É cedo. Alguns passarinhos e passarões já estão acordados,
fazendo um grande dum barulho aqui no parque ao lado. Vejo clarões na janela, o
desgraçado do celular toca, e eu tenho algumas tarefas a fazer antes de café da
manhã. Tarefas administrativas, mandar e-mails, convocar gente, essas coisas
que se fazem quando você vira gente grande. Ando tão ocupado que nem escrever no blog, uma de minhas cachaças prediletas eu consigo. Coisas do mundo.
Ligo o computador, ainda nem amanhece, e meu filho aparece
no Skype pra conversar. Pra ele, na Austrália, a quarta feira já terminou.
Pergunto como vai ser a quarta, ele que já viu tudo. Céu azul, calor. Bom pra
ele. Aqui está nublado, com cara de chuva o dia todo. Pelo menos já mandei meus
e-mails administrativos e posso tomar meu café.
Enquanto isso, realizo que hoje é o aniversário de nossa
querida Deitada-a-beira-do-mar. Foi nesse dia, há 216 anos atrás, que foi lida
a ata que nos emancipava politicamente. Segundo o sempre bem-vindo Ermelino,
com mostras de grande contentamento popular. Podíamos eleger câmara, fazer o
pelourinho (ora se viu? Essa parte podia ter passado), e ser donos de nosso
nariz. Não é pouco ser vila no Brasil do grande império Luso-Brasileiro.
E nesse dia desapareceu a Freguesia de N.S. do Pilar da
Graciosa. Surgiu a nova Vila Antonina, que os tempos acabariam por transformar
em Antonina só. Antonina só?
No final do século XX, no período de grande decadência econômica
da cidade, muitos se voltaram ao passado em busca de respostas para o presente
tão ruim. E não gostaram do nome da cidade, não gostaram de nosso infante patrono,
o breve príncipe Dom Antonio, não gostaram de nada. Quem gosta de algo se está
amargando tempos difíceis?
Buscou-se outras datas, supostamente mais importantes, para
ofuscar aquele velho 6 de novembro. Só duzentos anos? Queremos ter trezentos,
quatrocentos, mil anos (!), pra ter certeza de que, com muitos anos, somos
importantes. Somos alguma coisa.
Antonina foi uma cidade muito importante no século XIX e no
começo do século XX. Foi berço de inúmeras pessoas ilustres, como o cônego Manoel
Vicente, o combativo jornalista Nestor e Castro e o poeta popular Bento Cego. Cito
essas, entre tantas outras.
Depois, fomos ficando a margem dos caminhos, a margem da
economia e a margem da historia. Não é fácil sentir-se assim. Assim como Goiás
Velho, Paraty, São Luiz do Paraitinga, a Deitada-a-beira-do-mar é hoje um lugar
à margem. Mas é aí, junto com essas outras perolas do passado brasileiro que
está nossa glória.
A antiga Freguesia de N.S. do Pilar quer seu quinhão. Foi
agraciada, não sem mérito, no PAC das cidades históricas, teve seu centro
tombado. Agora, trata-se de recuperar seu passado, sua história, da qual nos
orgulhamos mas não conhecemos bem. O 6 de novembro foi só o começo. Hoje,
queremos muito mais. Queremos Antonina por inteiro, cidade, memória e história,
para todos os que, nascidos entre o Rio Sapitanduva e a Ilha de Guamiranga ou
não, amamos de paixão esse pequeno pedaço do planeta.
Feliz aniversário, Capela!!
A Deitada-a-beira-do-mar precisa desenvolver o turismo. Tenho estado lá com meus alunos de Geografia e de História, eles ficam encantados com a cidade e muitos, a maioria, não conheciam a cidade.
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