Estamos desmoronando? (tirei daqui) |
Este está sendo um mês de maio de céu azul e um pouco de
calor. O ar está seco. Não como fica em agosto ou setembro, mas está seco. As
acerolas do fundo do quintal começam a rarear. Somente conseguimos algumas com muito esforço, nos
galhos mais altos. Daqui a pouco, não haverá mais acerolas.
Estive doente um tempo. Segundo a médica que me atendeu, é
uma sinusite. Foi então que entendi porque estava tão cansado, o ar tão difícil,
a respiração difícil mesmo nos dias mais bonitos. Não é bonito estar doente.
Estive em viagem de campo quando vi as notícias do prédio que
desabou. Mais uma tragédia causada por um estado desorganizado e pela
criminalização da pobreza. Vi uma entrevista da urbanista Raquel Rolnik sobre o
caso, criticando a política habitacional brasileira, causadora desta e de
tantas tragédias.
Mas ninguém está nem aí para as tragédias. Parece que a
engrenagem dos que querem ver sangue a todo custo começa a se movimentar. Os movimentos
são previsíveis: 1) duas pessoas, ativistas que estavam no acampamento pró-Lulaem Curitiba são baleadas; 2) no mesmo acampamento, um delegado da policia federalinvade o acampamento e quebra equipamentos. A máquina de assustar e de matar,
tão cara ao imaginário dos nossos homens de bem, está à solta. Com direito a
palmas e likes.
Enquanto isso, nova tragédia se desenrola no centro velho de
São Paulo. O movimento já é conhecido do caso Marielle: as redes começam a
injuria “ad hominem” [injúria à
pessoa, e não às suas ideias ou ações]: os ocupantes são bandidos, marginais,
arruaceiros.
Um dos mortos,
Ricardo Oliveira Galvão Pinheiro, rapidamente aparece nas redes como membro do
PCC, matador de policiais, tinha extensa ficha criminal e voltou ao prédio para
recolher malas de dinheiro. Nada disso era verdade.
Será que as tragédias não podem ser vividas sem que tenham
que ser ajustadas ao roteiro destes haters?
Entre os desabrigados existem muitas pessoas de bem, pessoas
dignas. Mas, é claro, não se pode ver isso. Se estão brigando por seus direitos
com as armas do movimento popular são logo “bandidos”. Não ganhar o suficiente
para um aluguel, por mais barato que seja, é uma prova criminal. Uma ficha
corrida.
Estamos bem. Já cruzamos diversas linhas. Em novembro de 2014
os atuais homens de bem, atendendo ao apelo de Aécio Neves, a quem hoje dizem
que desprezam, começaram a obstruir e liquidar um governo legitimamente eleito.
Hoje, não se sabe quem manda mais no país, se o Supremo, o Congresso, o pífio presidente
traíra ou um juiz de primeira instância.
As linhas estão sendo cruzadas: não se respeitam eleições,
não se respeitam leis, não se respeitam instituições. Não se respeitam adversários
políticos. Um shopping de Londrina, cidade em que tenho família e que tanto
gosto, abriga um stand de tiro cujos alvos são os ex-presidentes Lula e Dilma.
Crianças aprendem a odiar. Sabemos o fim disso, não é, Adolfo?
Estamos em maio. O clima anuncia chuvas e trovoadas, apesar
do tempo seco que se anuncia. O ódio se alastra. Pessoas de bem são mais uma
vez usadas como bucha de canhão de interesses excusos. Alegremente, postam
absurdos, xingam, desrespeitam. Por enquanto, e só por enquanto, alguns
arriscam um tirinho aqui e ali.
É a democracia a brasileira encontrando seu caminho de
Damasco?
O momento da nossa História que estamos vivendo já foi vivido por nós mesmos há alguns atrás e por outros povos também, em diferentes épocas.
ResponderExcluirA questão, meu caro Edson, é se como farsa ou como tragédia
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