a praia do Leblon, com o Morro Dois Irmãos ao fundo, no sábado passado |
Antes da gripe que me pegou esta semana, estive numa viagem
a trabalho ao Rio de Janeiro, cidade que não visitava há décadas. “viagem a
trabalho? Não existe isso de viagem a trabalho para o Rio!”, contestaram alguns
amigos. Sim, não há, é quase uma incompatibilidade em termos. De fato, minha
esposa foi apresentar um trabalho cientifico num simpósio dobre educação
não-formal em museus, e que ocorreu no MAST, o museu de astronomia do Rio, no
estranho bairro de São Cristóvão.
Pra não dizer que não fiz nada, visitei diversos arquivos
onde estou à cata de documentos para algumas pesquisas que estou fazendo. E, já
livre dessa carga, flanei pelas ruas do centro do Rio. Andei
despreocupadamente, como há muito tempo não andava, olhando e olhando, que é o
papel de todo turista, acidental ou não.
Realmente o Rio é uma cidade Maravilhosa. Isso, claro, não o
exclui dos contrastes sociais, que fazem uma cidade partida em duas pelo maciço
da tijuca, a zona norte, pobre e operária, e a pujante e aristocrática zona
sul, com seus bairros símbolo, como Copacabana e Ipanema. Mas o fato é que,
para além deste apartheid social – e
por causa dele também – o Rio foi durante dois séculos nossa capital.
Isso se reflete na grandiosidade da arquitetura, desde a
colonial até a neoclássica, e o nome das coisas: Arquivo nacional, parque
Nacional, Central do Brasil. Ali tudo foi realmente central. No meio de tudo
isso, os cariocas e seu jeito folgado, bom vivant, sem stress. Por mais que o
cara seja um sujeito que rale o tempo todo, é melhor ser alegre que ser triste numa
cidade onde o cenário é uma beleza que a natureza criou, só pra ficar nos
sambas que imortalizaram a cidade.
No metrô, um metro apresentável e bem limpinho, somos
saudados com alguns acordes de bossa nova antes da locutora anunciar a próxima
estação. “nexti stopi, Ishtácio”, anuncia a garota (de Ipanema?) no interior do
carro lotado. Um metro lotado, caro – no Brasil os metros são caros – mas este
metro é bossa nova, o que faz toda a diferença.
Por outro lado, a cidade está um canteiro de obras.
Diferente de são Paulo, que está sempre em obras, o Rio dos últimos anos está
se reinventando com a indústria do
petróleo. Cortei o cabelo num salão perto do Catete, onde estava hospedado, e o
cabeleireiro ficou tempos e tempos falando dos seus fregueses de empresas de
petróleo que estão vindo para o Rio.
Outra coisa que me deixa contente foi ver, pelas ruas, a
campanha de Marcelo Freixo, do PSOL. Apesar de não simpatizar muito com o PSOL,
Freixo é uma das melhores coisas que aconteceram recentemente na nossa
politica, tão pragmática e afastada das ruas. Um cara vertical, corajoso, que
conversa com todos e tem muita clareza do que é a gestão publica. Um luxo
carioca ter uma pessoa desta envergadura moral pleiteando a caneta que assina o
diário Oficial da cidade.
Mas, e sempre tem que ter um “mas”, pegamos uma semana muito
fria. Fez 17 oC , e algumas peruas da zona sul tiraram do armário
suas peles, tipo algumas velhinhas que vemos na rua XV de vez em quando. Um
vento frio e uma neblina castigaram a cidade. Meu amigo Mauro Geraldes, que nos
hospedou no final de semana nos lembrou da canção de Adriana Calcanhoto,
dizendo que o inverno no Leblon era quase glacial. Fomos tomar uma cerveja
perto do canal que separa o Leblon de Ipanema, e concluímos que ela estava
certa em sua definição.
Ao dar adeus ao Rio, uma certeza: Continua lindo. Outra
certeza: Voltaremos.
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