A estrada de Guapiara a Apiaí hoje; foi por ela que os escoteiros passaram em dezembro de 1941; |
(Para Salvador dos Santos Picanço, o maior incentivador para que eu escrevesse/reescrevesse esta historia)
Era sete horas da manhã quando os escoteiros se puseram na
estrada, deixando Apiaí para trás .
Agora eles andavam por uma rodovia movimentada, e não mais
numa estrada secundaria no meio do nada. Ao contraio do Vale da Ribeira no
trecho paranaense, o tráfego de automóveis e ônibus ali era intenso. Volta e
meia passava um carro ou ônibus e levantavam muita poeira, as vezes quase impedindo-os
de enxergar claramente à frente.
A fina poeira do planalto de Apiaí era constantemente
sacudida pelos carros da Viação Pássaro Azul e do expresso Paraná/São Paulo. Os
ônibus da Viação Cometa também passavam. A poeira e o calor eram muito fortes.
Ao meio dia, os rapazes pararam para descansar e comer um pouco. Almoçaram o
farnel que traziam, resultado da noite anterior: costela de porco assada, pão e
café.
Durante a caminhada eles continuamente assoviavam canções escoteiras,
em geral dobrados que eram executados pela banda dos escoteiros, lá em Antonina. Era uma forma de passar o tempo, e superar o cansaço da viagem. Assim, iam
alegremente a frente, cantando suas canções prediletas.
Quando as dificuldades e o cansaço surgiam, Lídio nos diz
que eles procuravam lembrar-se da 8ª lei do escoteiro: “o escoteiro é alegre e sorri nas dificuldades”. Com estes
pensamentos em mente, e ritmados pelo som dos dobrados da sua banda, os meninos
atravessaram os morros do planalto de Apiaí durante todo o dia.
Ao final do dia, estavam chegando na povoação de Banhado
Grande. Banhado Grande era muito pequena, uma povoação à beira da estrada e composta por 9 casas de madeira, bem conservadas. Os rapazes procuraram pouso por ali. O inspetor de quarteirão da povoação os colocou numa velha casa abandonada.
Foi um alivio, ter um teto para dormir!
Antes de se acomodarem, porém, os rapazes viram uma
cerimonia de casamento celebrado na vila, e que os impressionou a todos. Lídio
nos conta que o noivo chegou montado num belo cavalo negro, acompanhado de uma
guarda de honra. A seguir, a noiva chegou numa carroça puxada por dois cavalos,
toda enfeitada de flores. Atrás da carroça da noiva, vinha outra carroça enfeitada
de flores com as damas. As damas estavam todas vestidas de branco, o que fez um
belo contraste com as cores da paisagem.
Na casa do inspetor de quarteirão, onde seria celebrada a cerimonia,
estavam aguardando os noivos o juiz de paz e o escrivão de Apiaí. A cerimônia
foi celebrada, como de praxe. Na saída da cerimonia, em vez do tradicional
arroz, os homens sacaram de seus revólveres e atiraram para o alto, em grande
algazarra. Uma barragem de fogos também ocorreu, ensurdecendo a todos. Lídio
notou que o foguetório assustou os animais.
Findo o casamento, o inspetor de quarteirão ofereceu uma
janta aos rapazes, que estavam bastante impressionados com a cerimonia que
haviam assistido. Durante a a jante, ele perguntou ao Inspetor sobre os
caminhos que deveriam seguir nos próximos dias, seus problemas e dificuldades.
E também contaram ao homem sobre a viagem e sobre os episódios que viveram até
ali.
De tanto que falou da viagem, de Antonina e dos seus familiares lá longe, Lídio nesta noite teve
dificuldade de dormir. ficou horas e horas no escuro, olhos abertos, lembrando de seus pais e familiares, lá na distante Antonina.
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