O Colégio Militar do Rio de Janeiro, em São Cristovão, onde os escoteiros ficaram alojados em fevereiro de 1942 |
(Estamos no mês de fevereiro de 1942. Enquanto o mundo está em
Guerra e o Brasil segue sob a Ditadura do Estado Novo, cinco escoteiros de
Antonina (PR), entre 15 e 18 anos, percorreram 1250 quilômetros numa marcha a pé rumo ao Rio de Janeiro
para entregar uma mensagem para Getúlio Vargas. No episódio de hoje, 12 de fevereiro de 1942, Beto, Milton, Lydio, Antônio (Canário) e Manoel (Manduca) finalmente se mudam para o Colegio Militar do Rio, em companhia de outros escoteiros paulistas.)
No dia seguinte, os cinco escoteiros de Antonina tinham uma
missão. Não, ainda não era entregar a mensagem a Getúlio Vargas. Incorporados
aos escoteiros da tropa Santos Dumont, chefiada por seu hospedeiro, o gentil
Chefe Pires, eles foram logo cedo na Estação Pedro II recepcionar a tropa de escoteiros
que estavam vindo de trem de São Paulo.
Era uma delegação de 80 escoteiros e dez chefes,
representando a Federação Paulista de escoteiros, que vinham – olha só! - entregar
uma mensagem ao presidente.
Logo as sete da manhã estavam todos eles na estação, todos
uniformizados para receber os colegas escoteiros, provenientes de São Paulo e
de diversas outras cidades do interior paulista. A delegação era chefiada pelo
chefe Carmine Espósito.
Com a chegada dos escoteiros paulistas, a sorte dos cinco
rapazes mudou outra vez. Uma ordem do major Rolim incorporou os escoteiros
antoninenses aos escoteiros paulistas recém-chegados. Agora sim eles poderiam
ficar – finalmente - no Colégio Militar em São Cristóvão.
Canário, chefe Beto, Lydio, Manduca e Milton foram então
para Quintino, para pegar as coisas e se despedir de Chefe Pires. Segundo Lydio
nos conta foi com lagrimas que eles se despediram do chefe Pires e de sua
esposa, que lhes deram tanta acolhida e carinho. É de não se esquecer mesmo. Chefe
Pires e sua esposa trataram os rapazes com bastante cuidado, tirando-os do Albergue da Boa Vontade e dando um tratamento mais respeitoso para eles.
Mas agora a dinâmica já era outra. Já no colégio Militar,
depois do almoço eles foram em companhia do Dr João Ribeiro na cantina do Q.G.
dos escoteiros do mar. Era um estabelecimento modelar, como nos conta Lydio. A
cantina estava instalada no segundo andar, no entreposto da pesca. Lá, os próprios
escoteiros faziam plantão e trabalhavam diariamente nos serviços burocráticos
do QG.
Na entrada do prédio havia um escoteiro de plantão, para dar
informações aos recém-chegados. Na sala de administração trabalhavam cinco
escoteiros como datilógrafos, escreventes e auxiliares. Na outra sala ficava um
pequeno Museu do Escoteiro, com um escoteiro na porta para anteder aos
visitantes. E não era só isso.
Havia salas para os Pioneiros, escoteiros e Lobinhos. Estas
salas também serviam para estudos do mar. Ao final, havia ainda a sala de
artesanato, onde 19 (?) escoteiros trabalhavam como marceneiros fazendo mesas,
armários, cadeiras, estantes e bancos. Outros ainda trabalhavam com cerâmica,
reproduzindo peças de cerâmica marajoara. No térreo havia o galpão, onde
estavam alojados os barcos veleiros e canoas de todos os grupos de escoteiros
do mar da Capital da República.
Na cantina geral
estava a venda de uniformes. Tinha uniforme e utensílios para escoteiros do
mar, do ar e terrestres. Vendiam-se boinas, chapéus, bibicos, gorros de
marinheiro, sapatos, cinturões, lenços, meias, distintivos, cantis, facas, mochilas,
bornais, apitos, bastões, insígnias, barracas, bandeiras e um monte de outras coisas
que eram o objeto de desejo dos escoteiros.
Ali ainda tinha uma lanchonete, onde eram servidos doces, refrescos,
sanduiches, cafés, toddy e todo tipo de refrigerantes. Tudo atendido por três
escoteiros pioneiros. Os rapazes saíram admirados de tanta organização.
O Dr João ainda levou os rapazes para conhecer a Lapa, o
reduto boêmio da cidade. Ali era o reduto do samba e do crime, anotou Lydio. Eles
viram os cartazes nas fachadas das famosas gafieiras do bairro. Depois de lhes
mostrar a Lapa, Dr João os deixou no Colégio Militar para a janta.
Lá, eles foram cercados pelos colegas paulistas, que lhes
pediam para contar detalhes de sua grande aventura. Foi uma noite de muita
conversa...
Que organização a dos escoteiros do mar. Uma pergunta que sempre me fiz, que talvez você possa responder: por que Antonina não tem escoteiros do mar. Acho que Paranaguá também não tem.
ResponderExcluirOlha, Edson, hoje tem um grupo de escoteiros do mar em Antonina, comandados pelo nosso querido chefe Ninoca. Mas sempre ouvi que escoteiros do mar é uma tropa mais cara, que exige mais coisas que os escoteiros de terra. De todo modo, seria bom se no nosso tempo de escoteiros tivéssemos mais atividades aquáticas e não somente gramáticas, não é?
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