(Mais um crônica antiga, publicada no Bacucu com Farinha - aqui, com os comentários publicados à época - em novembro de 2008 ; Querido Neutinho, será que esse absurdo continua na Deitada-a-beira-do-mar?)
Uma das coisas mais repugnantes que existem é o abuso sexual de crianças e adolescentes. Por noticias que tive de amigos, o problema em Antonina, que sempre existiu, está atingindo proporções alarmantes. Miséria, falta de educação, de perspectivas de vida, tudo contribui para ambiente no qual o abuso vai ocorrer. O que, é claro, que não impede que o abuso ocorra em situações diferentes, e mesmo em famílias abastadas. Nestes casos é praticamente impossível punir os abusadores, uma vez que a própria família, por medo ou vergonha, acaba por proteger o abusador.
Segundo as pessoas que trabalham com vítimas de abuso sexual, o ato em si não é tudo: o pior e mais execrável é a seqüela psicológica. O abusado jamais se perdoa - ele se culpa e destrói tudo que vier pra fazê-lo feliz. É um ser humano incompleto. Por isso são vitimas fáceis da bebida, da droga, da prostituição.
Alem do abuso que ocorre dentro de casa, existem em Antonina grupos “organizados’ para perpetrar estas barbaridades. Em nossa orla, existem muitas pessoas que já vêm de Curitiba preparadas. Com doces, balas, pequenas quantias em dinheiro, as crianças são facilmente atraídas para as suas pocilgas. Os malacos levam muita bebida,vão sem as famílias. O processo se inicia com a criança se oferecendo pra varrer,limpar. Elas vão, depois se submetem, fazem os favores por 5 reais.
Os pais sabem do abuso não querem que ninguém se meta. Por vergonha, ou mesmo por receber vantagens (que vantagens, meu Deus?) nesse horrível comércio, quem deveria zelar se omite, e mesmo protege os abusadores. Por isso o Conselho Tutelar é inoperante na maior parte destes casos.
Esse é o caldo de cultura em que prolifera a prostituição infantil e juvenil, tanto de meninas quanto de meninos. Uma cultura onde a gravidez precoce é cada vez mais comum. Onde as drogas, principalmente as drogas baratas, como o crack, vicejam e se espalham como incêndio em capim seco, incontrolável. Onde pessoas como eu, você, nossos filhos ou netos, são arrastadas para o ralo, para a máquina de moer da sociedade, sem nenhuma chance de defesa. Pior, sem nenhuma piedade.
O que fazer? Tudo, ou quase nada. Participar como voluntário das ações do Conselho Tutelar ou da Pastoral da Criança, como tantos abnegados já vem fazendo há muitos anos. Criar novas oportunidades para estas crianças, através da arte ou do esporte, como o exemplo de Nite, publicado aqui no Bacucú com Farinha. Devemos denunciar as ações que levam ao abuso. Cobrar das instituições e autoridades políticas públicas de inserção social para as populações mais carentes. Punir a corrupção e os corruptos. Cobrar educação, educação, educação e educação. Só ela nos salva. Educação de qualidade para nossas crianças. E me perdoem o clichê, mas salvar o futuro de uma criança vale um passaporte para o paraíso. Onde quer que o paraíso esteja. Tomara que seja neste mundo mesmo, ali na Deitada-a-beira-do-mar....
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