história meu irmão. Quanto as famílias que tinham escravos, eu tinha a relação delas, perdi nessas idas e vindas. Porém, pode ter certeza de uma coisa que me chamou muito a atenção, a família da minha mãe (infelizmente) era a detinha a maior parte dos escravos em Antonina.., família FONSECA. Abraços
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