Retrato de Dom Francisco Antônio, Príncipe da Beira (1795-1801) achei aqui |
Parece muito estranho. O que este fundo de baía, cercada de
mangue e mato, tem a ver com um obscuro príncipe português que nunca saiu das
fraldas?
Antonina, e isso aprendemos desde cedo, foi uma homenagem ao
príncipe português Dom Francisco Antônio Pio de Bragança, filho do Príncipe D João
e da princesa Carlota Joaquina. Herdeiro do trono português, o real guri tinha
o titulo de Príncipe da Beira.
Nascido em 21 de março de 1795, o jovem príncipe, na época em
que recebeu a homenagem, ainda era um simpático pimpolho que usava fraldas. A
pintura-retrato que temos dele mostra sobretudo um menino moreno, de cabelos
encaracolados muito meigo e muito, muito pálido. Encostado na mesa, ao seu lado
uma maçã flechada. Que diabos era isso, o símbolo do amor?
Dom Francisco Antônio, no retrato, vestia uma camisa com
babados e ostentava a faixa alvirrubra que seu principesco título de príncipe da
Beira exigia. Seu olhar é triste, com olheiras profundas. Vontade de tirar o
piazinho dali e levar ele pra tomar sol na Ponta da Pita. Ou passear pelo
trapiche olhando os barcos e os urubus ao redor, pra ver se ele se animava.
Quem sabe? Uma vitaminazinha, um caldo da cana?
Enfim...
Mas Dom Antônio, nosso pueril Príncipe da Beira, nada tem a
ver conosco senão a homenagem que lhe foi prestada. A homenagem, assim, parece
um investimento para o futuro. Como a compra de um titulo de capitalização, alguém
queria receber no futuro do futuro Rei de Portugal alguma vantagem.
Posto em outros termos: o nome Antonina foi homenagem de
quem? A quem interessaria? Quem seria o puxa-saco lá daqueles tempos?
A primeira suspeita paira sobre outro Antônio, Antônio
Manuel de Melo e Castro de Mendonça, Governador Geral de São Paulo naqueles
tempos. Seu mandato, porem, começou em 28 de junho de 1797. Será que o processo
já se teria anunciado antes que este tivesse tomado posse? Se for ele, quais
seriam suas motivações?
O fato é que a homenagem ao pequeno príncipe, que seria o
futuro rei de Portugal, acabou em nada. Como acontecia com quase todos os
herdeiros do trono lusitano, os filhos mais velhos morriam muito cedo, e o
fardo de conduzir o império ultramarino português despencava nas costas dos
irmãos mais novos e mais despreparados. Dom Antônio acabou morrendo em 11 de
junho de 1801, aos seis anos de idade. Quem acabou assumindo o poder, anos
depois, foi o nosso conhecido Pedro de Alcântara.
E nós aqui? No inicio a cidade se grafava “Villa Antonina”,
assim tudo junto. Ou, a vila de Antônio. Assim encontramos toda a nossa
documentação no período colonial. Lá
pelo meio do caminho, durante a Regência e o Segundo Reinado, segundo o
inescapável Ermelino de Leão, é que se abandonou a forma antiga e se tornou
simplesmente Antonina.
Houve no passado (leia-se século XX) quem não gostasse do
nome da cidade, ou da intenção no nome. Achavam que estava no nome e na
homenagem uma explicação pelos males que a cidade atravessou nos últimos cinquenta
anos (é claro!). Acharam de procurar uma origem no grego “Antos”, flor. Vem daí
o verso “Antonina cidade das flores”, que foi pespegado em um de nossos hinos.
De suave e finíssimo olor? No meio do manguezal? Acho que este poeta tinha
problemas no nariz...
O príncipe Dom Antônio partiu cedo. O investimento feito em
sua homenagem morreu ainda em botão, mas a vila á qual emprestou o nome prosperou.
Antonina foi uma bela e futurosa cidade, cheia de riqueza, alegria, encanto e
beleza. Ainda tem tudo isso, menos a riqueza, que foi embora ao ultimo apito do
trem. Ou foi soterrada pelos sedimentos que assoreiam nossa baia.
Será que seria diferente se o nome da cidade fosse Pilar da
Graciosa? Ou Guarapirocaba? Será que o príncipe Dom Antônio, se tomasse um
caldo de cana todo dia na feira-mar, ou comesse bagre com pirão do mesmo na
praia do polacos sobreviveria e, já rei, nos faria melhores e mais felizes? É sempre
uma tentação ficar imaginando como seria nosso presente se nosso passado fosse
outro.
Mas o fato é um só: entre o mangue e o mato mora uma gente
como não tem igual, num cenário que é uma beleza que a natureza criou, como
disse o poeta (e enfatiza o geólogo). Nossa Deitada-a-beira-do-mar encanta e
encanta. Devemos nos orgulhar do que somos e do que conseguimos. Não é muito? Também
não é pouco...
Que beleza de texto! Confesso de gostaria de tê-lo escrito. Muito bom!
ResponderExcluirÔ Edson!! assim você me deixa encabulado...obrigado!!
ExcluirAntonina ou Pedronina...da no mesmo. É como o presbicito q aconteceu em uma cidade do nordeste, tal de Feliz Natal. Ninguém mais queria o nome. E mudaram para Feliz Páscoa. Abraço!
ResponderExcluirCom certeza com caldo de cana, banana e uma boa sopa de mariscos esse menino teria se tornado um viçoso Dom Tonho !!!
ResponderExcluirE um bom barreado no domingo...até me deu fome..
ExcluirO Francisco António Pio de Bragança morreu de que? Alguma doença da época? Assassinado?(Meio sinistro mas né?). Eu não consigo achar nenhum registro da morte dele.
ResponderExcluirVitimado pela Varíola. Seus irmãos também ficaram enfermos porém, somente D. Antonio o príncipe da Beira veio a Óbito, mais precisamente as 20:30, do dia 11/06/1801.
Excluirsim! O príncipe D. Francisco Antonio Pio, morreu de varíola.
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