O Albergue da Boa Vontade e sua arquitetura revolucionária...mas os rapazes queriam era pular o muro e dar no pé! |
(Estamos no mês de janeiro de 1942. Enquanto o mundo está em
Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de
Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, percorreram 1250 quilômetros numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro
para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 1º de fevereiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) estão angustiados no Albergue da Boa Vontade, na Zona Portuária do Rio.)
No domingo, 1º de fevereiro de 1940, os escoteiros antoninenses acordaram do
mesmo jeito. De manhã bem cedo, um funcionário chegava nos alojamentos batendo palmas para eles acordarem, outro pegando
as roupas de dormir no saco. Todos arrumando as camas e saindo em fila para
tomar o café. No entanto, aquele dia havia uma novidade: foi servido café cm
leite em vez de só café preto.
Lydio, Canário, Manduca e Milton aproveitaram para conhecer melhor o Albergue. O Albergue da Boa
Vontade havia sido criado justamente para exercer estes papéis de controle da
população mais pobre que chegava ao Rio. Não à toa, o Albergue sempre estava citado
nas páginas policiais dos jornais do Rio.
Seu prédio, que era um dos melhores exemplos de arquitetura
moderna para funções sociais no Rio de Janeiro.
O Albergue foi um projeto do alemão Affonso Eduardo Reidy e do
campineiro Gerson Pompeu Pinheiro, ambos na época jovens arquitetos. O projeto
foi vencedor de um concurso em 1931, mas só em 1937 estava definitivamente
instalado.
Era uma obra muito avançada para a época, um verdadeiro
marco da Arquitetura de Habitação social no Brasil. Segundo os arquitetos que
estudaram o projeto de Reydy e Maciel, o projeto tinha preocupações
higienistas. A ventilação e a insolação eram cuidadosamente pensadas para
tornar o ambiente são e evitar a propagação de doenças infectocontagiosas.
Havia também uma ala feminina e uma ala infantil, mas ao que parece os rapazes
não prestaram atenção nelas. Eles queriam era sair dali.
Eles bem que tentaram sair do Albergue para passear, mas o
guardinha não deixou. E aquilo exasperou os rapazes. Como iam fazer, presos ali
naquele lugar cheio de higiene e vozes de comando? Nada disso. Acabaram por
pular o muro alto do Albergue. Ali era perto do cais do porto, e os rapazes
foram lá procurar o que comer. Depois de toda a gororoba do Albergue, acharam uma
comida gostosa no bar de um português bem camarada.
Os quatro, sem chefe Beto, que estava isolado na enfermaria
com sarna, eles estavam com medo de se perder. Porém, acham o prédio do moinho
Inglês, que eles tinham tomada como referência, e puderam voltar ao albergue.
Mas o domingo era monótono e difícil de passar para os
meninos. Eles queriam rua. Foram tentar sair, mas agora se deram bem. O
guardinha da tarde era mais amigável e permitiu que eles saíssem. Desta vez,
eles não se arriscaram muito e ficaram ali nas imediações da praça da Harmonia.
Ali eles puderam ver o desfile de carros em marcha lenta. Os
“boys” da cidade ficavam andando pra cá e pra lá de carro, conduzindo
belíssimas garotas, segundo anota Lydio em seu diário. De vez em quando, um
bonde velho passava chiando nos trilhos, cheio de passageiros fazendo barulho.
E os banhistas que retornavam ara casa, depois de um refrescante banho de mar.
À noite, tiveram que entrar, tomar banho frio, etc.
Que dura a vida dos rapazes!
Domingo, no Rio de Janeiro, ficar preso em um albergue? Nem pensar.
ResponderExcluirSó pulando o muro mesmo...
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