O Centro e a Zona Norte visto do Corcovado (1940) |
(continua a saga dos escoteiros antoninenses no Rio, no carnaval de 1942, antes de entregarem a mensagem a Getúlio Vargas; livremente baseado nos diários do escoteiro Lydio Cabrera)
Na segunda feira os escoteiros
tiveram que passar a manhã de castigo. A punição por ter ficado tempo demais no
carnaval e entrado tarde no alojamento foi a arrumação dos quartos e dos
banheiros do Colégio Militar, onde estavam alojados. Lydio ficou arrumando
camas, mais de 90, segundo ele. Milton varreu os três alojamentos e Canário lavou
e secou os cinco banheiros. E lavaram rapidinho, por que senão não iria ter
passeio para eles.
O dia foi de passeios e caminhadas com os outros escoteiros.
Fora os cinco antoninenses, havia mais duas delegações: os escoteiros
paulistas, um grupo de 85 pessoas, que
haviam chegado de trem dias atrás, e os escoteiros gaúchos, cerca de 70
rapazes, que haviam chegado por mar no dia anterior. O grupo todo fez uma
caminhada sob sol quente da Lapa até o bondinho do Corcovado. Os cinco rapazes
lembraram-se dos de estrada, onde passaram por situações piores que aquela. O
sofrimento os fortaleceu e deu motivo de orgulho. Lydio comentou, com ironia, que os escoteiros
gaúchos e paulistas que estavam com eles na caminhada só assim puderam ter uma
pálida ideia do que era caminhar durante quarenta e quatro dias.
Apesar do sol quente, os rapazes chegaram finalmente ao
Corcovado. Subiram para apreciar a
paisagem. De lá de cima, os cinco se extasiaram com a imensa vista. Morrendo de sede, eles se fartaram de tomar
refrigerantes no barzinho lá no alto, segundo as anotações de Lydio. A vista
imponente maravilhou os rapazes. Lydio comentou sobre a baia de Guanabara,
descreveu as ilhas todas. Do outro lado, ficou impressionado com o tamanho do
Oceano. Notou também a lagoa Rodrigo de Freitas, que descreveu como bonita e
cheia de barcos de recreio. As fotos da época da estada dos rapazes no Rio deve
ter sido similar as fotos que temos hoje disponíveis na internet. Nele, pode-se ver uma cidade já grande, com
avenidas sendo construidas e prédios sendo erguidos no centro e na zona sul.
foto de Peter Fuss - 1938 |
Era uma cidade sendo reprojetada. A preocupação nesta época,
era com obras de mobilidade e com a doutrina do higienismo, então muito em voga.
A cidade demanda por ligação entre seus eixos de crescimento, assim como requer
cuidados com a drenagem de águas pluviais e o abastecimento de água. Neste período destacam-se as obras da Avenida Getúlio Vargas que, como vimos, foi a
causa da destruição da Praça Onze, lamentada no samba do ano anterior. A
Avenida Brasil estava sendo projetada. Para melhorar e a ligação da Zona Norte
com a Zona Sul da cidade O morro de Santo Antônio estava sendo demolido. Era um
Rio em obras a cidade que os quatro escoteiros estavam vendo.
Ao voltar para o Colégio Militar, onde estavam alojados, os
rapazes ainda viram os blocos, ranchos e frevos que iam passando, indo para o
carnaval. Neste dia, entretanto, não ia ter folia. Todos voltaram nos horários
regulamentares, tomaram banho e fizeram fila para o jantar. O resto da noite
foi de conversas com os demais escoteiros que estavam por lá.
Ainda tinha um dia de carnaval....
Como se expressou Orson Welles: "It's all true", ou seria mais apropriado citar Rogério Sganzerla: "Nem tudo é verdade"? Mas o que importa é que "se non é vero... é ben trovato".
ResponderExcluirEdson: como você bem sabe, é um pouco de tudo: memorias da gente, memorias dos outros, memorias inventadas...
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