quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

UM CARNAVAL NO ESTADO NOVO - parte 2


O Centro e a Zona Norte visto do Corcovado (1940)
(continua a saga dos escoteiros antoninenses no Rio, no carnaval de 1942, antes de entregarem a mensagem a Getúlio Vargas; livremente baseado nos diários do escoteiro Lydio Cabrera) 

Na segunda feira os escoteiros tiveram que passar a manhã de castigo. A punição por ter ficado tempo demais no carnaval e entrado tarde no alojamento foi a arrumação dos quartos e dos banheiros do Colégio Militar, onde estavam alojados. Lydio ficou arrumando camas, mais de 90, segundo ele. Milton varreu os três alojamentos e Canário lavou e secou os cinco banheiros. E lavaram rapidinho, por que senão não iria ter passeio para eles.
O dia foi de passeios e caminhadas com os outros escoteiros. Fora os cinco antoninenses, havia mais duas delegações: os escoteiros paulistas, um grupo de 85 pessoas,  que haviam chegado de trem dias atrás, e os escoteiros gaúchos, cerca de 70 rapazes, que haviam chegado por mar no dia anterior. O grupo todo fez uma caminhada sob sol quente da Lapa até o bondinho do Corcovado. Os cinco rapazes lembraram-se dos de estrada, onde passaram por situações piores que aquela. O sofrimento os fortaleceu e deu motivo de orgulho.  Lydio comentou, com ironia, que os escoteiros gaúchos e paulistas que estavam com eles na caminhada só assim puderam ter uma pálida ideia do que era caminhar durante quarenta e quatro dias.
Apesar do sol quente, os rapazes chegaram finalmente ao Corcovado.  Subiram para apreciar a paisagem. De lá de cima, os cinco se extasiaram com a imensa vista.  Morrendo de sede, eles se fartaram de tomar refrigerantes no barzinho lá no alto, segundo as anotações de Lydio. A vista imponente maravilhou os rapazes. Lydio comentou sobre a baia de Guanabara, descreveu as ilhas todas. Do outro lado, ficou impressionado com o tamanho do Oceano. Notou também a lagoa Rodrigo de Freitas, que descreveu como bonita e cheia de barcos de recreio. As fotos da época da estada dos rapazes no Rio deve ter sido similar as fotos que temos hoje disponíveis na internet.  Nele, pode-se ver uma cidade já grande, com avenidas sendo construidas e prédios sendo erguidos no centro e na zona sul.

foto de Peter Fuss - 1938
Era uma cidade sendo reprojetada. A preocupação nesta época, era com obras de mobilidade e com a doutrina do higienismo, então muito em voga. A cidade demanda por ligação entre seus eixos de crescimento, assim como requer cuidados com a drenagem de águas pluviais e o abastecimento de água. Neste período destacam-se as obras da Avenida Getúlio Vargas que, como vimos, foi a causa da destruição da Praça Onze, lamentada no samba do ano anterior. A Avenida Brasil estava sendo projetada. Para melhorar e a ligação da Zona Norte com a Zona Sul da cidade O morro de Santo Antônio estava sendo demolido. Era um Rio em obras a cidade que os quatro escoteiros estavam vendo.
Ao voltar para o Colégio Militar, onde estavam alojados, os rapazes ainda viram os blocos, ranchos e frevos que iam passando, indo para o carnaval. Neste dia, entretanto, não ia ter folia. Todos voltaram nos horários regulamentares, tomaram banho e fizeram fila para o jantar. O resto da noite foi de conversas com os demais escoteiros que estavam por lá.


Ainda tinha um dia de carnaval....

2 comentários:

  1. Como se expressou Orson Welles: "It's all true", ou seria mais apropriado citar Rogério Sganzerla: "Nem tudo é verdade"? Mas o que importa é que "se non é vero... é ben trovato".

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    1. Edson: como você bem sabe, é um pouco de tudo: memorias da gente, memorias dos outros, memorias inventadas...

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