Uma bela foto, mostrando a Praça Rio Branco, a atual Praça Romildo
Gonçalves Pereira, lá pelos anos 20 do seculo passado. Segundo Ermelino de Leão, essa área era conhecida como “cais”,
ou “aterrado”. Foi nessa área, próximo da antiga rua da praia, a atual Marquês do
Herval, que deve ter-se iniciado o aterro da praça. Devia ser uma área de
praia, isto é, com alguma areia; as ondas viriam bater ali nas pedras onde estão
atualmente várias casas antigas e o restaurante Baía Bonita. A praia terminava
na ponta da Califórnia, acidente geográfico desaparecido com a construção do armazém
do Macedo, que hoje é o casarão em ruinas no fim da rua.
Quase todos os terrenos do lado do mar na rua Direita, a
atual XV, chegavam até o mar. Não é de se espantar que fosse aí que se
localizaram diversas empresas de exportação e importação, as quais construíram diversos
trapiches que se podem ver em outras fotos. A atual praça deve ser do inicio do
século XX, pois é citada por Ermelino em sua obra “Antonina Factos e Homens”, de 1918. O que se exportava então: nessa época,
principalmente erva mate. Importava-se quase tudo.
A foto mostra as diversas casas ao redor da praça. Algumas bem
grandes, como o casarão onde atualmente é a Associação dos Funcionários
Públicos. Trata-se de um prédio grande, que rivaliza com os grandes casarões da
rua Direita que podem ser vistos ao fundo da foto. Outra casa grande fica à esquerda na foto, onde se pode ler que a casa é a sede da firma Guimaraes e Cia.
As restantes são casas pequenas, com duas ou três aguas. Das demais casas, somente
uma apresenta platibanda, situada na parte esquerda da foto, com uma decoração
de jarros.
Além das casas, a natureza toma conta do resto: as três árvores
na frente, as duas belíssimas palmeiras imperiais na parte esquerda e os morros
do outro lado da baia compõe o cenário. Note-se que a praça é coberta de mato,
e muito mato. Devia ser usada para os cavalos e burros do transporte de carga
pastarem. Na rua, pode se ver aqui e ali algumas pessoas andando de paletó e chapéu
e outras em manga de camisa trabalhando, provavelmente carregando alguma carga
ou mercadoria.
Eu conheci essa praça com o nome de Feira-mar, pois o
prefeito da época, em 1969, Romildo Gonçalves Pereira, colocou saibro e fez uma
grande exposição feira de diversos produtos, a tal Feira-mar. Depois dele, nos
tempos de Joubert Gonzaga Vieira, a praça virou praça e tomou o seu atual nome.
Durante algum tempo, a praça da Feira-mar foi lugar dos namorados anônimos. “Foram pra Feira-mar!”
e péquete! A guria ficava mal falada. Ser vista na Feira-mar de noite era uma temeridade. No entanto, era também uma possibilidade remota, dada a precariedade da iluminação de então.
Hoje, ela é a praça onde o pessoal vai tomar cerveja no fim
de tarde, onde bate um vento bom vindo do mar. Nas festas, o pessoal deita ali
de manhã e curte suas ressacas enquanto o sol não fica alto. E, também onde a
turma do litro bate ponto, faça chuva ou faça sol, pra desespero das pessoas sérias.
Bobagem. A turma do litro, na verdade, é a versão Cracolândia dos bagrinhos – você
desmancha ela aqui, ela surge ali adiante, quase como se fosse possível apanhar
o ar com as mãos. Quem já viu a cracolândia de São Paulo ou de outras grandes
cidades sabe do que estou falando. Nem sei qual seria o problema ou a solução,
mas repressão pura e simples realmente não funciona.
Enquanto isso, o velho Aterrado segue cheio de histórias pra
contar.
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