Estive pensando em quantos homens leem o título de
alguma notícia nos jornais e redes sobre este assunto e logo passam para a notícia
seguinte: “isso não me diz respeito!”.
Até quando vamos agir assim?
Vivemos num país fundado sobre o estupro. Foi um país cujo
avanço “civilizacional” se deu no estupro cotidiano de mulheres escravizadas e
submetidas já fazem quinhentos anos. Um país onde os “homens bons” tinham o
direito sobre suas esposas e pelas demais mulheres da casa. Aliás, a maior
parte dos estupros acontece entre pessoas que se conhecem – no Brasil, seria
68% dos casos (ver aqui).
Somos um país onde o estupro por parte de parentes ocorre no
cotidiano das famílias, mas que nunca vem à tona por repressão e vergonha. Ou o
estupro se dá dentro do casamento, o estupro marital, ou o estupro como um “direito”
do homem em relação à sua mulher. Tudo dentro de quatro paredes, tudo amparado
pelos “costumes”. O que acontece em casa em casa deve ficar, não é assim que a
gente pensa e diz? Quantos casos de estupro ficam assim impunes?
O estupro tem uma característica perversa: em geral, a culpa
é da vítima. Ora a vitima bebeu demais , ora está com roupa provocativa, ora
deu mole, ou deu bola, ou qualquer bobagem do tipo. São frases que tipificam mais quem as diz, como foi a frase infeliz (mais uma!) do Cantor Lobão (ver aqui). A culpa é da vítima. É a vitima que sente
vergonha, é a vitima que tem que esconder. Por isso, tão poucas mulheres fazem
queixa do estupro que sofreram.
Esta perversidade também se revela no estupro como castigo:
um exército invasor estupra as mulheres das zonas invadidas. Nas guerras
modernas, as mulheres capturadas nas zonas de conflito são convertidas em
escravas sexuais, como foi na Bósnia, como atualmente é na Síria/Iraque com o
ISIS. Não por acaso, durante a guerra civil na Líbia, Muammar Gadaffi, antes de
ser morto foi estuprado pelos seus captores como símbolo de sua “desonra”.
Com isso chegamos à questão da “Cultura do Estupro”, como
vem se referindo a imprensa em relação ao caso escandaloso que estamos vivendo
(quem acaba de chegar de marte leia aqui). Embora nos horrorize, não podemos
nos espantar com os comentários e a apologia do estupro feitas na web. É assim
que nós homens somos ensinados a pensar. uma frase terrivelmente infeliz é a famosa "se o estupro é inevitável, relaxa e goza". Como se a infeliz vítima fosse compartilhar do prazer doente de quem a violenta. Assim é nossa sociedade. Um dos xingamentos mais sérios que nos
fazemos não é por acaso um desonroso “vai te foder”?
Também não por acaso Jair Bolsonaro (um dos mais perversos cultores do estupro em nosso país), para humilhar a
deputada Maria do Rosário numa discussão sobre Direitos Humanos, disse que ela não merecia sequer ser estuprada (aqui). Aliás, Nicolas Sarkozi disse no passado coisa
semelhante de Ângela Merkel. No passado Paulo Maluf foi o autor da famosa "estupra, mas não mata". Houve, nos momentos mais sombrios dos atos contra
a presidenta Dilma, por si mesmos extremamente sombrios, falas insinuando
estupro.
Devemos mudar nossa cultura. Isso passa pelo respeito e
valorização da mulher, de todas as mulheres (veja mais aqui). Não importa se é na índia, na Alemanha,
na Síria, no Rio de Janeiro ou dentro de nossa casa. Nós homens temos que mudar
esta cultura. Chega de pensar que isso é um assunto “de mulher”. Chega de dar
as costas para o sofrimento de tanta gente. Chega para o acobertamento de ações
criminosas e que gera tantas vitimas, tanta gente sofrendo e, pior - sentindo uma vergonha e uma culpa que não são
merecidas.
Se não o fizermos estaremos endossando com nossa silenciosa
omissão mais esta violência.
Sim, o estupro é um assunto. E um crime. Deve ser discutido,
combatido e condenado. Por todxs.
Brilhante!
ResponderExcluirnão esquecendo do requião que perguntou para uma funcionaria ,se ela traia o marido ...saiu na midia...não é persiguição politica,quem se lembra comente aqui...
ResponderExcluiro joão pref. de Antonina tbm falou na cma : não sou mulher mas so to levando pau da oposição... ta gravado ...
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